15 novembro 2015

Pavão no telhado

a cena é real e pode ser encontrada aqui e é uma boa metáfora para a semana do colóquio Meirelles e Levy, o primeiro fazendo o papel principal, mas quem subiu no telhado foi o segundo. Novamente o ex-presidente Lula, o maior de todos os pavões na política brasileira, seria o orquestrador da queda de um, o Levy, e assunção do outro, o também pavão, Meirelles. Enfraquecidos, além do Levy, foram e estão, o real, a presidente e o ajuste fiscal e de resto toda a economia brasileira. Meirelles, não é o milagreiro para livrar o país da enrascada quase inescapável que nos encontramos, mas é sim, um forte candidato a ministro do terceiro mandato do pavão mor, ambos, aliás, deveriam se afastar da condução da coisa pública e deveriam adotar uma postura mais republicana e discreta. 

13 setembro 2015

país partido

hoje no Estadão e também na Folha de São Paulo foram apresentadas muitas receitas para sair da crise, uma boa introdução segue aqui. Realmente, é grave a crise, mas, aliada das nossas dificuldades, nunca saímos da crise, na verdade. Tivemos momentos de esperança nos dois FHCs e nos dois Lulas, é preciso dizer. Não muito mais do que isso, contudo. 
Agora todas as saídas propostas nos deixariam no mesmo lugar pré crise, um país ajustado financeiramente e que tem contas públicas saudáveis, mas que amarga resultados medíocres em questões sociais e que apresenta programas sociais tímidos, ineficientes e que inevitavelmente, nos prendem em duas armadilhas que se retroalimentam, uma de pobreza e outra de desigualdade. 
Vivemos num pais injusto, desigual, covardemente assimétrico e sempre que queremos ser bacanas sacrificamos gastos na saúde, na educação e na infra-estrutura social. Mesmo repetindo o mesmo discurso, é importante, dizer: temos que gastar mais, não menos, em saúde e educação e temos que gastar mais com e para com os mais vulneráveis e temos que faze-lo em escalas sem precedentes. 
Qualquer saída para a crise deveria considerar essa a única alternativa possível e deveríamos desenhar isso dentro de um orçamento equilibrado com perspectivas de inflação abaixo de 5% ao ano e com crescimento real acima da média mundial. 
O PT tem o domínio do discurso social, mas é estatizante no sentido militar do termo, irresponsável e para obedecer a uma ideologia caduca, o PSDB, por sua vez, ficou preso à agenda economicista e de eficiência apenas. Ambos são incapazes, se não mudarem, de impor uma agenda progressista com inclusão efetiva dos vulneráveis socialmente. Inclusão real, com gastos compensatórios para diminuir ou zerar o fardo de uma vida inteira de circunstancias negativas e sacrifícios. 
As contas públicas devem ser ajustadas para esse parâmetro e não se trata de promover populismo e irresponsabilidades fiscais e monetárias, mas sim de redefinir a agenda de prioridades, é portanto, e continuará sendo, uma proposta de centro com viés social, bem ao contrário do que temos nos dois lados da disputa em curso....

corte imposto

governo não assume o erro, não pede desculpas, não assume que mentiu e omitiu durante a última campanha, que engrupiu as contas públicas, que falseou e pisoteou no erário, no público e no privado. Seguiu uma estratégia maluca de gastança sem fim para implantar seu credo religioso e agora, no crepúsculo dos desvalidos, propõe o corte de gastos públicos para preparar o terreno para aumentar impostos, tudo isso conduzido aos gritos e sem liderança alguma. Qualquer dúvida sobre o sucesso dessa empreitada é vã ingenuidade ou má fé de carteirinha. Seremos rebaixados por mais agências e isso será um grande e doloroso final para um equivoco portentoso do grande líder, nossa presidente não deveria ter sido ungida para assumir tarefa para a qual ela nunca se preparou e para a qual ela não tem nenhuma habilidade satisfatória comprovada. Aflição e desgosto nos esperam nesses melancólicos anos antes da próxima eleição, uma a uma cairão todas as conquistas, que não foram poucas, é real...

30 agosto 2015

o debate

os bons meninos, talentosos, simpáticos e inteligentes debatem o bom do Brasil, a proposta. Um quer cortar sem resolver o impasse social o outro não quer cortar e não pensa em resolver o impasse fiscal, ambos estão errados, presos a um monologo, esquecem do básico. 
Reestruturar e gastar mais com seres humanos, com desenvolvimento humano, sem comprometer a saúde fiscal e com credibilidade, precisamos dela, aliás. Os inteligentes precisam porque não há país crível com injustiças sociais alarmantes como as nossas. Os simpáticos, precisam porque não entendem que com irresponsabilidade fiscal apenas aumentamos as injustiças sociais...ambos estão presos aos seus respectivos ponto de partida ideológico-partidário, um pouco mais, um pouco menos....

