22 setembro 2014

a dicotomia do atraso

no artigo de domingo da fsp o Samuel Pessôa explora o que ele considera as duas agendas em debate no país pré-eleições, uma a da consolidação do que ele chama de um "Estado de Bem-estar social padrão europeu continental no Brasil" a outra, equivocada e superada, a implantação do que ele define como "Estado nacional-desenvolvimentista no Brasil". Pessôa apenas cita o primeiro ponto e depois dedica-se ao diagnóstico da segunda agenda, pontos fracos principalmente. 

Na realidade, precisaríamos desenvolver argumentos para consolidar a primeira agenda. o que, inexplicavelmente, não é/foi o foco das nossas discussões no período pós plano real. Entender porque isso se deu dessa forma não é tarefa fácil, particularmente, creio que é fruto da nossa incapacidade de pensar para além dos maniqueísmo dicotômico, neoliberalismo x estatismo, sem nada entre as duas concepções. 

O paradoxo dessa trajetória de debate é que ao negar as reformas do real e ao simplifica-los com o epiteto neoliberal o partido dos trabalhadores se afasta de uma agenda social democrata legitima e da possibilidade de construir a primeira agenda. Acontece, porém, que ao defender as conquistas do plano real através das importantes reformas pró mercados, o partido da social democracia brasileira também se afasta do projeto de consolidação do estado de bem-estar social porque esquece ou pouco privilegia o social na agenda de futuro do Brasil. 

Resumindo, temos o partido dos trabalhadores defendendo uma agenda social com métodos e modelos de economia populista e intervencionista e que contemporiza com experiencias socialistas bizarras na América Latina. Por sua vez, o partido da social democracia brasileira se afasta da agenda social para se dedicar a temas como eficiência de gestão, autonomia do banco central, boas regras de governança e bom ambiente de negócios, fundamentais, é lógico, porém incompletos. O ideal seria uma combinação dos dois focos e abandono dos modelos de ambiente da guerra fria. Até  aqui, a cegueira ideológica do partido dos trabalhadores com sua insistência no modelo nacional-desenvolvimentista tem inviabilizado. 

Como resultado bruto, esse quadro de cultura tem nos empurrado para um baixo crescimento econômico, inflação elevada, artificialmente na casa dos 6% a.a, populismo creditício, arranjo fiscal insustentável e baixa produtividade em geral, tudo sustentado por um programa de transferência de rendas que, até aqui, tem dado sustentação e continuidade ao projeto anacrônico do partido dos trabalhadores. A conta tem sido paga pela população de baixa renda que sofre com acesso a serviços públicos precários em transporte, saneamento, educação e saúde o que nos afasta ainda mais do pacto de bem-estar social da constituinte  de 1988 e que pode nos colocar numa armadilha de pobreza endógena. Estamos criando um espaço propicio a aventuras populistas radicais do passado de desprezo pela democracia , etc... 

20 setembro 2014

Os jornais da terra do bardo

“O banheiro não é uma biblioteca.”(Dráuzio Varela, na fsp)
Os dados brutos não têm problema, a questão foi na hora de calcular o numerinho que compõe a amostra...”(Roberto Olinto, diretor do IBGE, no Globo)
“É tempo suficiente para Dilma “encher seu lago Paranoá de votos” na base do medo das pessoas. (Fernando Rodrigues, na fsp)
No primeiro artigo lido do dia um breve tratado sobre hemorroidas e os cuidados com a leitura no banheiro. No segundo uma trapalhada ainda maior, depois de várias controvérsias na sua história recente, a pesquisa nacional por amostra de domicílios (PNAD) que indexa 90% ou mais dos artigos acadêmicos em ciências sociais aplicadas no Brasil, aparece rasurada e desacreditada, por um erro nos arredondamentos e uma inversão no sinal da primeira deriva para a trajetória temporal do indicador de distribuição de renda que, abruptamente, passou de em crescimento para, novamente, em queda. 

Por fim, o outro sinal, a pesquisa eleitoral do datafolha, tudo junto e alinhado, aponta queda ou estagnação da candidata Marina que até então era a única com chances reais de bater o status quo,  e indica ampliação dos outros dois candidatos, Aécio, subida sólida e reversão de expectativas e para a presidente sugere que a sua densidade eleitoral teria retomado indicadores na casa dos 37% das intenções de votos no primeiro turno e que empataria tecnicamente no segundo turno.

Tudo junto, dia inglório, uma sinalização de que a tática do terror teria, mais uma vez, vencido e conquistado votos para preservar um país de equívocos em todas as áreas, até mesmo entre e nos indicadores sociais, agora totalmente desacreditados.


Um dia de sol e temperaturas agradáveis, uma brisa primaveril e uma luz já distinta, que alegra sem eufemismos. Uma luz de bem com a vida e com as realizações humanas, só os jornais que destoam, evocam o obscuro continuísmo de uma senhora sem traquejo e com um forte pendor para equívocos grosseiros, uma pena.

14 setembro 2014

os erros da coroa

difícil dizer o que é mais grave no programa partidário da presidente, mas a peça sobre a independência do banco central é o catalisador maior de todas as banalidades, maniqueísmos e atrocidades cometidas em nome de erros, muitos erros. Supor que independência formal do bacen para regular e buscar a preservação do poder aquisitivo da moeda e a credibilidade e integridade do sistema financeiro significa entregar aos banqueiros o poder supremo sobre o regulador é uma falácia acompanhada de equívocos econômicos grotescos, má fé e um ódio e desprezo pelo razoável, no mínimo.

Agências de regulação nunca são independentes do fato de ter de prestar contas e de exercer decisões com transparência e acurácia, apenas, em se tratando de política monetária e de cuidados com o sistema financeiro, é crucial que o banco central não seja manipulado, capturado e usado pelo governo de plantão. Os riscos dessa captura são inúmeros e reais, desde a leniência com a inflação para acomodar interesses não republicanos até o a corrupção ativa via chantagens e benesses para bancos em troca de favores e outras prebendas não republicanas igualmente.

o argumento, ainda outro, a favor da independência regulatória que exige sim prestar contas à sociedade e ao congresso, aos representantes do povo, é de outra monta, a construção de critérios objetivos e de metas claras de combate a inflação exige credibilidade do país e do bacen e isso, essa credibilidade é essencial para o crescimento de longo prazo, não há investimentos bons em sociedades onde o bacen segue o discurso populista de plantão e que não busca incessantemente a estabilidade da moeda e das regras que norteiam o sistema financeiro. 

Esses pontos acima são tão elementares hoje em dia e largamente compreendidos por governos de diferentes matizes ideológicos, que, ao cometer aquela peça propagandística o governo da presidente jogou por terra qualquer possibilidade de imprimir legitimidade futura ao estado de negócios na república Brasil, não a teremos com esse governo e, principalmente, com esse discurso.