No apagar das luzes, como se fosse possível desenhar essa cena. O ano, a passagem de troca de ano, é simbólica e ritualística, nós, boboquesomos, ficamos tecendo comentários e levantando planos, para algo que é irreal, porque amanhã ou depois estaremos lá, no mesmo ritmo, contemplando a lista do que falta entregar, corrigir, rever, honrar, comprometer, sofismar, adiar, reviver, pagar loas, recordar. Mesmo assim, temos que listar as coisas que não funcionaram, e ai, voltamos a pensar na palavra dita, no tom de voz, no gesto forte que acaba agredindo ou afastando os outros, nada como uma sensata e equilbrada visita da razão: erramos quando assumimos uma verdade contra tudo e contra todos, quando o máximo que temos são convicções, interpretações e o desejo, aquele desejo construtivo que é capaz de transformar um time normal em um campeão do mundo e que faz um reserva sem expressão acordar uma cidade inteira em festas. É isso mesmo o ano foi de conquistas coletivas, conquistas de grupos não do indivíduo, sempre tinhamos a sensação de insegurança na terra, agora, no ano que passou, descobrimos por acaso que voamos em um ponto cego e que as colizões obedecem a uma loteria que não temos como antecipar ou evitar, concretamente, o crime organizado cresceu no interior de nossos presídios, nossas instituições foram aparelhadas e corrompidas, ainda não sabemos como construir o consenso que faz crescer, revivemos o voto apático no rouba mais faz, ainda agora, somos manipulados por estatísticas de governo, sem conseguir encontrar a américa profunda na beira da estrada de buracos, fomos ao espaço, é lamentável mas é verdade, mandamos dólares para o paraiso estrelar e isso é motivo de glória, afinal da bolivia a estação lunar somos todos movidos a gás , pequeno mundo da provincia ainda se amplia na voz popular sem mágoas, bolsa para a familia e cotas para a vergonha, sinecuras, prebendas, clientelismos, fisiologia da vida, mesmo assim bernadinhos ainda levantam a moral que dificilmente acredita no que viu, sim, temos um vencedor, mais uma vez, um grupo vencedor, uma ira divina que corta, saca, defende, passa, amplifica a vontade de cravar no chão a bola e levantar a dignidade de um projeto de nação, meu irmão, o ano das tuas dificuldades não foram estatizadas, ainda privatizam apenas a dor, quando deveriam privatizar aeroportos eanacs, e condenam a esperança, mas acabou o ano, a vida continua e agora, na terra dos campeões do mundo, sabemos, e como sabemos, que não há ilusão, e a grande conquista é preservar valores e a ética, essa teimosia de quem sonha, sem retórica, afinal tudo que temos está por conquistar.