11 dezembro 2005

os pares

"Quem eu sou, sei eu..." (Quixote)
Certamente, não, não sei, sei que move o chão o que avisa das tormentas, daquelas impossíveis aberrações que só vislubram os que bebem ou sonham, ou os que, loucos, desvariam na manhã do dia que nunca chega, aqueles que não se alinham com uma só paisagem e que, perambuladamente, insistem em rever os olhos dos que olham, precisamente vagos como a nuvem que projeta sombras. Noite de sonhos ou insone, noite de barulhos e de expectativas, que ainda não tem uma inclinação para o nascente, noite de inquieta, pasmaceiradamente, valentia dos que berram o grito do rol de afazeres, das palavras que nao foram, sofridamente, iniciadas ou pronunciadas ou malditas, palavras que nao foram à festa que se avizinha ou que aqueceram a lingua, palavras de meu algoz notívago mal dormido sono, dias de vinha, dias que nao vinhas, dias de camaleônico sono, vira noite, vira dia, fianda do dia f de paul, miliário, maria-mole na areia branca do riacho, nascente do dia da água corrente do mar que, avisadamente, rebenta nas costas de carnaubinhas, menino deus, azenha, usinas projetadas para um culto ao partido, sem partido, partidos, todos os que não sabem o que não sabem que eu também nao sei, seriados, sem sentido.

27 novembro 2005

termolinhas

....ainda nao sei o que vou fazer no próximo termo, para onde ir, ficar ou arriscar uma aposta numa estrada qualquer, essas e outras questões correlatas, sempre afligem os que estão longe de casa ou os que estão mudando de ciclo, nunca teremos como encontrar uma resposta satisfatória, temos que ponderar circunstâncias e equilibra-las com os que ficam ou com os que fazem parte desse processo, os que ficam e importam ou os que se importam se vamos ou não, ou ainda, aqueles que verdadeiramente são parte da nossa vida. Particularmente, há uma série de fatores, novos arranjos, novos contatos, a possibilidade de auto-renovar a mobilia e a possibilidade da estante, os armários, os recados na rede, e o conhecimento do que somos a partir de um distanciamento qualquer dos que, de certa forma, já definiram o que somos, pela acomodacao dos contatos, nem sempre renovados em sentido profundo, ou pelo estigma que compatimentaliza a essência para poder controlar a expectativa ou algo do gênero, particularmente, alegra-me a possibilidade de ficar livre dessas previsibilidades que, por nao está em nós, e sim no outro, sempre nos aprisiona no mesmo lugar, lugar indefinido e que não obedece a leis da física, mas que nos fazem, as previsibilidades, gravitar, diz-se de quem é oprimido por uma força latente que não entendemos, ao redor de uma linha de ação e de sensações que não sao exatamente as nossas, mas que reside ou na falta ou no excesso de empatia com os outros. Depois, temos, ainda, mais um, que deslindar os custos, perde-se a rede de contatos, os numeros de telefones ja não servem, não sabemos a qual padaria pertence o nosso café da manhã, ou onde buscar a árvore amiga no parque ou na rua da casa que não sabemos, enfim, perde-se a noção básica de referência, o costume local a cultura da gente e o olhar esquisito dos que, sem saber teu nome, balançam a cabeça quando atravessas a rua ou quando sobes no ônibus na parada próxima a teu destino, em linhas gerais, deixamos, de certa forma, de ser o que somos, afinal existe muito de nós mesmos nos outros com os quais compartilhamos risos, problemas, idéias ou encontrosparabebertodas, por isso, pela precariedade de nossas antecipações e porque sabemos que estamos protegidos em algum lugar, a mudança é um momento de ansiedade e de dúvida real, porém, é pouco provável que consigamos evitá-la completamente.