23 agosto 2015

o pode ter certeza do Lula

"Pode ter certeza o Brasil vai voltar a crescer"(Lula, 22/08/2015, 20hs15min)
essa frase é incontestável, é óbvio que o país vai voltar a crescer ainda nessa década, nesse século, ou nesse milênio, ou antes, quem sabe....?!? uma pena que nosso ex-presidente não aproveitou para apresentar algo para abreviar as incertezas da espera, preferiu uma frase grandiosa e irrefutável que não serve absolutamente para nada. 
Temos um demagogo-populista em sua performance habitual, platitudes com vaticínios inócuos, sem nenhuma concretude, um vazio narcisista e obtuso, uma velhacaria política que ainda seduz muita gente entre nós, uma verborragia para iludir, adiar, postergar, ganhar tempo, enganar e sufocar vozes contrárias. Lula é um equivoco político e é uma lástima que ainda faça sucesso entre nós, temos um candidato em campanha, que se coloca como saída para o buraco que ele mesmo construiu e com uma frase sem significado. Podemos ter certeza, essa nossa trajetória negativa é duradora e o exito eleitoral desse populismo ainda é enorme.

16 agosto 2015

jogo melado

quando quebramos um principio qualquer em uma regra o resultado fica melado, desfigurado, descaracterizado, sem o sentido exato. Essa imagem nos cabe agora, temos um jogo melado, já há evidências suficientes de que se seguirmos os fatos e as regras postas, a continuação do atual governo é um jogo melado. É também falsa a defesa da continuação do atual governo pelas realizações na área social ou para evitar o desastre maior que seria a volta da oposição ao poder, o jogo segue melado, porque perdemos a capacidade de analisar os fatos e as regras, estamos presos ao jogo do outro é o pior. 
Não, não mesmo, houve roubo, desvio, uso do poder econômico e uso de caixa dois e de recursos dos desvios na campanha, além da maquiagem das contas públicas, houve sim, negar é melar o bom jogo, das regras e dos princípios éticos e morais aqueles lá da filosofia moral, porém, a nossa ética é ideológica e essa é a pior ética. 
o que fazer diante desse quadro? Nas nossas regras temos a possibilidade do impedimento, é essa a regra, ela, porém, se sustenta em algo intangível que é o apoio político, Como construir esse apoio político se todos os envolvidos praticaram boa parte dos crimes eleitorais? ou mesmo, se já sabemos que a ética é ideológica, como construir apoio político para a boa regra? Essa via não se sustenta, mesmo porque os militantes do partido no poder, não entendem que toda essa lista de equívocos morais, éticos e toda essa corrupção é negativa ou merece ser abandonada e condenada, há uma convicção entre eles de que são superiores e imaculados, iluminados e o eles são muitos. Então, não há o que fazer por essa via. o Samuel Pessoa propõe hoje na folha de são paulo, renuncia  e novas eleições:
"A melhor saída que há à manutenção da presidente zumbi por mais três anos seria renúncia de toda a chapa, da presidente e do vice, para que um novo processo eleitoral fosse convocado e os partidos apresentassem candidaturas."(Samuel Pessoa, fsp, 16/08/2015).
essa seria uma ruptura de toda a regra, seria interromper e acabar a trajetória democrática sem a menor certeza sobre o que viria em seguida. Ela, a presidente, não vai renunciar, os militantes não vão fazer reflexão, o vice é do pmdb e isso já é bastante para indicar que esse também não renuncia ao poder. Então, essa proposta de novas eleições é a pior opção para esse jogo melado. 
Vamos nos arrastar por um longo tempo ainda nessa mesmice, o atual grupo no poder vai sobreviver, pode até ser reconduzido nas próximas eleições, será um desastre, seria, sem dúvida, um grande prejuízo para o país e, para os mais vulneráveis na escala social, seria um insofismável fim do poço, mas isso vem na função aprendizagem democrática e  um dia,  aprendidos, mudaremos para uma ética mais condizente com um principio universal e que não obedeça a slogans partidários...


