21 maio 2013

o governo, os miseráveis e a roda da fortuna.

no sábado e domingo fomos surpreendidos por uma inusitada corrida aos bancos dos correntistas, melhor dizer, beneficiários do bolsa família, uma imagem difícil e emblemática, um boato de que o programa iria acabar leva milhares às agências da Caixa Econômica Federal e, ato contínuo, o governo, em acordo lá com seus padrões éticos e morais, liberou saques fora do programado, o valor, aqui é o que menos importa, foi feito. Várias dúvidas ocorrem ao vivente que sabe que ainda não viu tudo. Em breves palavras, estamos presos a esse programa, nenhum político e nenhum governo vai ousar revisar a estratégia de combate a pobreza e seremos reféns do sucesso ou do fracasso de tal programa. Tecnicamente, chegamos no ponto de não retorno, a dádiva dada é tão importante para os recebentes que eles simplesmente entram em pânico se um boato espalha a ideia de uma data provável do fim. Alguém deveria ter chamado o presidente do IPEA para explicar o que falhou na pesquisa que aponta a não dependência dos beneficiários em relação ao programa. Contudo, a minha agonia, não existe outra palavra mais apropriada, diz respeito aos fracassos todos de nossa sociedade, como podemos criar um arranjo no qual o Bolsa família é algo tão fundamental para tantos? Como uma população que é desrespeitada em todas as horas de todos os dias nos seus direitos mais elementares pode correr para a caixa por causa de um boato em relação ao fim de um beneficio de no máximo R$ 200,00 mensais? Essa mesma população que é humilhada nos postos de saúde, hospitais, nas salas de aula para seus filhos, no transporte público, na forma desigual e assimétrica das previdências privadas e públicas, nos privilégios dos de toga, dos políticos e dos funcionários públicos??? Como entender o desatino de um mundo com poderes de barganha tão assimetricamente covardes, onde a indignação só aparece na forma de boato em torno de uma assistência insignificantemente mínima? Não tenho mais dúvidas, criamos uma armadilha de desigualdades insuportável e uma casta inferior pronta para atender aos desejos de políticos e partidos que estão no poder, o irônico, é que os nossos intelectuais e líderes vangloriam-se de tamanha façanha...uma triste página onde constatamos o nosso profundo fracasso como sociedade e arranjo institucional.

12 maio 2013

a ilha sem saídas reais

visitamos a ilha dos marinheiros com um objetivo definido, entrevistar o maior número possível de moradores para uma reportagem sobre políticas sociais, programa de transferência de rendas e linhas de pobreza, aspectos de justiça distributiva, qualidade de vida e bem-estar social e uma tentativa honesta, nem sempre exitosa, de calçar o sapato dos ilhéus e tentar olhar o mundo da perspectiva deles... a chegada deu-se, como sempre ocorre comigo, sob um clima misto de sensações e emoções  algo na linha aventura pela descoberta, responsabilidades compartilhada e receio de que algo saia da linha, em todos os casos, envolvimento.
a primeira observação geral, casas em ruas paralelas em linha reta sem nenhum calçamento ou   infra-estrutura, todas de madeira e vulneráveis ao frio, a chuva e ao poderoso rio Guaíba,  mas "a água é boa" , segundo as palavras de um morador que me protegeu de um cavalo de carregar papeis que parecia querer participar da pesquisa pois bastava eu começar a entrevista e ele se aproximava olhando de esguelha, mas com uma cara de gente boa...
entrevistei poucos, no beco 17, a linha mais dura em possibilidades humanas perdidas, no final da rua, uma senhora separava o lixo em um galpão,  mãos calosas, olhar duro e expressões fortes, sempre respondia não antecipado por um forte movimento de cabeça, alta, séria, indígena, "eu sou meio bugra"disse ela procurando os olhos com timidez, e sofrida, quase não conversamos, e ela só esboçou um sorriso quando apertamos as mãos e eu pedi desculpas por invadir o seu local de trabalho...
as perguntas que não vou reproduzir, não são suficientes, mesmo que, eventualmente, consigam dá voz a quem foi esquecido, embaixo da ponte, na ilha, quando da época da construção da ponte suspensa que leva ao sul do Estado, Pelotas e adjacências,  desde aquela época, poucos cuidados e muitos sofrimentos, aflições e uma vida em absoluta restrição sem um sorriso fácil...o que fazer quando se depara com esse mundo escondido diante de umas paisagens mais belas da tua cidade de viver? Certamente, o olhar das coisas abre o jogo das especulações  uma das entrevistadoras, jovem ainda, comentou de passagem, "as casas não são iguais e algumas são muito ajeitadas e a renda familiar é maior, mesmo assim..." respondi meio surpreso e sem convicções profundas, li em algum lugar que as capacitações do Sen são indivíduos especificas e, por isso, devemos entrevistar indivíduos...
depois no ônibus de volta, comecei a pensar sobre toda a manhã,  chegamos às 8h30 e voltamos cinco horas depois, uma insatisfação geral  e o olhar contaminado por minha formação  sempre procurava a vida econômica da ilha, um bar, duas bodegas e dois centros de coleta seletiva de lixo, um público e um privado, nada mais...sempre achamos que temos as soluções e tentamos atender os indivíduos,  mas, nesse caso, fiquei o tempo todo com a sensação de que a abordagem centrada no bolsa família e no orçamento participativo, ambos citados pela líder comunitária que nos recebeu, eramos 17, entre alunos e três professores, foi e é um grande equivoco porque ela não propicia uma vida econômica livre, independente e exitosa para os que por lá vivem, mesmo não tendo a minima ideia do que fazer, a impressão da manhã de sábado na ilha, cada cena, gesto e paisagem fazem parte da minha experiência e da minha, nossa, eterna limitação na abordagem das pessoas e de seus graves problemas, somos muito limitados e estreitos no desenho de políticas sociais, estamos errando o pior erro e caminhando para  o lugar nenhum, deixamos a ilha, mais uma, abandonada e sem saídas reais...

07 maio 2013

OMC, a cadeira tardia

muitos comentários sobre a conquista de uma cadeira de líder da OMC por um jovem diplomata brasileiro, em termos, o Patriota destaca a vitória dos emergentes, uma professora da FGV -SP fala em renovação e ressurgimento via ampliação do espaço decisório e da geografia decisória...em termos, relativizo tudo, afinal, se o grande bloco se formar no pós-crise, a omc será renovada em suas atribuições e alcance ou abrangência, até lá continuaremos sofrendo da síndrome de vira-latas que se regala com conquistas importantes, mas tardias e absolutamente datadas, no caso, mais uma nostalgia de uma conquista que nunca fizemos por onde merecer, ter ou ser, vale o mesmo ou pior para a participação no grupo permanente do conselho de segurança da onu, por isso, por essa conquista nostálgica, rompemos ou atenuamos laços com parceiros comerciais importantes e visitamos toda a Africa para explorara-la e recrudescer seu isolamento e dificuldades econômicas, uma lástima...