26 julho 2015

modestas, é verdade...

temos pouco tempo e muito ainda por fazer, é inaceitável o arranjo que convencionamos chamar de equilíbrio social, em falhas graves, nossas virtudes são poucas e de baixa propriedade. Em muitos há um apelo para uma radicalização, os da direita, mercado, os da esquerda, estado, no meio estamos nós, os de centro, sem problemas, estado, sem problemas, mercado, mas, por favor, vamos encaminhar mais efetividade para o combate às diferenças sociais, não faz sentido um país tão desigual ou com tantos em situação da mais absoluta miséria em muitas dimensões importantes para uma vida satisfatória. 
precisamos mais, um outro estado de bem estar social, mais efetivo e de mais generosidade e solidariedade a favor dos que estão fora da nossa 'posição original'. os dois grupos acima, com os quais não me identifico, assumem ares de sabedoria suprema, ungidos pelos deuses da reforma, sabem na ponta da língua a solução, o método e como implantar o estado de bem estado social do zero de miséria e fome e de muita fartura e riqueza.
Mais modesto e assumidamente triste com minha incompetência, reconheço que não sei o caminho da salvação e nem mesmo se atravessarei o portal do purgatório, o que venho de propor e saber é pouco, é uma combinação do Sen com o Lyndon Jonhson doméstico, o do combate a pobreza, não o da guerra, mais gastos em saúde e educação, contratos melhores para proteger os menos favorecidos e mais espaço para o debate público. Ao contrário dos que querem controlar a grande mídia e a internet, mais liberdade ali, mais grande mídia e mais internet livre. 
Acabaria com as obrigatoriedades do serviço militar e do voto, o lucro seria livre e o imposto progressivo sem procedentes, substituiria o imposto indireto, gradativamente, em poucas palavras, apenas o razoável, votos distritais, reeleições, menos e mais fortes, os partidos, e um sentido absoluto de tolerância pelo diferente. Na economia, a nova bossa seria o trivial nas contas públicas, um banco central autônomo e bancos públicos com capital aberto e transparentes, sinceramente, não há como apoiar privilégios para empreiteiros ou outros amigos da casa real, se quiser existir vai ter que se justificar com resultados guiados por princípios comuns a toda a gente. é uma proposta modesta e conservadora, diriam os da esquerda, é estatizante e intervencionista, diriam os libertários, como não tenho o dom da mágica ou o entendimento absoluta dos arranjos humanos, fico feliz com essa avaliação, errarei pouco, todavia.

19 julho 2015

o bardo e a feira

ontem fomos numa feira comunitária, em frente de um prédio velho que abriga uma loja que vende objetos usados "em bom estado de uso". Na realidade a feira era promovida pela loja, nesse dia, não há papel moeda, apenas troca-troca. Em Caruaru, no Pernambuco, e em Teresina, no Piauí, também funcionam feiras semelhantes, sem moeda, apenas troca. Contudo, o pedaço da troca da feira que fomos ontem no bairro industrial da cidade, não precisava levar algo para a troca, simplesmente, o convidado pode pegar o que quiser nas caixas e tendas em um espaço grande o suficiente para permitir livre circulação de pessoas. Havia de tudo um pouco, prataria, cristais, louças, caixas de guardar fichas acadêmicas, videos de computador, máquinas datilográficas com os respectivos manuais, TVs, pratos, talheres, canecas, roupas, até um "rabo quente" foi encontrado, tudo em condições plena de uso. 

Em um canto mais afastado livros diversos, fitas cassetes, cds e vhs, tudo espalhado ao livre alcance das mãos, sem restrições, os trabalhadores da feira ficam do outro lado, atualizando as bancas do pega lá sem trocas e ainda oferecem sacolas usadas para levar o que escolhestes.
A população da feira era de pobres num sentido bem especifico do termo, nossa classe média talvez seja uma identificação mais apropriada. Muitas línguas, crianças, velhos, sim, muitos brinquedos, patins, quebra-cabeças e instrumentos musicais para crianças, baralhos de encartes para estudar o vocabulário e bonecas de pano coloridas, caixas de música... 
Confesso o meu constrangimento, como assim, pegar algo se não tenho nada para dar em troca, se não trouxe nada? Em pouco tempo, percebi que a indelicadeza seria não participar, "como assim, não precisas, quem não precisa?" Timidamente me aproximei das tendas dos livros, a princípio não consegui me empolgar, livros em alemão sobre quase tudo e muito best-seller, nada relevante, 
Encontrei perdido numa caixa fora da tenda um Auster, em alemão, com receio olhei e resolvi ficar, até ali, não tocava nos livros. Todos olham, pegam, alguns resmungam e enchem caixas ou sacolas, ficamos atrás em silêncio, a pessoa da frente avança a esquerda ou a direita, entramos e estamos no jogo. Percebi depois de uma hora nesse ritual que os tesouros estão lá: matemática e estatística, Thomas Mann, Naipaul, uma pequena biografia de Menuhain e Rilke, em pouco tempo recebi três ofertas de sacolas, estava de mão cheias. Entendi que estava me empolgando, fiquei só com aqueles e taças de chopp do século dezenove. A feira continuou lá por todo sábado, em frente um parque com gansos do pescoço longo e brancos...

13 julho 2015

semanas decisivas

a cada nova semana uma expectativa, lava-jatos, odebrecht, redução da maioridade, reforma política, previdência e o impedimento, vetos presidenciais e ajustes fiscais, contas de campanha, lavagem de doações ou o contrário, tce e tse, stf, os gregos, merkel e os gregos do oxi, nein, o tsipras e o euro, fmi, irã e os eua, cuba, a embaixada, delações e outros tapas na mesa, semanas de tudo vai acabar na próxima semana ou recomeçar. Vivemos uma recessão e os indicadores sociais pioram, o desemprego aumenta, a violência urbana aumenta, os roubos aumentam, a essa altura até o Gini acordou, no entanto, o único  noticiário é sobre a 'semana decisiva'. perdemos a capacidade de diálogo, a oposição esqueceu o bom senso em nome de uma aposta arriscada e de uma, moralmente questionável, aliança com o pmdb do cunha e do renan. 
por uma semana menos decisiva e a volta ao trabalho e ao diálogo. Vamos ter eleições novas apenas em 2018, até lá temos que cuidar da inflação, desemprego, e todos os problemas sociais do mundo. Decisiva mesmo só a semana do colorado, mas aí é futebol...