23 janeiro 2006

opoetalenhador

A discreta cor, engana quem pensa em preto e branco ou coloridamente sem cor, vida não há que mereça uma solução incolor, indignadamente tardia a palavra repete o refrão, por que, por que nao queria saber onde ficava a rua ou a lembrança de uma só palavra do que tinhas? Com essas insidiosas passagens aboletou-se o mestre de obras no espaço entre os porcos e as latas de querosene na carroceria do destino, pau de arara imaginário o que nao inválida o sacolejo imaginário e a dura vida de sonhador, sonhar o verbo em linhas, romper a usura cardinal que vem com a manhã, sol e tal, melhorau, miniaturas postas em fila na escrivaninha, ainda alimentam a ordem das coisas, como se coisas rompessem o silêncio ou o verso que nao diz o que querias ouvir ou ser, melhor não, melhor assim, taquicardia, coração na carroceria, coração do amigo na hora do penalti, vida, mantenha o foco, arraste a mesa para o canto da sala, abra outra garrafa, desalinhe a fuga, fugas, cantatas, resto de notas harmônicas, cantem, soprem o tomo da ligadura que bombeia, sorria, liberte os que sonham da desconfortável anatomia, melhoras para os de fina cor, homens de bem, lenhadores na casa das arvóres onde sempre chove no telhado, poços artesianos, sol, lá fora o carro chama o coronel para quermesse, sombras somem com o sol, viva a letra, a composição, o carro não para na pocilga, porcos ainda correm entre latas, grunidos, e, lá, indiscritivelmente livre, o poeta segura o tranco e amanhã corrige a ortografia do lugar, coração.

16 janeiro 2006

pois bem!

Sempre com um sorriso franco ela nos recebia a tods de olhos atentos e acolhedores, querendo ouvir, por ouvir. A história contada por ela, qualquer uma, seguia um ritmo próprio, mas a forma como era contada, revelava, amor, calma, sabedoria, e a presença forte de uma nonagenária linda e carismática, quem se aproximava queria abraça-la, quem sabe para aprender um pouco mais de uma vida grande. Contrariando as previsões de quem ver sem olhar, ela nos surpreendia com candura, altivez e lucidez. Na minha despedida em janeiro consegui balbuciar um inexplicável a gente se ver ainda...ela olhou em minha direção e respondeu: a casa é sua, volte sempre!!!
Suas historias sempre eram ritmadas por um doce pois bem! seguido pelo dedo indicador batendo de leve na mesa grande e generosa, ali ficavamos, presos e encantados, com o ritmo, com os seus braços abertos envolvendo o próprio corpo e marcando o passo da próxima passagem do tempo....histórias surpreendentes de "rebeldia" com o papagaio ou de orgulho e determinação para cobrar respeito de quem tentou engana-la. Serena, sorriso amplo, ela recuava para lembrar que os desatinos eram fogo de palha, uma distração, nada mais, a fala seguinte era de alento, ternura e alegria, como quem reconta o que ouviu dos muitos outros em volta da mesa, apenas para atrair a atenção dos filhos, agregados, netos e bisnetos, todos atentos ao sagrado que fala por amor e em respeito ao desejo de proteção que todos buscavamos naquela senhora de olhos brilhantes, miudos e de uma cor indecifravel que nos recebia com bolos, cafes e afeto. Durante vinte e cinco anos de minha vida tive a sorte de compartilhar essa mesa e essas historias, sinais de amor eternos num canto qualquer da mesa, muito obrigado, por tudo!!!

11 janeiro 2006

alegorismos

Alegorias preenchem, por um instante, a imagem que queremos que elas definam, mas são artefatos da prodigiosa imaginação que interligam o circuito, a caixa mágica que projeta modelos e que permite uma visão tridimensional de qualquer imagem, nada que não seja pura ficção, alegorias, que pena não posuirmos uma caixa igual para o dia-a-dia, para a visão dos significados sutis de gestos, palavras e inações. Presos a uma regularidade previsível fisicamente, ainda nao sabemos como antever o que vem a ser o outro ou, pior, a confusão que se forma em grupos ou contatos, com os outros, mumifica-se a linha de conduta para evitar as imagens corpóreas não acessíveis. Gente que nao consegue sair da sua prisão, domiciliar ou não, por uma indecifrável condição peculiar de auto-flagelação ou medo de não conseguir recuperar os precatórios que a vida dispõe no ministério familiar ou público. A saída, inapropriada e descabida, é atribuir a terceiros ou aos mais próximos uma culpa por nossos fracassos, deles, e desferir gritos ou outros artefatos com o objetivo único de agredi-los indiscrimidamente, afinal somos o que eles projetaram. Equivoco maior nao há, essa alegórica fantasia de perda ou dano, como se o mundo estivesse nos devendo porque, circunstancialmente e, por consequência, acidentalmente, saímos perdendo na estaca zero das corridas, qualquer uma, se é que elas existem, as corridas. Suspeito que está na nossa disposição para a vida a outra aleogoria que nos faz ver coisas boas mesmo na adversidade e que nos faz idiossincrático.