28 outubro 2005

Recolhimento

Nenhum de nós sabe o que fazer, na realidade, estamos presos numa armadilha qualquer, ficamos em paz quando esquecemos que ela existe e que o destino é uma ficção para acalmar os mais ansiosos, nada que empurre para um paroxismo contempla a verdade, afinal, o que sabemos ainda é precário, podemos antecipar dias de glória ou de tormenta com o mesmo grau de exatidão que conseguimos prever o fim dos dias, nenhum exatamente, é o nosso melhor prognóstico. Isso ocorre não para nos deixar paralisados, talvez para perturbar uma avaliação qualquer de uma trajetória, mas isso, essa postura é apenas um descuido do ócio ou uma dúvida sem sentido. Melhor recolher a página, reanimar as letras, teclar ou ler as tecladas letras na tela, do que alimentar o paroxismo, há modelos melhor desenhados para a lógica linear, outros são incoformes, distintos, seguem uma nuvem como uma cadeia de arquivos em fila, mas nenhum deles é exato ou compreensível, apenas deixam as horas ocupadas e tornam a vida surpreendentemente bela.

A Lista

Convidado para assinar uma lista de apoio ao eminente que, por acaso, também é iminente ex-mais uma posição na hierarquia paroquial, o sofrível articulista e defensor das causas nobres hesita, não poria meu nome numa lista onde no cabeçalho vai um impropério, muitas mentiras e uma vaga alegação de descaso com os atributos da defesa.
Essa peça de mal gosto é apenas uma das faltas de decoro que a atual crise impõe ao cidadão comum que alivia sua carga de apuros com muito trabalho e com um zelo precioso por valores nobres. Afinal, quais são esses tais valores? Como explicar a origem de recursos de tamanha monta ou a prática incompatível com o discurso do passado? Nada na esfera pública pode ou deve ficar sem resposta, afinal, a transparência é uma prerrogativa democrática os que são ungidos por um mandato das urnas devem, bem mais que desculpas por traições, devem um esclarecimento completo, cabal - como uma palavra, na língua presa, pode perder rapidamente o sentido - para que a opinião pública possa manifestar e usar o seu único poder que é o de optar, escolher ou des-escolher (se essa palavra pudesse ser desconstruída todos os dias, não teríamos tanta mentira ou falácia nos noticiários). No mundo de hoje, listas de apoio, também nada significam, evocam apenas a falta de compromisso com a verdade e um engajamento despudorado com grupos e com um passado de apoios fisiológicos, ou não, mesmo sem saber toda a verdade os interlocutores desconfiam que o benefício da dúvida não obedece ao critério de listas. Vergonha de uma crise que alimenta a lista de nossas mazelas e que empurra para uma obscura propaganda a verdade: não avançamos em nenhum sentido objetivo no combate aos nossos problemas e ainda estamos mais corruptos e menos transparentes.

16 outubro 2005

Ausência

Na realidade não estavas quando eu precisava e a minha vida perdeu o roteiro habitual, isso, e mais uma porção de gente nova que acabei conhecendo, despertou nele uma duvída, poderia, alguém como ele, experimentar outra vida? Não sabemos o que significa uma nova vida, mas como eufemismo para uma "nova vida" é bem adequada, é quase um refrão, soa como uma despedida, tudo bem, aceito trocar a velha escova por uma nova, e coloco na caixa verde de recordações o álbum de fotos, os bilhetes das passagens para aquelas cidades todas, afinal nomeá-las exigiria uma outra página, aceito sem cerimônias ter que contar aos velhos amigos a mesma história, não deu, não foi, poderia, mas não foi, sem saber porque ou se há porques, viramos a página, que página, muitos livros nao sabem para onde ir, na mesma estante os cds e dvds, empilhados na caixa, sempre uma caixa, encaixota-se emoções com fita crepe e marcador, um para cada sorriso ou lágrima, nada fica de fora, já estão no teto, os telefonemas, as cartas, ou os disquetes com aqueles que não conseguiram deletar, os óculos que o tempo desfocou, a placa do primeiro carro, as horas no café da esquina, a sensação verbosa da ilusão que tanto contagia, as viagens, mais uma, a última, em julho ou setembro, para são paulo, paris ou amsterdã, a volta pra casa na estação das festas, a dificil conversa com as amigas, mais caixas na pilha desequilibrada pelos pesos disformes de uma ou outra lembrança mais aguda, ameaçam adiar a mudança, entalhes, quadros, pingentes, perfumes, mais livros, visigodos e aqueles imãs de lembrança ou de recados, tudo para caixa vermelha, azul, verde uma para cada ausência.

