31 dezembro 2006

Ponto cego

No apagar das luzes, como se fosse possível desenhar essa cena. O ano, a passagem de troca de ano, é simbólica e ritualística, nós, boboquesomos, ficamos tecendo comentários e levantando planos, para algo que é irreal, porque amanhã ou depois estaremos lá, no mesmo ritmo, contemplando a lista do que falta entregar, corrigir, rever, honrar, comprometer, sofismar, adiar, reviver, pagar loas, recordar. Mesmo assim, temos que listar as coisas que não funcionaram, e ai, voltamos a pensar na palavra dita, no tom de voz, no gesto forte que acaba agredindo ou afastando os outros, nada como uma sensata e equilbrada visita da razão: erramos quando assumimos uma verdade contra tudo e contra todos, quando o máximo que temos são convicções, interpretações e o desejo, aquele desejo construtivo que é capaz de transformar um time normal em um campeão do mundo e que faz um reserva sem expressão acordar uma cidade inteira em festas. É isso mesmo o ano foi de conquistas coletivas, conquistas de grupos não do indivíduo, sempre tinhamos a sensação de insegurança na terra, agora, no ano que passou, descobrimos por acaso que voamos em um ponto cego e que as colizões obedecem a uma loteria que não temos como antecipar ou evitar, concretamente, o crime organizado cresceu no interior de nossos presídios, nossas instituições foram aparelhadas e corrompidas, ainda não sabemos como construir o consenso que faz crescer, revivemos o voto apático no rouba mais faz, ainda agora, somos manipulados por estatísticas de governo, sem conseguir encontrar a américa profunda na beira da estrada de buracos, fomos ao espaço, é lamentável mas é verdade, mandamos dólares para o paraiso estrelar e isso é motivo de glória, afinal da bolivia a estação lunar somos todos movidos a gás , pequeno mundo da provincia ainda se amplia na voz popular sem mágoas, bolsa para a familia e cotas para a vergonha, sinecuras, prebendas, clientelismos, fisiologia da vida, mesmo assim bernadinhos ainda levantam a moral que dificilmente acredita no que viu, sim, temos um vencedor, mais uma vez, um grupo vencedor, uma ira divina que corta, saca, defende, passa, amplifica a vontade de cravar no chão a bola e levantar a dignidade de um projeto de nação, meu irmão, o ano das tuas dificuldades não foram estatizadas, ainda privatizam apenas a dor, quando deveriam privatizar aeroportos eanacs, e condenam a esperança, mas acabou o ano, a vida continua e agora, na terra dos campeões do mundo, sabemos, e como sabemos, que não há ilusão, e a grande conquista é preservar valores e a ética, essa teimosia de quem sonha, sem retórica, afinal tudo que temos está por conquistar.

08 novembro 2006

boa noite

meu amigo nao deixe as olheiras expostas ao escarnio, reative o mata-borrao, reponha as horas insones na cessao de cinema da esquina, revisite as páginas amarelas, deixe que a vida tome um curso, qualquer um, mas nao tente reter ou conter o horário de verão, minhas dicas, sao auto-destrutivas, portanto, ao ler uma ou duas, comece a antecipa-las pois elas se perdem na estacao, quando a porta fechar a cara dura, nao tema, é apenas um ferrolho, a macaneta ainda é flexível o suficiente para nao resistir ao aperto da mao, boa noite, entao...

23 outubro 2006

Sontaguianas

"O escritor deve ser quatro pessoas:
1. o maluco, o "obsedé"
2. o idiota
3. o estilista
4. o crítico
1. fornece o material
2. deixa que ele saia
3. é gosto
4. é inteligência
Um grande escritor tem os quatro - mas voce ainda pode ser um bom escritor com apenas 1 e 2; sao os mais importantes." (Susan Sontag - Diários (na folha))

