22 março 2015

A autoestima do brasileiro

em seu livro de 1998 sobre igualdade de oportunidade, Roemer, um marxista analítico, matemático e pesquisador sobre jogos cooperativos, apresenta um modelo matemático para explicitar o desenho de uma política de igualdade de oportunidade em educação.
A política de igualdade teria que atenuar ou compensar as pessoas por suas circunstancias adversas e, ao mesmo, tempo valorizaria ou incentivaria o esforço pessoal. Teríamos assim, para ir logo ao ponto, que investir muito em educação e teríamos que direcionar relativamente mais recursos para os mais vulneráveis ou mais pobres ou, o que é o mesmo, os que, por algum motivo, eram os que possuiam uma vida marcada por circunstâncias adversas.
No final do seu raciocínio, porém, Roemer destaca que mesmo essa destinação de mais recursos e em escala generosa para os que estão em piores circunstâncias, (não esquecer do grau de esforço realizado por essas pessoas), é pouco ou insuficiente, porque, ao cabo e ao final, "autoestima não é transferível e a capacidade da renda ou recursos recebidos pelos vulneráveis de conseguir se transformar em autoestima é reduzida ou imperceptível" essa longa frase não é exata e a retrato de memória parcial, mas o sentido está correto e compatível com o que Roemer queria dizer.
Acredito, que o não entendimento do alerta do Roemer, é o principal equivoco de nossa política social dos últimos 12 anos, para ser honesto, teríamos que voltar um pouco mais no tempo, mas diante da defesa do bolsa família realizada pelo governo dos últimos 12 anos, ficamos com esse período apenas. Transferimos renda para os mais pobres e miseráveis (nota mental: não gosto dessa expressão), é verdade, mas nossas escolas públicas para crianças e nossos hospitais públicos para pessoas de baixa renda, continuam disfuncionais e incapazes de fornecer atendimento, serviços e nossas escolas públicas são incapazes de fornecer educação ou ensino em condições mínimas ou satisfatórias ou razoáveis para a população de baixa renda.
Roemer, no mesmo paragrafo do capítulo nove, nos lembra ainda que o esforço de educar-se gera autoestima e que ser educado é a forma mais efetiva de conquistar autoestima. Assim, na visão de Roemer, mais do que empregabilidade ou capacidade de gerar renda futura, educação cumpre também esse papel de elevar nossa autoestima pelo simples fato de nos emponderar com discernimentos...
Essa longa introdução para defender mais gastos com educação e uma escolha mais criteriosa de ministros para área da ciência, tecnologia e educação no Brasil. Conjuntamente com o redesenho da política social para que ela realmente gere autoestima em escala sem precedentes entre nós e para todos. O detalhe, sempre ele, é o que ou como fazer ou implementar essas políticas, o próprio Roemer não se propõe a responder essa questão, e, sim, o mais difícil é criar é viabilizar essas escolhas. A ironia é que o combate a pobreza no Brasil acabou nos prendendo numa armadilha de baixa autoestima.