12 outubro 2005

Marcapasso

A palavra não funciona, é desencontrada, não tem ritmo e não serve como rima, improvável, o lenhador-navegador, sonha com uma volta nos braços do polvo, tentáculos e tentações não faltam, mas deixemos o barco correr, afinal, na primeira pessoa, navegar é preciso, viver, nem tanto. Essa salada mística, onde palavras banais e citações inapropriadas e equivocadas soam como sabedoria pagã, marca o prontuário e pontua a contagem regressiva. Não nos negaríamos a comentá-las, mas a volta do calor e a agitação da casa, demandam impressões mais interpessoais. Uma vaga, periodicamente, reencontra o dique, sem palavras exatas, a mesmice, a delação e a traição, compõem a cena, como se a rua ainda estivesse ativa para os oportunistas. O senhor não deve enviar recados sem assinar, afinal, temos que manter o diálogo. Diálogo, aliás, que mantém uma forte impressão belicosa, como se o outro fosse uma metástase, algo que agride e surge sem uma lógica aparente, em qualquer lugar. Não temos, portanto, controle sobre circunstâncias exogenamente definidas, mas podemos ter a consciência que não está em nós o ato de vontade que gerou ou criou a miséria humana, em certo sentido, estamos isentos e podemos como queria o senhor das vagas, "saltar para fora da possibilidade do soco" e apertar as esporas da vida com a mão firme no estribo....

01 outubro 2005

Ex-officio

  1. Em que pese os muitos afazeres, por que a escrita pública não manteve o seu ciclo?
Em dias instáveis e de valores duvidosos receio que a melhor forma de expressão seja a da tradição oral e pessoal, interpessoal, mesmo assim, continuei buscando as palavras no glossário, aquelas, que, pela sua malevolência no andar e ritmo e no falar, evocam sabores supremos e vidas possíveis, imemoráveis. Palavras precisam ser ditas sem o véu da ignorância (referência explicita ao jurisconduto) e na presença, óbvia ou não, do interlocutor.
  • 2. A eleição na câmara de um deputado de um partido sem representatividade preocupa pela precariedade que ela traduz?
Não estou convicto, mas certamente perturba o uso inescrupuloso da máquina pública para eleger um candidato chapa branca. Principalmente, no momento em que os representantes do povo, (ou seria do polvo?) estão sob suspeita de práticas nebulosas de desvio de recursos e auto-favorecimento no qual a principal fonte de recursos viria de fontes governamentais insuspeitas (diz-se de quem comanda a mesada sem sujar as mãos, apesar da falta de arrogância). Não é sensato tentar tapar o sol com a peneira (chargistas são seres supremos e conseguem traduzir o indizível) apenas para conter o processo de transparência e para, obviamente, estimular a sinecura e a sangria dos cofres da mãe Joana, não confundir com uma mãezona, zona, aliás, que não merece essa peneira.
  • 3. Certamente, esse processo já está saturado, na sua opinião para onde vamos?
Muitos adorariam ir para um paraíso fiscal cumprir as exéquias do sistema e comemorar a tríade alencariana, ar, mar e terra. Eu, indevidamente, prefiro, como o escavador, catar pregos enferrujados na rua sem saída, mas não ousaria pular o muro, visto pijamas e releio a memorialística dos modernistas, com óculos para perto de vistas fatigadas e levemente mareadas.
  • 4. Esse interlúdio atende a algum propósito?
Não pensei sobre isso ou nisso, apenas fiz uma pausa para respirar, mas, como quem antever a miserável diáspora, temia que seria o último suspiro. Agora, faço essa concessão para atender aos apelos de um amigo, aquele que vive na corte e sabe que o poder de impressão na moeda obedece a critérios rigorosos e que, ao não construir a independência, a casa pode ruir, mas não estou tão pessimista, afinal a poesia nos redime e o sonho ainda é real.
Uma última palavra.
Muito obrigado!