22 outubro 2006

Vale tudo

Não é uma forma inteligente escolher contra principios éticos, parece óbvio esse preceito, no entanto, a vida como ela é, nas palavras do anjo pornográfico, não segue ou obedece preceitos, e estamos a um passo de estabelecer a canalha. Refúgios existem e devemos solicitá-los ou refugiarmo-nos ainda mais, nenhuma frase, nenhuma linha de raciocinio, pode convencer a verdade ou a cura da licao aprendida com o tempo, de que a expressão dos tempos é de conivência e precariamente solicita com o inconfessado mal uso do espaço público, vivemos o caos da linearidade emocional, nada de apelos convincentes à razão, melhor colocar no lugar comum as mudanças e apostar na pieguice da mesmice e do discurso maniqueista e adjetivado, como se a realidade, qualquer uma, fosse permeável aos apelos retóricos e ao afago da canalhice. Como explicar os valores que constituem a história recente do país sem desânimo ou sem duvidar da paz eterna, reconhecidamente estamos numa armadilha cruel em que valores sagrados como honra e correção de princípios e de vida são imolados na praça pública e a velha lei dos coronéis, dos velhacos, dos gersons, dos demagogos, dos que fizeram da origem uma bandeira, sem brilhos e sem honestidade, os vencendores de uma peleia sem regras ou respeito, na terra brasilis, valetudo não é mais título de novela das oito ou de luta livre, é refrão dos magos das urnas, dos que possuídos dos dotes da trapaça e o ardil da degola, enganam o ingênuo e o simples, o que sempre recebeu do poder a ilusao assistencialista e um tapinha nas costas. A vergonha não poderia assistir em jubilo um momento de ápice tão nítido como o rumo das coisas de estado no país dos intelectuais que a tudo esquecem em nome de um punhado de palavras e idéias datadas, mentirosas e reticentes....

14 outubro 2006

a volta

ainda consigo lembrar a forma de acesso o que significa que estou de volta, " feche os olhos, veja" o mar nao tem uma forma única, assim como as letras no teclado que mudam, circunstancialmente, as palavras...ainda sem querer participar do debate acho inevitável tecer comentários sobre o meu momento na madrugada e na orla, o vento sopra sem querer parar movido por um conjunto de forcas indecifraveis, nao modelaveis e o pais caminha para cisao, cisma da reforma, a unica que nao comecamos ou pensamos, porem, ela, a reforma, tornou-se inevitável...esse será o tema da volta.

23 agosto 2006

gruas

Sem palavras...a angustia da rotina eivada de compromissos não deixa o sujeito despir a sua dor, inclinar as costas doidas para respirar, enquanto arranja forças para anotar, uma por uma, as passagens religiosas do dia, mesma máscara sem tapumes, máscara pagã da dinastia semsangue, vaidade postergada, arrumação de papeis em pilhas justapostas e nenhum ordenamento possível, ao norte, assoma a grua reticente que antever a tomada de mais uma beatificação, movimentos cinematográficos sem cortes, sem editar o mesmo ritmo nas veias, e nos olhos a devastação do lugar, da memória e da hora, minha reflexão não sabe o que está acontecendo na coxia ou na orelha daquele livro adiado ou no repasto sem licor de uma alimentação noturna, minhas reflexões não conhecem o interior de uma coxia, muito menos a voz de quem descumpre o preceito do escudeiro, “é próprio dos sábios pouparem-se de hoje para amanha” mesmo com esse anátema ele insiste na mesma triste figura, sem saber em qual canal manter a sua atenção ou seu esforço por mais um combate ao roteiro improvisado, para mantermos a metáfora cinematografia.

15 julho 2006

na duvida a minha resposta, intepestiva, por que nao, é ficar silente, resolver na penumbra a dor da hora, a velha divida nao alinhada, a manifestacao da corte de socrates, mudana, cidadao do mundo, vestes soltas, barba sem alinhamento possivel, mas ainda temos as sandálias de dedos soltos, onde descansavamos da lida, sem temor, sem um sinal vital para esquecer, minhas sandálias, velha testemunha de tantos fracassos e de tantas viagens, ainda não estão imunes ao que significam, apenas estão quietas, na prateleira do tempo, inertes, mas, ainda conseguem despertar o nervo da memória, sem pesos, sem filtros, a memória fria do que poderia ter sido, do retorno sem possibilidades, a ncessidade da espera, a passagem de tantos momentos que, mesmo que evitados pela visita da glória, representam e representavam, esforço redobrado, atenção foco na esperança de que, mais cedo ou mais tarde, o vento muda, as peças conformam um encaixe, a luz ilumina e a rua, cheia de curvas, guarda seus cachorros e armadilhas, para liberar o transito que leva a farmácia.....