02 agosto 2015

não somos a Grécia

a semana do parcelamento dos salários dos funcionários públicos e da incapacidade do Estado honrar os seus compromissos mais básicos, saúde, educação, segurança... todos públicos, todos precários e endividados, divida em papel moeda e em realidade, filas, baixa qualidade, disfuncionalidades e descuidos, crianças nas sinaleiras fingem brincar enquanto trabalham. 
Os analistas, alguns deles, vários meus amigos, nomes não digo por respeito e por amizade mesmo, comparam o nosso estado, difícil aqui definir o maiúsculo, com a situação da Grécia. Não, insondáveis vezes, não, não temos nada parecido ou equivalente com a Grécia dos gregos e da união européia, mil vezes não, não construímos insolvência sem miséria, não temos estado de bem-estar social, não cuidamos de nossas crianças e tampouco de nossos velhos, nossa renda per capita é inferior, nosso indicadores sociais, mesmo no decantado sul maravilha, não chegam aos dos gregos, nossa tragédia é nossa e única, escrita por partidos anacrônicos e ainda mais nacional-desenvolvimentista do que a ala a esquerda do Syriza, e ainda mais medíocres.
Um pseudo-qualquer coisa, que para muitos é um intelectual, um poser, afundou o estado, esse sim minúsculo, numa crise, usando recursos que não tinha para escolhas equivocadas e para conceder aumentos onde não podia, com aval unanime de todos os políticos, é verdade. Não, não somos gregos, lá a votação seria apertada e ninguém temeria dizer não.
Não, não somos gregos em sua falta de restingas e ilhas de contrastes, verdadeiras e inundadas pelo Guaíba, gente que não existe nas estatística oficiais, que não tem endereço fixo apesar do viaduto da João Pessoa e dos chocolates visíveis. Apenas 17km do centro da capital da "qualidade de vida" temos idh subsaariano e uma multidão sem água tratada por mais de 40 anos, não, não somos gregos...

26 julho 2015

modestas, é verdade...

temos pouco tempo e muito ainda por fazer, é inaceitável o arranjo que convencionamos chamar de equilíbrio social, em falhas graves, nossas virtudes são poucas e de baixa propriedade. Em muitos há um apelo para uma radicalização, os da direita, mercado, os da esquerda, estado, no meio estamos nós, os de centro, sem problemas, estado, sem problemas, mercado, mas, por favor, vamos encaminhar mais efetividade para o combate às diferenças sociais, não faz sentido um país tão desigual ou com tantos em situação da mais absoluta miséria em muitas dimensões importantes para uma vida satisfatória. 
precisamos mais, um outro estado de bem estar social, mais efetivo e de mais generosidade e solidariedade a favor dos que estão fora da nossa 'posição original'. os dois grupos acima, com os quais não me identifico, assumem ares de sabedoria suprema, ungidos pelos deuses da reforma, sabem na ponta da língua a solução, o método e como implantar o estado de bem estado social do zero de miséria e fome e de muita fartura e riqueza.
Mais modesto e assumidamente triste com minha incompetência, reconheço que não sei o caminho da salvação e nem mesmo se atravessarei o portal do purgatório, o que venho de propor e saber é pouco, é uma combinação do Sen com o Lyndon Jonhson doméstico, o do combate a pobreza, não o da guerra, mais gastos em saúde e educação, contratos melhores para proteger os menos favorecidos e mais espaço para o debate público. Ao contrário dos que querem controlar a grande mídia e a internet, mais liberdade ali, mais grande mídia e mais internet livre. 
Acabaria com as obrigatoriedades do serviço militar e do voto, o lucro seria livre e o imposto progressivo sem procedentes, substituiria o imposto indireto, gradativamente, em poucas palavras, apenas o razoável, votos distritais, reeleições, menos e mais fortes, os partidos, e um sentido absoluto de tolerância pelo diferente. Na economia, a nova bossa seria o trivial nas contas públicas, um banco central autônomo e bancos públicos com capital aberto e transparentes, sinceramente, não há como apoiar privilégios para empreiteiros ou outros amigos da casa real, se quiser existir vai ter que se justificar com resultados guiados por princípios comuns a toda a gente. é uma proposta modesta e conservadora, diriam os da esquerda, é estatizante e intervencionista, diriam os libertários, como não tenho o dom da mágica ou o entendimento absoluta dos arranjos humanos, fico feliz com essa avaliação, errarei pouco, todavia.

19 julho 2015

o bardo e a feira

ontem fomos numa feira comunitária, em frente de um prédio velho que abriga uma loja que vende objetos usados "em bom estado de uso". Na realidade a feira era promovida pela loja, nesse dia, não há papel moeda, apenas troca-troca. Em Caruaru, no Pernambuco, e em Teresina, no Piauí, também funcionam feiras semelhantes, sem moeda, apenas troca. Contudo, o pedaço da troca da feira que fomos ontem no bairro industrial da cidade, não precisava levar algo para a troca, simplesmente, o convidado pode pegar o que quiser nas caixas e tendas em um espaço grande o suficiente para permitir livre circulação de pessoas. Havia de tudo um pouco, prataria, cristais, louças, caixas de guardar fichas acadêmicas, videos de computador, máquinas datilográficas com os respectivos manuais, TVs, pratos, talheres, canecas, roupas, até um "rabo quente" foi encontrado, tudo em condições plena de uso. 