19 setembro 2005

Fala contida!


Na visão de Sartre o intelectual é um ser independente que não atende aos caprichos e conveniências ideológicas e/ou partidárias e que sempre busca a verdade ou confronta a verdade, imposta por sofismas ou silogismos, com os fatos. Assistimos uma crise de valores sem precedentes na nossa breve história, vemos os ícones da civilização "progressista" fugirem a um papel digno de negação da negação, vemos personagens famosos da república da esperança, re-fundando o absurdo para preservar mazelas e o poder das mazelas e do clientelismo, sinecuras são perdoadas em nome de um famoso patrimônio ético, talvez aí esteja todo o problema, essa visão patrimonialista da ética deve está na origem de todas as falcatruas. A seguir, num exercício de pura retórica, reproduz-se a fala contida de um desses intelectuais engajados que desistiram do escrutínio da verdade em nome de suas verdades pessoais inabaláveis, tanto quanto, o citado patrimônio. Trata-se de mais um exercício para tentar entender uma grave crise de valores e porque os intelectuais estão caindo em descredito.
"Nós que sempre pregavámos a luta de classes, que fomos intransigentes, que denunciávamos, que praticávamos o fora qualquer coisa, que nos auto-intitulavámos os donos da ética e da verdade, que sempre propusemos cpis e que não gostavámos de alianças com os outros, mesmo quando a menor noção de espirito democrático demandava uma coalizão, os sujos e ímpios, nós sabemos o que fomos, somos e seremos, como podemos alimentar uma sensação de alivío e harmonia e de concordia ou bom companheirismo, como podemos inspirar tantos anos de ódios como se ainda estivessemos no araguaia contra todos os burgueses e emparedados??? Certamente, [tossindo e ajeitando o óculos], nao temos saída digna, seria um ex-vita, assumir que compramos deputados, que superfaturamos contratos publicitários de estatais, que usavámos o banco do povo para estender nossos tentáculos aparelhadores, que usávamos os contratos com empresas de lixo e ônibus para montar uma rede de poder via caixa-dois, seria um suicídio político confirmar, ironia das ironias, justo agora que conseguiram pegar o ex-prefeito, que, sim, nós também enviámos dinheiro para paraísos fiscais sem, obviamente, avisar o herário que estavámos, no mínimo, sonegando, não vamos comentar também a origem dessa derrama, de onde os nobres contraventores arrumaram esse mala calvo para carregar os malotes e para laranjar na mídia? São tantos os cuidados dessa fala, que deverei, deveriámos, tergiversar, disfarçar, aliás, prática comum na tradição clientelista-populista da américa latina, nos momentos em que as provas são cabais [estranho como a globo e o ministro usam essa expressão que diz-se de algo definitivo e sem máculas] evita-se a resposta objetiva, para apoiar-se nos nobres números da economia, que se vai bem, preserva-se, se vai mal, usa-se como bode expiatório, enfim, nesse dia, nessa hora, devo dizer a essa gente sofrida, que, bem...[novo acesso de tosse, quase um escarro, o suor escorre na face], não fizemos nada e que tudo não passa de ódio de classes e preconceito, afinal temos um de nós no poder legitimo e eles, todos, a imprensa, o cidadão comum, o bispo e a esquerda da esquerda, a direita, como não, os estudantes a força e a tarefa, a globo e todos os demais jornais e opositores, têm apenas inveja e ódio do nosso sucesso, afinal nossa ética-de-ocasião é uma na oposição e bem outra na situação, sendo que, a única coisa que as coloca no mesmo diapasão é uma inescrupulosa corrida pelo poder total...Não ousaria romper essa trajetória de glórias e poder falando a verdade.... "