22 abril 2006

Argilas e digitais

Não há muito o que gravar mesmo porque cd nao tinhas e a virginal parelha era uma cristaleira orlada de recordações, as pedras distraiam o tempo e ainda municiavam o badoque, linhas, curvas, estradas de carpina e morros grotões a dentro, serpentes.... nao tinhas a menor noção do tempo sem aspas, sem o refrão do menino pagão, solitariamente na chapada, ao pé do muro, vastidão na descida, céu de qualquer um, piso de sonhos, diriam uns, outros, menos solidários, melhor seria, sustentavam, não partir, ser do lugar e ficar, bastaria, quem sabe, diriam outros, a melancolia seria uma lembrança vazia de palavras homonimas, ou de vidas, idem, por que nao? Todos os dias a mesma lista de noticias, a mesma indagação sem imaginação, o relato das humanas patifarias, a mesma luta diária com o trânsito e a fuga, o ponto de fuga, matematicamente proporcional, como nos potes de argila de Puebla Acoma, ou como as espirais das digitais, alegóricas, mesmo dia, mesma noite, sem fim, tardia, ainda que lenta e timidamente perdida, por que nao? Viajaremos no verão, para o mesmo lugar, quanta ironia e na descida contemplaremos os muros das casas que não estão mais na rua das pedras, mesmo assim, não aceitaremos o lugar comum sem a falta de vírgulas de antoniolobo....

09 abril 2006

conjecturas...

Havia conspurgado a página e desisitido das investidas do acaso, mas, como a própria reverência ao mesmo motivo, reponho as palavras no espaço em branco, agora, para revigorar a existência, qualquer uma, que permita uma revisão apropriada da expressão. Normalmente, não funciona fazer uma disciplina como ouvinte ou ler um material formalizado sem exercitar as dúvidas na ponta do lápis, afinal, como se chega aos resultados da função característica, supondo que já entendemos o seu significadou ou para que serve esssa função na compreensão do problema geral, etc? Mesmo que queiras, redimir os manuais da falta de conexão com a história real ou com a teoria real, nao podemos nos furtar da sistemática tentativa de entender cada demonstração e cada construto teórico ou arranjo axiomático na análise maior que chamam teoria ou explicação do real, a partir de bons constructos, palpites e proposições testáveis, esse arranjo abstrato, dedutivo, lógico é o que temos de melhor para entender o que quer que seja sem nos apegarmos exclusivamente á crença cega nos argumentos de autoridade ou em dogmas da emoção ou nos atributos da adjetivação que nao duvidam nunca e que dependem da sólida companhia da fé, dogmaticamente sem saídas, apesar de eventualmente confortados, apenas estaremos fortalecendo a nossa ignorância do mundo que tentamos, humanamente, entender....

04 março 2006

verbetes do beco

Na véspera de mais um certame o gaudio rever a prancheta onde havia anotado o indecifrável ardil, mesmo uma rua sem saída deve possuir possibilidades de fuga, rituais são previsivéis, mas atuam como uma linha imaginária que separa as estações de rádio ou do tempo, tanto faz, afinal a rua continua a mesma, sem saídas...O verbete na enciclopédia nao revela muita informação nova, apenas descreve as passagens que pontuam a evolução ou a saga ou a biografia de um certo lugar ou cidadão, nao há uma interpretação ou um diálogo com o sentido exato ou inexato, melhor seria, com a rede de intrigas que definem adequadamente o que Marledof sofria quando abanou Sônia à sua própria sorte no corredor da miséria. Há um psicologismo que não consegue entender uma doença orgânica, apenas. Sem querer, começava, o próprio, a conjecturar sobre as saídas do emaranhado que já vem "tecido" ou emaranhado,afinal reside no resíduo a lógica dos caminhos, mesmo os que dissecam a trajetória nao conseguem antecipa-la, advinha-la já é um acaso, voltamos aos ruídos brancos, página por página, a força da física newtoniana ainda conforta a mente que antecipa a queda dos artefatos em movimento, força, proporção, distância, eventos corpóreos que jogam dados, como na mente do velhinho de olhos e línguas soltos.