Em um canto mais afastado livros diversos, fitas cassetes, cds e vhs, tudo espalhado ao livre alcance das mãos, sem restrições, os trabalhadores da feira ficam do outro lado, atualizando as bancas do pega lá sem trocas e ainda oferecem sacolas usadas para levar o que escolhestes.
A população da feira era de pobres num sentido bem especifico do termo, nossa classe média talvez seja uma identificação mais apropriada. Muitas línguas, crianças, velhos, sim, muitos brinquedos, patins, quebra-cabeças e instrumentos musicais para crianças, baralhos de encartes para estudar o vocabulário e bonecas de pano coloridas, caixas de música... 
Confesso o meu constrangimento, como assim, pegar algo se não tenho nada para dar em troca, se não trouxe nada? Em pouco tempo, percebi que a indelicadeza seria não participar, "como assim, não precisas, quem não precisa?" Timidamente me aproximei das tendas dos livros, a princípio não consegui me empolgar, livros em alemão sobre quase tudo e muito best-seller, nada relevante, 
Encontrei perdido numa caixa fora da tenda um Auster, em alemão, com receio olhei e resolvi ficar, até ali, não tocava nos livros. Todos olham, pegam, alguns resmungam e enchem caixas ou sacolas, ficamos atrás em silêncio, a pessoa da frente avança a esquerda ou a direita, entramos e estamos no jogo. Percebi depois de uma hora nesse ritual que os tesouros estão lá: matemática e estatística, Thomas Mann, Naipaul, uma pequena biografia de Menuhain e Rilke, em pouco tempo recebi três ofertas de sacolas, estava de mão cheias. Entendi que estava me empolgando, fiquei só com aqueles e taças de chopp do século dezenove. A feira continuou lá por todo sábado, em frente um parque com gansos do pescoço longo e brancos...

13 julho 2015

semanas decisivas

a cada nova semana uma expectativa, lava-jatos, odebrecht, redução da maioridade, reforma política, previdência e o impedimento, vetos presidenciais e ajustes fiscais, contas de campanha, lavagem de doações ou o contrário, tce e tse, stf, os gregos, merkel e os gregos do oxi, nein, o tsipras e o euro, fmi, irã e os eua, cuba, a embaixada, delações e outros tapas na mesa, semanas de tudo vai acabar na próxima semana ou recomeçar. Vivemos uma recessão e os indicadores sociais pioram, o desemprego aumenta, a violência urbana aumenta, os roubos aumentam, a essa altura até o Gini acordou, no entanto, o único  noticiário é sobre a 'semana decisiva'. perdemos a capacidade de diálogo, a oposição esqueceu o bom senso em nome de uma aposta arriscada e de uma, moralmente questionável, aliança com o pmdb do cunha e do renan. 
por uma semana menos decisiva e a volta ao trabalho e ao diálogo. Vamos ter eleições novas apenas em 2018, até lá temos que cuidar da inflação, desemprego, e todos os problemas sociais do mundo. Decisiva mesmo só a semana do colorado, mas aí é futebol... 

07 junho 2015

a dupla dinâmica

"Essa recessão vai durar o quanto for necessário para recuperar a indústria. A indústria sofreu o efeito dramático da política cambial. Todos os estímulos foram incapazes de compensar o prejuízo de valorizar o câmbio para controlar a inflação. Nunca faltou demanda para produtos industriais. O que faltou foi demanda para produtos industriais feitos no Brasil."(Delfin Netto, na fsp, 07/06/2015)
O Delfim Netto é muito educado e cuidados no uso das palavras desde a época dos militares (esse é um comentário para não esquecermos de quem estamos falando, mas não deve contribuir para o argumento). Uma interpretação livre e possível da entrevista: ele está mandando uma mensagem para o Governo e para a própria presidente, afinal ele é um dos conselheiros da presidente, informal, o que é outro ponto que deveria ser criticado, mas fiquemos com o relacionado a industria no Brasil. O argumento é engenhoso e é o idêntico ao do Bresser, só que melhor articulado e mais sútil e gira em torno do mesmo ponto: há desindustrialização no Brasil e para proteger a indústria nascente temos que fechar novamente a economia e deixar o cambio flutuar para o lado certo, ou seja, deixar a desvalorização real do real atingir o ponto da impossibilidade do que é externo em produtos. È a penúltima fase do modelo substitutivo a fase Bresser-Delfim o fim do mundo. 
Nenhuma palavra sobre o que deveria ser feito para que a industria brasileira consiga produzir o melhor e o mais inovador produto no mundo com qualidade, baixos custos e sem subsídios ou protecionismos, uma peça dura e difícil de elaborar, mas mais interessante do que o atalho proposto pela dupla dinâmica, que se resume a intervencionismo dependente e irresponsável.