11 setembro 2005

Sonoridades


Agora tá o véio Lula truando lá fora!!! Caba não, mundão!!!!(Suassuna)

O velho, quem saberá dizer, será/seria o cachorro do vizinho, o do mato de dentro, ou era uma alusão ao trovão de quem passarinhava pulando nas cercanias como quem quer descobrir o destino do sol que escafedeu-se, sumiu-se, tomou escuro, trovoou? Sabe-se também que não enxergava o vivente, escutar só de sentir com o corpo no chão o trem que passava, o som tectônico, sem forma ou origem, som do prisma na sola do sapato, angulosidades da lida, querem que sucumbas trancado na casa dos tios no meio da grota, a léguas de valparaiso ou de bom despacho, quem sabe minas ou cerrado, sertão, certamente, daqueles que os hérois da época cavalgavam e onde os meninos empinavam papagaio, ou derrubavam cercas de sobras das queimadas, jogando bola na lama em dia de chuva e trovão....

03 setembro 2005

Nada a declarar


Um equilibrio instável pode sobreviver por anos sem que as forças de explosão ou implosão se manifestem, é uma ilusão a mais, acreditar que as coisas estão postas porque não mudam ou porque mudam, tanto faz, remos nao empurram a canoa se ela é pequena e o espelho dágua plano, calmo, opaco, e nao refratário ao sol do paralelo 33 ou quase, temos que exercitar um plano lógico, remaremos dos dois lados, alternadamente, e nao pensaremos naquilo que estao falando na margem oposta, caso contrário estaremos, literalmente, empurrando com a barriga ou rodopiando, [exageradamente, essa figura de linguagem nao funciona, afinal o bote salva-vidas não tem motor a combustao] funciona, porem, avaliar por que estamos a deriva ou onde estao as forcas que promovem o equilibrio, como elas se manifestam em sistemas dinamicos? Provavelmente, nao afundaremos e a travessia, como queria Diadorim ou Teobaldo, é o melhor da festa, danca da moto-serra, "o real nao se dispoe no comeco ou no fim, mas na travessia" (do Rosa em versao livre)...

30 agosto 2005

Economia do sexo


Dawkins sempre incisivo é capaz de discorrer sobre verdades absolutas e mentiras e sobre a vitoriana paisagem que oprimiu a origem das espécies, mesmo tratando de temas distantes como ética num mundo de clones, células tronco e engenharia genética e economia do sexo, isso mesmo, tem-se a impressao que tudo nao passa de uma bela história contada de uma vez só e sem vírgulas ou capítulos, mais uma vez, o capelão, reune as peças de artilharia para derrubar o charlatão que apregoa a moratória da verdade ou que entorta garfos ou faz previsões astrais sobre o destino da civilização, um a um os temas vão enchendo a página de raciocínio puro, direto, quase uma afirmação definitiva da evolução e seus intermediários, percalços nao revelados, a força esbanjadora da selecao natural, injusta, indiferente e seletiva, sem apelos piegas ao discurso antiglobalizante e excludente, blabla, ele repõe no lugar o nosso atrevimento, remar contra essa força da natureza, sem negar o monismo antepassado, para consolidar algum ideal de justiça ou de solidariedade, mesmo admitindo que "um abalo de tempos em tempos faz muito bem às nossas ortodoxias", e que o replicante egoísta é uma inexorável realidade.

27 agosto 2005

Exemplos do passado....

