16 outubro 2005

Ausência

Na realidade não estavas quando eu precisava e a minha vida perdeu o roteiro habitual, isso, e mais uma porção de gente nova que acabei conhecendo, despertou nele uma duvída, poderia, alguém como ele, experimentar outra vida? Não sabemos o que significa uma nova vida, mas como eufemismo para uma "nova vida" é bem adequada, é quase um refrão, soa como uma despedida, tudo bem, aceito trocar a velha escova por uma nova, e coloco na caixa verde de recordações o álbum de fotos, os bilhetes das passagens para aquelas cidades todas, afinal nomeá-las exigiria uma outra página, aceito sem cerimônias ter que contar aos velhos amigos a mesma história, não deu, não foi, poderia, mas não foi, sem saber porque ou se há porques, viramos a página, que página, muitos livros nao sabem para onde ir, na mesma estante os cds e dvds, empilhados na caixa, sempre uma caixa, encaixota-se emoções com fita crepe e marcador, um para cada sorriso ou lágrima, nada fica de fora, já estão no teto, os telefonemas, as cartas, ou os disquetes com aqueles que não conseguiram deletar, os óculos que o tempo desfocou, a placa do primeiro carro, as horas no café da esquina, a sensação verbosa da ilusão que tanto contagia, as viagens, mais uma, a última, em julho ou setembro, para são paulo, paris ou amsterdã, a volta pra casa na estação das festas, a dificil conversa com as amigas, mais caixas na pilha desequilibrada pelos pesos disformes de uma ou outra lembrança mais aguda, ameaçam adiar a mudança, entalhes, quadros, pingentes, perfumes, mais livros, visigodos e aqueles imãs de lembrança ou de recados, tudo para caixa vermelha, azul, verde uma para cada ausência.

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