31 maio 2015

Sem poder

Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos deputados, lembra outros presidentes do legislativo no Brasil, inexpressivos, mas ardilosos, costumam prosperar quando o presidente do executivo é fraco ou quando a base aliada não é muito aliada e tampouco base, eis o caso. 
O governo vem sofrendo derrotas seguidas, a própria eleição de Cunha uma delas. Junte-se à mediocridade de uma pauta confusa a um ambiente econômico e social de indefinições e oportunismos prosperam. Nesse ambiente, mesmo temas e propostas não tão absurdas assumem ares de absurdo em mãos tão inapropriadas. 
Denunciado pelo procurador Janot, ele, Cunha, deveria ter sido afastado da presidência da Câmara por cautela e bom senso. Não há a mínima chance desse congresso atual aprovar algo legitimo quando os presidentes das duas casas estão sendo investigados, vale o mesmo para o executivo, não há mínima chance de um governo tão fraco conduzir reformas importantes. Perdemos tempo com essas supostas reformas. A oposição e a situação deveriam construir um acordo e afastar os dois suspeitos das respectivas presidências e concentrar esforços na governabilidade e na preservação da saúde econômica do país. 
Esse é um desabafo ingênuo e inócuo, mas alguém vai entender ou aceitar que a reeleição acabou numa legislatura conduzida por Renan e Cunha e durante o mandato de Dilma, a Roussef?? O mais sensato seria cuidar de arranjos mais simples para retomar a credibilidade e o dinamismo da economia e resolver questões complexas nos próximos congresso e governo,

25 maio 2015

moleira plena, o bardo.

 descemos para o centro para caminhar por ruas novas (sic), logo na primeira rua, calçadas largas e mesas com gente de todo lugar do mundo, 'mira' e o característico agradecimento local, italianos  e risadas sonoras, mais, muito mais, do outro lado da rua uma barbearia com o título convincente de "hair´s design" e uma variante árabe do mesmo nome. A barba desproporcionalmente grande desde o inverno passado e o voo dos patos no córrego ao lado da cervejaria, foram decisivos, entramos, a hora é agora.
Levei alguns segundos para entender que deveria sentar e esperar aproximadamente 20 minutos.  Escolhi um sofá grande nos fundos em frente a um barbeiro jovem de óculos moderninho e relativamente baixo, que lembrava muito um lateral esquerdo fluminense, provavelmente árabe. Entre duas guris, filhas do senhor à minha direita, e de vários fortões, um deles com uma clássica de salto alto no colo, aguardei ansioso.
Acompanhei o corte de cabelo dos fortões, em silêncio e com uma expressão corporal de fadiga, o barbeiro seguia sempre o mesmo roteiro, com a máquina raspa tudo atrás, depois molha o que sobrou na moleira, remodela com a tesoura, e, não satisfeito,  passa a navalha atrás. O resultado era sempre o mesmo, uma combinação de Ronaldo fenômeno contra a Turquia e moicanos do Guarani de Sobral...
Passados 15 minutos e três cortes iguais, comecei a desenvolver manias persecutórias, lembrei que as gurias riram quando entrei, comecei a elaborar o porquê. Eu era, afinal, o estranho naquele lugar e já imaginavam meu cabelo no formato moleira plena. Imaginei um plano de fuga, na minha contagem, seria o próximo, tarde demais para desistir, perguntei ao vizinho se todos os cortes eram no mesmo formato, ele respondeu, 'sim, você poderá ser atendido por qualquer um', pelo nível de comunicação seria o corte mais definitivo  da minha vida e seria o alvo de piadas no seminário das terças, e, provavelmente, teria que adiar meu retorno, já me via preparando uma carta formal solicitando mais prazos, sem revelar integralmente os motivos.
Chegou a minha hora, solicitei barba e cabelos curtos, mas cuidado com a máquina, mostrei uma foto de 10 anos atrás no celular, o lateral do fluminense não gostou muito e disse em alemão curto, 'não precisa mostrar mais  o celular', e assim fomos, em dado momento o meu vizinho da resposta se aproximou para ajudar na tradução, agora eram três línguas locais e a minha, 'muito bom' disse com voz tremula, 'agora o mesmo para a barba... mais, por favor'. Insisti que um lado estava assimétrico, e denso na frente, ao final tentei perguntar quanto era, nada de acordo, levaram-me até o caixa e paguei doze pila, uma quantia justa para um belo trabalho.
'O senhor esqueceu a mochila..',  dizia o meu interprete e personal-estilista já na calçada, agradeço efusivamente, atravesso a rua e vou comemorar o voo dos patos e a  não navalhada...