O ataque é a melhor defesa, como se houvesse uma estratégia ótima e óbiva sempre, infelizmente, ou felizmente, não temos essa capacidade toda de articular o que ser ou fazer em todas circunstâncias ou oportunidades, às vezes, uma postura equilibrada, discreta e de distanciamento permite dizer o que não é possível sem ter que repetir os argumentos convencionais que nos empurram para o mesmo lugar. Uma crise deveria ter esse caráter geral de renovar conviccões e não o desejo de, simplesmente, refutá-la ou afastá-la, decisões importantes deveriam esperar a manifestação do tempo e o ajuste, mínimo que seja, da noção elementar da verdade. Mesmo sabendo que é dificil ou impossível sair de cena quando a verdade nos acusa, deveríamos, principalmente quando isso tem implicações sobre a própria manifestação da verdade, abreviar nossa exposição ao cenário da crise. Essa, talvez, seja a lição não compreendida da semana, os exemplos do passado não falam de discursos e promessas, mas sim da humildade de quem procura apaziguar a noção mais elementar de justiça...

23 agosto 2005

Confissões

O mês é deles, dos leoninos, ou pelo menos, passou a ser depois da domingueira versão do juri popular. Eu também sei o que fiz e o que não fiz, confesso que, por conveniência, falarei sobre o que sei que fiz e não interessa ou causa pouco ou nenhum espanto, tenho lixo acumulado mas não cometo a usura e nem emito falsos boletins médicos, no geral, nao vou a missa, subo escadas, pego ônibus, costumava correr, mas ultimamente visito páginas, leio livros, frequento bares, bebo os meus cafes e viagens só quando um amigo lembra de citar o meu nome numa reunião de departamento, enfim, nao sou, peço desculpas, um Leão Leão, quando muito um simio de origem sub-saariana, não participo de licitações e, se sei, omito, se perguntam respondo de forma cabal e pacientemente, nego com veemência, quase com afeto, é verdade, mas na primeira pessoa, não me encontrei com o representante da bicharada, nao jogo bingo, não vou a randevous, não jogo bucaratti e, dos jogos de azar, exerço a medicina, mas, por favor, não estou aqui para praticar a auto-delação, tudo bem, confesso que fui prefeito e que meu partido tem lá suas contas felinas na baviera, cometi também alguns xerox sem autorização, algumas medidas provisórias e alimentei a caixa com os meus coetâneos, mas não vou mudar o tom só para abalar o mercado, tenho que zelar pelo bom senso econômico, afinal, minha imagem é de lingua presa e platitude modorrenta,.

20 agosto 2005

Rasteiras


Tecnicamente uma rasteira consiste em usar a perna como alavanca para entremelar os pés com o adversário e derrubá-lo, como figura de linguagem, não passa de mais uma metáfora do filho da mãe que começa a colocar em julgato a honra da própria, nós, os que fomos "alavancados", agradeceríamos um uso mais criterioso e parcimonioso delas, das metaforas e da imagem materna, mesmo porque, o recurso linguístico ou coisa que se entenda por, é bem mais amplo e complexo do que fingir que não viu ou não sabia. Na Bahia de todos os santos, ela, a rasteira, não a mãe, pode ser até uma expressão artística e um uso estético do corpo para defesa ou para o ataque, mas tudo dentro do compasso do berimbau e na forma civilizada do jogo da capoeira e do ritmo pélvico cadenciado, como nos atabaques da cidade baixa, longe, portanto, da esteriotipada rasteira do planalto. Uma dança bela e forte e uma forma de sedução, bem distinta da manifestação raivosa de apego a coisas mudanas, como o poder e a vaidade de um semi-deus.