15 fevereiro 2006

Imagens

Supostamente, diz o letrado homem público, a ciência e boa parte da teoria que acompanha o relicário, perecem porque as irm(imagens por ressonância magnética) cerebrais indicam que as decisões humanas são emocionais e nao racionais, humanas, num sentido, como se a idéia de racionalidade não fosse humana, e, mesmo que assim seja, o pretexto era antepor ao sensato equilíbrio fiscal e bom companheirismo da prudência nos gastos um bestiário de idéias requentadas que apregoam a volta do populismo e a ilusão monetária, mesmice, é um bom sofisma para essas invectivas, mesmo que a saxônica virtude, se ela houver, dos utilitaristas nao resistam ao choque tecnológico, não faz o menor sentido recuperar o ministro das finanças e todas as suas crenças simplesmente porque a tonalidade vermelha ligada a eletrodos acusa o suposto lado cerebral onde jaz a emoção, e reparem que a imagem é unidimensional de algo impenetrável que funciona por descargas "elétricas" em ambiente desconhecido completamente pelos humanos e no erre três, sem a pachorra de uma honestidade qualquer o infeliz articulista, cita, na mesma linha de quem antepõe falácias com a autoridade de uma besta, para adornar de suposta sabedoria letrada o incauto que acolhe como argumento de autoridade uma verdade das cavernas, nostálgica e mesmo assim reacionária, como nos piores momentos das manifestações de governos pifios de protoditadores. Vangloriam-se de um passado sem conquistas apenas para defender um feudo que pereceu de morte completa por incontinência de mal resultados e por colocar a população em apuros através de uma ignóbil corrupta ascenção partidária.

01 fevereiro 2006

arquivomorto

a decomposição da caixa é tarefa de dias ou meses, há uma pré-seleção que é mental e outra que é física, corpórea, exige tirocínio, paciência e um sentido qualquer de razão de ser. Papéis nao faltam nesse mundo das caixas, começam por povoar a prórpria noção das caixas de arquivo, são, em essência, a caixa e seus segredos, uma para cada assunto, para cada situação posicional, para cada verbete, cantorias, vasta alusão a textos seminais, pastas de papéis que teciam a composição do dia, horários pré-definidos mas nunca alcançados, intangíveis, há também os papéis do tempo, aquela caixa esquece o bilhete sem sentido, a resenha incongruente, a versão preliminar de coisa nenhuma, a outra, mais recente, ainda guarda a esperança de uma visita solar, de um afago da lembrança, caixas como queríamos, seletivas, inócuas na sua capacidade de dar vida ao que não conseguiu sair do projeto, do promissor projeto de vida, mas que virou texto esquecido na caixa de arquivo da esquerda para a direita, quatrocentas, datadas, percorrem décadas, uma época de sonhos e outra mais sombria, época da sensatez e da razão, épocas dos riscos de menos e da aversão aos deuses, menos, quem diria, cabia, na caixa debaixo da mesa, que menosprezava a silente dor na perna que varicelava, doloridamente tardia, a caixa ainda sabe que será descoberta por algum reencontro, por uma vontade de recomeço que sempre assola os viventes nas pequenas coisas perdidas, ou na descuidada vontade de rever as possibilidades na linha imaginária que não conseguimos prender, virulenta, às vezes, a caixa provoca a ira, a mediúnica vontade de gritar, passado, enfim, revigorado....

23 janeiro 2006

opoetalenhador

A discreta cor, engana quem pensa em preto e branco ou coloridamente sem cor, vida não há que mereça uma solução incolor, indignadamente tardia a palavra repete o refrão, por que, por que nao queria saber onde ficava a rua ou a lembrança de uma só palavra do que tinhas? Com essas insidiosas passagens aboletou-se o mestre de obras no espaço entre os porcos e as latas de querosene na carroceria do destino, pau de arara imaginário o que nao inválida o sacolejo imaginário e a dura vida de sonhador, sonhar o verbo em linhas, romper a usura cardinal que vem com a manhã, sol e tal, melhorau, miniaturas postas em fila na escrivaninha, ainda alimentam a ordem das coisas, como se coisas rompessem o silêncio ou o verso que nao diz o que querias ouvir ou ser, melhor não, melhor assim, taquicardia, coração na carroceria, coração do amigo na hora do penalti, vida, mantenha o foco, arraste a mesa para o canto da sala, abra outra garrafa, desalinhe a fuga, fugas, cantatas, resto de notas harmônicas, cantem, soprem o tomo da ligadura que bombeia, sorria, liberte os que sonham da desconfortável anatomia, melhoras para os de fina cor, homens de bem, lenhadores na casa das arvóres onde sempre chove no telhado, poços artesianos, sol, lá fora o carro chama o coronel para quermesse, sombras somem com o sol, viva a letra, a composição, o carro não para na pocilga, porcos ainda correm entre latas, grunidos, e, lá, indiscritivelmente livre, o poeta segura o tranco e amanhã corrige a ortografia do lugar, coração.