16 maio 2015

A volta do Lula ao poder

o Schwartsman, na folha de São Paulo, usa Aristóteles para defender ou justificar mudanças promovidas por chantagens de um legislativo corrupto e acentuadamente envolvido com as denuncias da operação 'Lava Jato' (link indisponível para não assinantes), erra duplamente, primeiro por defender esse ardil, segundo porque as mudanças são péssimas para o país. 
Noutro capítulo, aparentemente distinto, Lula ou o que sobrou dele, orienta a presidente Dilma para que não vete o fim do fator previdenciário, pois isso a desgastaria ainda mais com as bases do seu partido, o PT. Essa é a angústia dos tempos que vivemos, a escolha infeliz de Dilma para presidir o país nos trouxe ao mundo desprezível dos 'fins justificam os meios' e do populismo de resultados e que dane-se o bom senso econômico e a defesa honrosa de princípios, a começar pelos procedimentos e regras.
um governo que gastou o que não podia e que foi leniente com a volta da inflação por segui o modelo Leda Paulani (também sem link) e o desenvolvimentismo do fim do mundo, é obrigado, se quiser evitar a perda total de credibilidade do país, a fazer ajustes para evitar calotes ou o contrário e, ao mesmo tempo, é constrangido a abonar, seguir ou aceitar, aumentos no fundo partidário e desequilíbrios na previdência, ambos inviabilizando o necessário ajuste fiscal. 
Algo injustificável eticamente, tanto no caso dos fundos partidários como das mudanças na previdência, por aumentarem ainda mais rombo orçamentário. Não que a oposição tenha feito muito melhor, ela, porém, não pode ser acusada de ter criado ou apoiado a nova matriz e o tal desenvolvimentismo Lediano e leviano. 
Lula conhece o jogo, sabe que as bases do seu partido teriam levado o país para o buraco, mas sabe que sem aquela base  e aquelas ideias, mesmo que nunca colocadas em prática, nunca teria sido Lula, o cara. O conselho dele é tão vexatória e contra o país que,  exatamente como no caso do Aristóteles, temos outra chantagem em benefício próprio, a volta do Lula ao poder.

10 maio 2015

mujicas e falácias

certamente não, foi essa minha reação ao anuncio de que o nobre ex-presidente do Uruguai teria cometido a indiscrição de publicar em autobiografia autorizada ou coisa pior, uma conversa com o também ex presidente, Lula, na qual o segundo confessara ao primeiro que sabia do mensalão e que até apoiou ou participou ativamente porque essa era a pratica possível da governabilidade. 

certamente, não deveríamos publicar algo tão óbvio para o não sem tomar muitos cuidados precaucionais. obviamente um ex presidente de esquerda que apoia o presidente Maduro e que, portanto, fecha os olhos para todas as barbaridades que por lá acontecem, não cometeria um furo jornalístico tão óbvio. 

Entre nós, no entanto, a reação foi a mesma de clássicos futebolísticos, os crédulos de oposição saíram reproduzindo o 'fato', já os hipercrédulos da situação saíram-se com duas falácias lógicas. Falácia um, agora é irrefutável, ao negar o que não afirmara, tem-se a prova definitiva, Lula não sabia e o mensalão nem mesmo existiu. A falácia dois já é quase um bordão, a imprensa golpista  atacou novamente. essa parte da falácia veio acompanhada de um kit de anedotas: memes reproduzindo frases com inverdades sobre o magnânimo Lula, em encontros com empreiteiros corruptos,  por exemplo, para em seguida nega-las, etc.

[ Algum dia, teremos que criar o prêmio para memes, pelo menos ficaríamos sabendo quem os financia e gerencia.]

Esse pequeno episódio da vida cotidiana e suas repercussões atestam o nosso precário arranjo, as falácias e a credulidade nada mudam em relação ao ocorrido. Lula sabia ou não sabia, articulou ou não articulou? Tudo é uma hipótese ainda, não há evidências além das palavras. Sinceramente, a minha convicção é a de que ele sabia e de que participou ativamente, mas essa é apenas uma hipótese lógica de trabalho, não submetida ao rigor das evidências, as quais, infelizmente nunca teremos. Com ou sem Mujicas o ex presidente Lula continua sendo um suspeito potencial robusto, na minha opinião, lógico.