17 agosto 2005

Descontinuidades

A mente descontinua, nas palavras de Dawkins, nao percebe que no salto evolutivo sempre há um passo intermediário e que, entre o sim e o não, há uma leve sensação de inconclusão ou indefinição. Tudo seria bem mais simples se o debate tivesse a dimensão aproximada da dúvida e da prerrogativa do não sei. Em tempos cruéis, real politik do planalto, a insensatez, mantém a sua trajetória de desenganos, antes, todos do outro lado eram culpados a priori, agora, todos os mentirosos e, incredulamente, firmes nas suas manifestações, são fartamente culpados, porém, estranhamente inocentados, poupa-se o rei nu, de suas decisões e escolhas erradas, erráticas e, o que é mais grave, acomodam a vilania da turba que sequiosamente sempre acampanhou o rei nu, descontinuamente, vemos uma instituicao aqui, outra acolá, emitir sinais claros de dois pesos e duas medidas, o que ontem era venal e um motivo para rechaçar o uso da dúvida onde nao havia provas, agora, as provas insistentemente renovadas, são usadas como motivos para a defesa cega e para renovar o sequitarismo e a intransigência, como se o ideário mínimo de justiça só fosse aplicável a uma das partes, à outra, a que nao está do nosso lado, a letra morta da lei, aos que estão do nosso lado, reis ou lobos, apenas o "justo" sinal de silêncio ou a cara pintada, com a tinta da vergonha e da miserável impunidade.

10 agosto 2005

Macarrônico, uma auto-crítica.


Uma a uma, as palavras, derretem-se e na água de lindóia, mais do mesmo, mesmo os que, caudatários, revisam a lente de contatos, visceras são expostas, tolos defendem uma mudança qualquer, mesmo que ela, a mudança, venha carregada de uma retórica saudosista de ruptura e substitucionismos, icones da idéia pop do século das trevas, ou dos "extremos", insistem em propor a queda dos juros, como se a queda representasse uma outra queda, dos neoliberais de plantão, por exemplo. Na terra dos cegos quem acusa o bacen, repele o demo, modifica o destino, como se a besta estivesse, maquinalmente, preparando a desgraca alheia. No mesmo ritual, alimentam as curvas das contas públicas, essas que os impostos deveriam conter, mas que apenas rompem mais e mais o limite do aceitável. Senil o estado deles seria, onipresentemente, quase um Caetano, de assombros miméticos, uma viúva sem regras, aboliriam a livre decência e a figura poética, licensiosidades seriam uma falta grave, uma traição revolutiocionária, bom senso e uma prática prudente com as res-públicas uma contra-cultura, condenável, execrável.
Continuo, mesmo que sem a voz do Hirschman, a busca popperiana pelo intervencionimo democrático, regulador que consegue conter a fúria da natureza e o vale tudo por dinheiro, como se as diferenças fossem irrelevantes ou indiferentemente caetanas ou sem cultura, visto de saída, banidas.

08 agosto 2005

Não há provas....

Um fantasma não corrompe, provavelmente também não existe, pelo menos não há provas, dizem que a foto ao lado é uma das "provas" existentes, reparem na mala, por falar em malas, viagens também foram feitas ao exteror. para um porto distante, um ministro, um consultor, dois assessores de ministros ou de partidos, não sabemos de quem é o Estado-evidência, mas provar não é possivel, adia-se o veredicto, milhões acuecados, manchas na auto-estima, mas provas, bem, temos que rever os empréstimos, mais uma parelha de milhões tudo por amizade, mesmo que os contratos sejam com aquela pantagruelista estatal, mampituba, sorria estão filmando o fantasma sem provas, apesar da campanha financiada com o laranjal, o emprestador não sonega, solilóquio viaja, dinheiro verbal na lista de empregos de ex-parentes, manifestadamente, mancha rural, apenas, sem cal, sem disfarce, vai ver que é mais uma desfigurada sujeira, daquelas diárias que todos acusam de ter ou carregam, menos os fantasmsas, estes estão isentos, não vociferam, não estão impedidos.