16 janeiro 2006

pois bem!

Sempre com um sorriso franco ela nos recebia a tods de olhos atentos e acolhedores, querendo ouvir, por ouvir. A história contada por ela, qualquer uma, seguia um ritmo próprio, mas a forma como era contada, revelava, amor, calma, sabedoria, e a presença forte de uma nonagenária linda e carismática, quem se aproximava queria abraça-la, quem sabe para aprender um pouco mais de uma vida grande. Contrariando as previsões de quem ver sem olhar, ela nos surpreendia com candura, altivez e lucidez. Na minha despedida em janeiro consegui balbuciar um inexplicável a gente se ver ainda...ela olhou em minha direção e respondeu: a casa é sua, volte sempre!!!
Suas historias sempre eram ritmadas por um doce pois bem! seguido pelo dedo indicador batendo de leve na mesa grande e generosa, ali ficavamos, presos e encantados, com o ritmo, com os seus braços abertos envolvendo o próprio corpo e marcando o passo da próxima passagem do tempo....histórias surpreendentes de "rebeldia" com o papagaio ou de orgulho e determinação para cobrar respeito de quem tentou engana-la. Serena, sorriso amplo, ela recuava para lembrar que os desatinos eram fogo de palha, uma distração, nada mais, a fala seguinte era de alento, ternura e alegria, como quem reconta o que ouviu dos muitos outros em volta da mesa, apenas para atrair a atenção dos filhos, agregados, netos e bisnetos, todos atentos ao sagrado que fala por amor e em respeito ao desejo de proteção que todos buscavamos naquela senhora de olhos brilhantes, miudos e de uma cor indecifravel que nos recebia com bolos, cafes e afeto. Durante vinte e cinco anos de minha vida tive a sorte de compartilhar essa mesa e essas historias, sinais de amor eternos num canto qualquer da mesa, muito obrigado, por tudo!!!

11 janeiro 2006

alegorismos

Alegorias preenchem, por um instante, a imagem que queremos que elas definam, mas são artefatos da prodigiosa imaginação que interligam o circuito, a caixa mágica que projeta modelos e que permite uma visão tridimensional de qualquer imagem, nada que não seja pura ficção, alegorias, que pena não posuirmos uma caixa igual para o dia-a-dia, para a visão dos significados sutis de gestos, palavras e inações. Presos a uma regularidade previsível fisicamente, ainda nao sabemos como antever o que vem a ser o outro ou, pior, a confusão que se forma em grupos ou contatos, com os outros, mumifica-se a linha de conduta para evitar as imagens corpóreas não acessíveis. Gente que nao consegue sair da sua prisão, domiciliar ou não, por uma indecifrável condição peculiar de auto-flagelação ou medo de não conseguir recuperar os precatórios que a vida dispõe no ministério familiar ou público. A saída, inapropriada e descabida, é atribuir a terceiros ou aos mais próximos uma culpa por nossos fracassos, deles, e desferir gritos ou outros artefatos com o objetivo único de agredi-los indiscrimidamente, afinal somos o que eles projetaram. Equivoco maior nao há, essa alegórica fantasia de perda ou dano, como se o mundo estivesse nos devendo porque, circunstancialmente e, por consequência, acidentalmente, saímos perdendo na estaca zero das corridas, qualquer uma, se é que elas existem, as corridas. Suspeito que está na nossa disposição para a vida a outra aleogoria que nos faz ver coisas boas mesmo na adversidade e que nos faz idiossincrático.