26 abril 2015

a folha, o poeta e o terron

leitor da fsp vive numa eterna barafunda, sem muitos intervalos longos, leio, por ler, desde o tempo do Edmundo Wilson e do Gore Vidal, desde os meus 15 anos, todo santo dia, leio até carta do leitor, painel e o caderno de informática, leio também os articulistas, todos, ou quase, sempre "me dão nos nervos" por excesso de trejeitos para acomodar suas convicções e defender o partido de oposição, quando esse era o PT e o da situação nos últimos 12 anos, em todos os casos sigo lendo. Agora temos o agressivo e venal Pondé, algo esnobe, opa, estou repetindo o estilo do próprio, esse e o Cony, não leio mais, agora perdemos a Cantanhede e realmente não entendo o que o Vinicius Torres faz no caderno mercado. Enfim, seguirei lendo, sem pudores, mesmo que por lá encontre coisas cruas e diretas que negam a inteligência do leitor mesmo quando querem ficar no contexto. Hoje tivemos um momento desses aqui:
"O resultado, no caso de "Sermões", adquire em certas passagens a locução de um cômico messianismo de botequim, de camaradagem entre chapas, o elogio da paudurescência em tempos contrafeitos ao livre voo do caralho." 
 Expressividade latente sem nenhum oximoro, uma bufa de estourar os tímpanos, o Nuno, autor de mais alta estima e grande, e os leitores não merecem peça tão rasa...

11 abril 2015

o erro para todos

a ideia parece muito sedutora e atraente, lançar todo programa social com o bordão final: para todos. As variantes dessa proposta são romantizadas, mas seguem o mesmo propósito, falo aqui do "mais médico" e do "minha cassa minha vida" e tantos outros 'para todos '. Esse mote, contudo, é um grande equivoco, melhor, revela um grande equivoco em relação ao desenho da política social no Brasil dos últimos anos. Comentarei aqui dois erros dessa interpretação. Antes, no entanto, é necessário qualificar a critica, chamar a politica social atual de erro é um exagero, porque sempre há espaço na sociedade brasileira para justificar o ' para todos'. Afinal, nosso Estado tem uma longa tradição de só servir a interesses privados e de patrimonialismo e de atuar para defender poucos e privilegiados, assim, o mote ' para todos' representaria um avanço nesse sentido especifico.
Então, feitas as ressalvas, por que o mote da política social no Brasil não é satisfatório? Existem muitas formas de responder essa questão, a forma Rawlsiana, a forma Seniana, a forma Roemerniana, etc. Sem entrar no mérito e conteúdo das formas, destacaria dois pontos. O primeiro a ideia não original, afinal o Banco Mundial já reproduz isso desde de 2005, por exemplo, de que acesso a um serviço público é uma forma de propiciar justiça social em um sentido efetivo. A universalização da educação, como sabemos,  não significa necessariamente que todas as crianças são atendidas da mesma forma, educação de qualidade no  Brasil nos obriga a criar um programa de gastos públicos em educação assimétrico e, de certa forma, não para todos e que fosse capaz de atender de forma adequada os mais necessitados. Isso demanda gastos maiores e desproporcionais para com os mais pobres. O discurso educação para todos mascara isso e cria a falsa sensação de avanços sociais.
O segundo ponto, não menos importante, diz respeito a ideia de efetividade e de meios e fins, sem usar os termos Senianos, o fato de, por exemplo, propiciarmos banda larga para todos não significa que estamos fazendo justiça social. Há uma incapacidade objetiva de indivíduos em dadas circunstâncias de transformar meios em fins. 
Por exemplo, o não acesso a um dado meio e, principalmente, a uma dada capacitação,  para ficarmos no exemplo da banda larga, impossibilita que o simples acesso a internet consiga melhorar a vida das pessoas. Ser bem alimentado, conseguir desempenho adequado em línguas, leituras e matemática, para ficarmos em necessidades básicas ou primárias do Rawls são cruciais para que o acesso à internet consiga se transformar em melhoria da qualidade de vida em qualquer nível.
O pensamento do "para todos", foge dessas armadilhas e cria a ilusão de justiça, quando apenas preserva o status quo de injustiças e assimetrias no Brasil. Precisamos de outro critério de justiça, mas profundo e mais humano e que produza assimetrias necessárias com viés positivo para os mais pobres socialmente falando.

05 abril 2015

A estratégia das pautas

citado na lista Janot e com longa presença em boatos de desvios de conduta ética, desde voos da FAB para exercício do próprio bem-estar até recebimentos indevidos do escândalo envolvendo a Petrobras, o atual presidente do Senado resolveu abraçar temas e pautas da oposição ou pautas não do agrado do governo da presidente Dilma que está com popularidade em extinção. 
Exemplos recentes dessa estratégia nova são a manifestação a favor da redução do número de ministérios, a favor de mudanças nas regras para escolha e indicação dos ministros do supremo e agora, a peça completa, a favor da independência do Bacen.
Em todos os casos, soa falso o engajamento com essas pautas oposicionistas de alguém tão umbilicalmente ligado ao poder estabelecido por mais de 12 anos, se contarmos o período FHC, e, aqui é necessário responsabilizar o ex-presidente FHC por ter sido o primeiro depois de Collor a acolher o Calheiros.
Essa convivência estrita com o poder permite ao presidente do Senado a capacidade de definir pautas, e de posterga-las sempre que conveniente. Assim, voltar-se somente agora para temas esquecidos ou bloqueados pela agenda do governo federal, é no mínimo surpreendente, se não for mais um ardil de sobrevivência política.
Contudo, seguramente, a falta de legitimidade do presidente do senado para conduzir essas bandeiras, mais enfraquece do que beneficia os temas colocados para debate. E, também do ponto de vista da sobrevivência política, é uma estratégia arriscada. Tanto a incoerência como a traição ao governo ficaram explicitadas e serão cobradas no seu devido tempo.