26 janeiro 2010

luminosidades



na sala a luz das cortinas fecha o arco sobre os restos do dia, memórias esperam o seu final no livro do meio, minhas lembranças sucubem ao calor, derretem na estação dos vapores, das tortas sem luz na vitrine do bar da arquitetura, lampejos de arritimia inflam o artigo com linguagem impessoal e livresca, citas enquanto comes, vicejas o mar que não ver, suporta a espera na mesma sala, o telefone não atendes, apenas ouve a música do mentor dos números, ao piano, solidificas o teu suor que escorre em agonias, o ser humano nao produz um arranjo descente, ditadores carregam bandeiras de ódio e o teu tempo já não existe...

21 janeiro 2010

a república

a rua da república é escura e  mal cuidada, entre João pessoa e lima e silva, não poderia ser diferente, prevalece a escuridão,  lanternas nos bueiros para catar papéis, ainda mais se estamos na cidade baixa, mesmo assim, van gogh fica na esquina e os bares fecham antes das cinco, nesse cenário improvável acompanhado de uma torrada simples sem ovo e de várias garrafas de espumante da serra, deu-se o dialógo de origem hesseniana, uma figura sem par e uma lupa na calçada, mesas viradas para o transito, música não há, ameaça mas ainda nao chove, o outro amigo sabe-se que virar, enfim os pontos:
a1: precisas de um contrafactual para provar o teu teorema, como diz o heckman na entrevista sobre a escola de chicago, não há ciência sem provas, sem evidências...
b2 (sem entender direito o que significa contrafactual) teu problema é que não consegues ser um poperiano estrito, antes das evidencias, conjecturas, depois testa, reformula, nao necessariamente nessa ordem...nao consigo discernir nada além
a1: quando criticas o bolsa familia, precisas de uma evidencia contraria que consigas contrapor ao que está em jogo, melhor se a visao de sen nao foi colocada a prova, se nao  postulou e implementou politicas públicas reais, nao tens como simplesmente defende-las no jargão popular se elas nao sao mais do que que proposicoes metafisicas...
b2: entendo o teu ponto, mas isso pode nos colocar num determinismo, sem testar novas modelos não saberemos o que de bom temos ou de como funcionaria o que em teoria parece razoável...
a1: mas temos um ponto em comum, pelo menos, além de nao endeusarmos o chico e preferirmos o caetano e suas alocuções verbais explicitas, sim, temos um grosso analfabeto na presidência, mas, voltando, o que passa é que o país tá uma merda, os incentivos estão tortos e o sistema educacional e de pesquisa nos coloca numa zona de mediocridade nunca antes vista nesse país...
b2: nao costumo ber espumante, mas confesso que uma vez por ano, adoro bebe-los na república, velha, obscura e absurdamente inadiplente, mas a minha restrição é de canto e lamento não poder insistir nos termos
a1: compreendo, mas tens que terminar de ler todo o philip roth (roff), a próxima garrafa é por minha conta, prometes?
b2: senegaleses vão ao mercado procurar diamantes, a américa está perdida...
Nota do editor: mesmo perdidas e sem lógica, as falas foram reproduzidas quase que por transcrição, mesmo fora de ordem e sem referências aos autores que preferem manter o anonimato para o bem deles mesmos e dos produtores de espumantes nacionais.

18 janeiro 2010

trapézio

não faz sol no verão, só no inverno, chove de sim dia não no verão dos portoalegrenses, mesmo assim, nessa impaciência de quem não viajará em mais uma das férias arranjadas pelo calendário oficial - elas, as férias, deveriam ser de fato, não para cumprir tabela, aliás - perambulamos na perimetral, queima de calorias, reflexão para  as pernas já não mais tão ageis como nos tempos do sao cristovão e madureira, agora, sobem e descem com suplicas pelo último degrau, a escada departamental, o andame da lomba em frente ao elevador da central, nessas andanças, volta-se com a mente limpa, tudo que depuramos ficou no entrocamento da vintequatro ou da nilo, ou naquele desvio da cachorro sem coleiras, hoje, pude também ouvir meu nome pronunciado com sorriso por um corredor da meia hora, irmão da ana, também trabalha no bancocentral, nome nunca sei, dos corredores de fimdesemana e dos que dizem, sem combinar, a minha presença nesse lugar, como diz o meu filho, 'não quer ser visto ou encontrado, vai para cidade grande', sigo, mesmo assim, subindo mais uma lomba, trinta minutos, os olhos já não conseguem ler placas de trânsito, mas nao conseguem esconder a vergonha de morar numa cidade onde um pai, deixa o bebê no chão da parada de ônibus para ganhar uns trocados, empilhando os outros dois filhos num trapézio humano na faixa de segurança da via lateral, a minha reação foi de espanto, com certeza, não irei esquecer a criança indefesa no chão da terceira perimental, completamente indefeso, mesmo que os homens de preto, ou vermelho, pensem o contrário, esse país não faz pelos os seus o que eles merecem, precisariamos desconstruir o estado das artes, para enxergar a montanha de impostos, jogados fora, antes de acordar para mais uma despretenciosa caminhada de velhos....e o que dizer das projeções do ipea: em 2016, os nossos filhos serão os mesmos dos países desenvolvidos???  Mesmo sem querer alimentar a minha sede de justiça, repúdio eternamente os relatórios oficiais e os comunicados da presidência...