03 maio 2015

a inflação controlada

essa seria a nossa linha divisória, recuperada a moeda, tudo mais viria, a prosperidade, a divisão justa da renda, a cidadania, a virtude, enfim. É sabido que melhoramos, inegável, até, mas é também inegável que foi e é muito pouco, das virtudes, esquecemos da inclusão verdadeira e reproduzimos índices deploráveis de padrão de vida para uma população enorme. Seríamos, de posse de uma moeda estável e de valor, também virtuosos em mais instituições, democracia e estabilidade monetária, baixaríamos juros e acabaríamos com os oportunismos institucionais. Por fim, com o advento do partido dos trabalhadores ao/ou no poder, nunca se sabe, chegaríamos ao ápice de integridade, prosperidade e virtuosismo do bom mocismo. Passados pouco mais de 12 anos dessa história temos uma sensação de insegurança ética, a corrupção ideológica e uma governança sofismável e banal em precariedades. A população em condições de vulnerabilidade em dignidade humana continua intacta em tamanho e em perspectivas. Por fim, veremos, nos próximos capítulos, a continuidade de um modelo doentio na origem e deformado economicamente, recessivo e deprimente.

26 abril 2015

a folha, o poeta e o terron

leitor da fsp vive numa eterna barafunda, sem muitos intervalos longos, leio, por ler, desde o tempo do Edmundo Wilson e do Gore Vidal, desde os meus 15 anos, todo santo dia, leio até carta do leitor, painel e o caderno de informática, leio também os articulistas, todos, ou quase, sempre "me dão nos nervos" por excesso de trejeitos para acomodar suas convicções e defender o partido de oposição, quando esse era o PT e o da situação nos últimos 12 anos, em todos os casos sigo lendo. Agora temos o agressivo e venal Pondé, algo esnobe, opa, estou repetindo o estilo do próprio, esse e o Cony, não leio mais, agora perdemos a Cantanhede e realmente não entendo o que o Vinicius Torres faz no caderno mercado. Enfim, seguirei lendo, sem pudores, mesmo que por lá encontre coisas cruas e diretas que negam a inteligência do leitor mesmo quando querem ficar no contexto. Hoje tivemos um momento desses aqui:
"O resultado, no caso de "Sermões", adquire em certas passagens a locução de um cômico messianismo de botequim, de camaradagem entre chapas, o elogio da paudurescência em tempos contrafeitos ao livre voo do caralho." 
 Expressividade latente sem nenhum oximoro, uma bufa de estourar os tímpanos, o Nuno, autor de mais alta estima e grande, e os leitores não merecem peça tão rasa...

11 abril 2015

o erro para todos

a ideia parece muito sedutora e atraente, lançar todo programa social com o bordão final: para todos. As variantes dessa proposta são romantizadas, mas seguem o mesmo propósito, falo aqui do "mais médico" e do "minha cassa minha vida" e tantos outros 'para todos '. Esse mote, contudo, é um grande equivoco, melhor, revela um grande equivoco em relação ao desenho da política social no Brasil dos últimos anos. Comentarei aqui dois erros dessa interpretação. Antes, no entanto, é necessário qualificar a critica, chamar a politica social atual de erro é um exagero, porque sempre há espaço na sociedade brasileira para justificar o ' para todos'. Afinal, nosso Estado tem uma longa tradição de só servir a interesses privados e de patrimonialismo e de atuar para defender poucos e privilegiados, assim, o mote ' para todos' representaria um avanço nesse sentido especifico.
Então, feitas as ressalvas, por que o mote da política social no Brasil não é satisfatório? Existem muitas formas de responder essa questão, a forma Rawlsiana, a forma Seniana, a forma Roemerniana, etc. Sem entrar no mérito e conteúdo das formas, destacaria dois pontos. O primeiro a ideia não original, afinal o Banco Mundial já reproduz isso desde de 2005, por exemplo, de que acesso a um serviço público é uma forma de propiciar justiça social em um sentido efetivo. A universalização da educação, como sabemos,  não significa necessariamente que todas as crianças são atendidas da mesma forma, educação de qualidade no  Brasil nos obriga a criar um programa de gastos públicos em educação assimétrico e, de certa forma, não para todos e que fosse capaz de atender de forma adequada os mais necessitados. Isso demanda gastos maiores e desproporcionais para com os mais pobres. O discurso educação para todos mascara isso e cria a falsa sensação de avanços sociais.
O segundo ponto, não menos importante, diz respeito a ideia de efetividade e de meios e fins, sem usar os termos Senianos, o fato de, por exemplo, propiciarmos banda larga para todos não significa que estamos fazendo justiça social. Há uma incapacidade objetiva de indivíduos em dadas circunstâncias de transformar meios em fins. 
Por exemplo, o não acesso a um dado meio e, principalmente, a uma dada capacitação,  para ficarmos no exemplo da banda larga, impossibilita que o simples acesso a internet consiga melhorar a vida das pessoas. Ser bem alimentado, conseguir desempenho adequado em línguas, leituras e matemática, para ficarmos em necessidades básicas ou primárias do Rawls são cruciais para que o acesso à internet consiga se transformar em melhoria da qualidade de vida em qualquer nível.
O pensamento do "para todos", foge dessas armadilhas e cria a ilusão de justiça, quando apenas preserva o status quo de injustiças e assimetrias no Brasil. Precisamos de outro critério de justiça, mas profundo e mais humano e que produza assimetrias necessárias com viés positivo para os mais pobres socialmente falando.