05 agosto 2005

Primicério

Ventura, a boa ventura, diz que a democracia pode dispor de liberdades consensuais no voto, não há um entendimento claro ainda, mas parece que a noção de liberdade absoluta não pode vigorar num mundo livre e apenas outra liberdade pode restringir outra liberdade e que a liberdade é o principio básico e primeiro da justica como igualdade equitativa de oportunidades do Rawls. Ainda que precário a noção elementar de eficiência economica nao é suficiente para definir uma alocação justa. Alocações justas nao precisam ser eficientes e alocações ineficientes podem ser justas, mas ainda temos que entender ou definir ou precisar (sempre precisamos apesar de imprecisamente confudirmos) o que vem a ser uma distribuição justa, será possível uma justiça ineficiente ou necessitamos de um arranjo melhor para todos que ainda assim consiga nao dispor de uma noção paretiana de eficiência??? O vasto mundo da dúvida sistêmica ou sistemática ainda nao dispõe de uma resposta inequívoca, mesmo sabendo que um tratamento mais lógico e preciso, (quem nao precisa?) demanda tempo e rigor formal....

03 agosto 2005

Pré socráticos...

Mônica, não ouso escrever sobre tema tão distante da minha consciência, apesar de uma precária alusão em um passado qualquer, sinto-me, de certa forma, um pré-bloguista e por isso e, talvez pelo medo de um anátema próximo, refugo a tentativa de consolar a curisosidade dos que perguntam o por que do nome, como se nomes carregassem um porque, no máximo eles têm um mote inicial, mas com o tempo, com a manifestação da estação primeira da mangueira eles transfiguram-se e assumem a sua real identidade, assim, quem saberá dizer o que será uma página em branco? Mesmo que estivessemos falando de um filosofo próximo a mileto que buscava a essencia das coisas e que desenvolveu uma forma solar de marcar o tempo ou que a expressão em si contenha algo de um perturbador desafio anaxial, não confundir o termo ou a expressão, pois nem tudo na vida, apesar de ubiquo, pertence ao proverbial fim do mundo. Contudo, podemos começar por uma vaga noção dos astros e por uma embrionária teoria evolucionária que o indefinido princípio remonta. Enfim, não sei o que significa, mas as palavras carregam expressão, sonoridade, parcialidade e paixão, mesmo que nao tenhamos a menor noção do que nos aguarda o destino, invarialmente, anaximandro.

01 agosto 2005

Mônica nao consegue terminar de ler meus emails, cansada, insistiu para que eu mudasse o foco, escrever no blog o que nao queremos saber ou entender. Nao sei se ela tem razao, mas nao ouso duvidar dos conselhos alheios, tomo emprestado a pagina sem dono para falar o que nao pode ser lido numa mensagem sublinar ou numa pagina séria de um matutino ou vespertino. Tenham paciencia com a fala mansa e com a falta de apocrifos ou de sinais legiveis da lingua materna, escreve-se em decubito dorsal, na transversal e, invariavelmente, fora do contexto, como quem conversa com as teimosas palavras que descem do emaranhado de redes sineticas, opacas, mimeticas e, possivelmente, pensando em como a mônica leria o kanitz do blog do s, em anaximandros...
Reencontro, ou por que raramente sabemos onde estamos? A crise política domina o debate econômico, todos querem saber como e quando a economia será contaminada. Particularmente, acredito na impossibilidade de uma e de outra saída. Não estamos, certamente, diante de um estadista daqueles que assume o que faz e preserva as instituições, regras e, ao que parece, a economia. Os movimentos pendulares apontam para um populismo de "elite", vejam como eu sou bonzinho, conheço a língua do povo porque já estive lá, sou um deles, apesar dos meus cubanos charutos e do vinho tinto da santa madre, meu chapeu é da isla e eu enterrei o papa. Doravantes, ouviremos a marcha dos todos têm culpa, afinal o caixa não é de dois, mas de todos, não adianta me acusar de comprar deputados e usar contratos de estatais superfaturados para financiar a pantomimia, estarei acima dos mortais, afinal sou de uma outra estirpe, vergado nas fimbrias da ardilosa articulacao politica, no ventre da esquerda progressista, amo as caribenhas, o pacifico e, porque nao, o atlântico, fizemos, mas quem nao fez ou farias...?