16 janeiro 2010

deambulações

"(...) podendo assim postergar o aprendizado daquilo que seu pai, embora pouco educado, vinha fazendo tanta força para lhe ensinar havia muito tempo: a forma terrível e incompreensível pela qual nossas escolhas mais banais, fortuítas e até cômicas conduzem a resultados tâo desproporcionais." (Philipe Roth)

11 janeiro 2010

policy design

(...) fairness cannot be sought only in final allocations, but in the rules governing the processes by which such allocations are arrived at. (Bourguignon, et al. ao comentar Nozick)

(...) affirmative action for Afro-Brazilians ou lower Indian castes may or may not make sense. There may indeed be cases where linking policy to types can be harmful, through making policies unnecessarily conflictual or increasing the salience of discriminatory social sistems based on the caracterization of people. Furthermore, types themselves are likely to be contested and dynamic, and to be endogenous, in long-run paths of economic and social change. Policy design, requires context-specific analysis that recognizes these possibbilities. (Bourguignon, et al. 2007, p. 240, in JEInequal)

10 janeiro 2010

tarde sem sol...

06 janeiro 2010

limas em beribere, poesia arcaica

mochila de papéis, livro novo do roth, duas canetas de cores distintas, algo como ir a praia sem sair da sala, ou o contrário, nesse intervalo, de férias, as equações não lineares devem ser loglinearizadas, as cadeias de markov devem ficar repletas e a sensação de desamparo em ano eleitoral só nao superará a dor abdominal-cervical ou d´olhos d´agua, como queiram, as desigualdades de renda pessoal não refletem as pesquisas de popularidade do presidente, a China ainda irá cometer seus soluços e o castelo que constróis em contas públicas, porá a prova a vertente estatal do memso discurso, nesse momento milhões irão pagar pelo erro das deliberações dos aparalhedores, antes que a chuva repita o apagão, o poeta comete mais uma estrofe:
ventas oh! lima de beribere, em bento,
sobejas as lágrimas das encostas,
bandidos de armas sujas atiram nas lampadas
sitiados, ainda fazemos apostas...

05 janeiro 2010

regras e o equilibrio ganha-ganha

Bricoleur



"Como salientou o geneticista François Jacob a evolução não é um designer original que resolve problemas novos com conjuntos de soluções completamente inéditos. A evolução se assemelha mais a um trabalho de bricolagem. Ela usa sempre a mesma coleção de genes, mas de modos ligeiramente diferentes. A evolução opera fazendo variar as condições existentes, peneirando as mutações aleatórias na estrutura do gene que dão origem a pequenas variações numa proteina, ou a variações  na forma como a proteina se desenvolve nas células. A maior parte das mutaçoes é neutra ou até mesmo danosa e não sobrevive ao teste do tempo. Apenas as raras mutações que aumentam as sobrevivência e as capacidades reprodutivas têm probabilidade de ser conservadas. (...)
 Em contraste com o engenheiro, a evolução não tira suas inovações do nada. Ela trabalha sobre o que já existe, seja transformando um sistema antigo para dar-lhe uma nova função, seja combinando diversos sistemas, para com eles arquitetar outro mais complexo. Se quisermos lançar mão de uma comparação, no entanto, seria o caso de se dizer que a evolução atua não como um engenheiro, mas como um engenhoqueiro, um bricoleur, como se diz em francês. Enquanto o trabalho do engenheiro depende da matéria-prima e dos instrumentos precisamente ajustados a seu projeto, o bricoleur tem que se virar com a miscelânia de coisas que lhe caem às mãos (...) Ele usa tudo que encontra ao seu redor, papelões velhos, pedaços de barbante, bocados de madeira ou de metal, para construir algum tipo de objeto aproveitável. O bricoleur apanha um objeto que encontra por acaso em seu estoque e dá a ele uma função inesperada. De uma roda de carro velho ele fará um ventilador, de um de uma mesa quebrada um guarda-sol. " ( Eric R. Kandel, 2006, p. 261 In Em busca da memória)