05 abril 2015

A estratégia das pautas

citado na lista Janot e com longa presença em boatos de desvios de conduta ética, desde voos da FAB para exercício do próprio bem-estar até recebimentos indevidos do escândalo envolvendo a Petrobras, o atual presidente do Senado resolveu abraçar temas e pautas da oposição ou pautas não do agrado do governo da presidente Dilma que está com popularidade em extinção. 
Exemplos recentes dessa estratégia nova são a manifestação a favor da redução do número de ministérios, a favor de mudanças nas regras para escolha e indicação dos ministros do supremo e agora, a peça completa, a favor da independência do Bacen.
Em todos os casos, soa falso o engajamento com essas pautas oposicionistas de alguém tão umbilicalmente ligado ao poder estabelecido por mais de 12 anos, se contarmos o período FHC, e, aqui é necessário responsabilizar o ex-presidente FHC por ter sido o primeiro depois de Collor a acolher o Calheiros.
Essa convivência estrita com o poder permite ao presidente do Senado a capacidade de definir pautas, e de posterga-las sempre que conveniente. Assim, voltar-se somente agora para temas esquecidos ou bloqueados pela agenda do governo federal, é no mínimo surpreendente, se não for mais um ardil de sobrevivência política.
Contudo, seguramente, a falta de legitimidade do presidente do senado para conduzir essas bandeiras, mais enfraquece do que beneficia os temas colocados para debate. E, também do ponto de vista da sobrevivência política, é uma estratégia arriscada. Tanto a incoerência como a traição ao governo ficaram explicitadas e serão cobradas no seu devido tempo.

22 março 2015

A autoestima do brasileiro

em seu livro de 1998 sobre igualdade de oportunidade, Roemer, um marxista analítico, matemático e pesquisador sobre jogos cooperativos, apresenta um modelo matemático para explicitar o desenho de uma política de igualdade de oportunidade em educação.
A política de igualdade teria que atenuar ou compensar as pessoas por suas circunstancias adversas e, ao mesmo, tempo valorizaria ou incentivaria o esforço pessoal. Teríamos assim, para ir logo ao ponto, que investir muito em educação e teríamos que direcionar relativamente mais recursos para os mais vulneráveis ou mais pobres ou, o que é o mesmo, os que, por algum motivo, eram os que possuiam uma vida marcada por circunstâncias adversas.
No final do seu raciocínio, porém, Roemer destaca que mesmo essa destinação de mais recursos e em escala generosa para os que estão em piores circunstâncias, (não esquecer do grau de esforço realizado por essas pessoas), é pouco ou insuficiente, porque, ao cabo e ao final, "autoestima não é transferível e a capacidade da renda ou recursos recebidos pelos vulneráveis de conseguir se transformar em autoestima é reduzida ou imperceptível" essa longa frase não é exata e a retrato de memória parcial, mas o sentido está correto e compatível com o que Roemer queria dizer.
Acredito, que o não entendimento do alerta do Roemer, é o principal equivoco de nossa política social dos últimos 12 anos, para ser honesto, teríamos que voltar um pouco mais no tempo, mas diante da defesa do bolsa família realizada pelo governo dos últimos 12 anos, ficamos com esse período apenas. Transferimos renda para os mais pobres e miseráveis (nota mental: não gosto dessa expressão), é verdade, mas nossas escolas públicas para crianças e nossos hospitais públicos para pessoas de baixa renda, continuam disfuncionais e incapazes de fornecer atendimento, serviços e nossas escolas públicas são incapazes de fornecer educação ou ensino em condições mínimas ou satisfatórias ou razoáveis para a população de baixa renda.
Roemer, no mesmo paragrafo do capítulo nove, nos lembra ainda que o esforço de educar-se gera autoestima e que ser educado é a forma mais efetiva de conquistar autoestima. Assim, na visão de Roemer, mais do que empregabilidade ou capacidade de gerar renda futura, educação cumpre também esse papel de elevar nossa autoestima pelo simples fato de nos emponderar com discernimentos...
Essa longa introdução para defender mais gastos com educação e uma escolha mais criteriosa de ministros para área da ciência, tecnologia e educação no Brasil. Conjuntamente com o redesenho da política social para que ela realmente gere autoestima em escala sem precedentes entre nós e para todos. O detalhe, sempre ele, é o que ou como fazer ou implementar essas políticas, o próprio Roemer não se propõe a responder essa questão, e, sim, o mais difícil é criar é viabilizar essas escolhas. A ironia é que o combate a pobreza no Brasil acabou nos prendendo numa armadilha de baixa autoestima.