28 dezembro 2014

o olhar de janio

o articulista da folha conseguiu justificar a opção da presidente re-eleita por cid gomes para a pasta da educação e a escolha de aldo rebelo para a pasta da ciência e tecnologia e ainda consegue ver méritos nessa escolha: "deu [a presidente] prioridade à montagem de uma estrutura política forte". Um absurdo para qualquer um com algum sentido de bom senso e de zelo pelos destinos da nação, sem ironias. Ainda mais eloquente, arremata: "o futuro ministério tem tropas mais firmes no congresso e ...nos estados mais representativos da opinião pública". Como diria um amigo dileto, gol da Alemanha. Porém, o mais grave, vem em seguida, uma perola reveladora do como entendemos economia em 2014. 
Para intuir a visão de economia do famoso articulista reproduzo o texto para, em seguida,  destrinchar o que o notório diz ou insinua, com enfase. Ao dizer que esse ministério é para ela [a re-eleita] uma fuga para um período de administração sem "passadas largas e inovadoras" e que isso é bem nítido na escolha do botafoguense Levy, portanto, fracassado porque o seu time caiu para segunda divisão, para a pasta da fazenda, um neoliberal, conservador e amigo de banqueiros, faltou dizer, mas é óbvio aqui: "O que se insinua é mesmo a concepção do botafoguense Joaquim Levy: investimentos e transformações sociais rebaixados para segundona."
Dificilmente encontraremos um texto tão precário e absolutamente equivocado no jornalismo da fsp nos próximos dias, uma vertiginosa irresponsabilidade que revela muito sobre o total desconhecimento dos efeitos de uma política fiscal irresponsável combinada com uma política monetária claudicante e com erros grosseiros de condução da política econômica. O articulista ainda acata o primarismo de achar que o que compromete a política sociall é a casa em ordem, o controle da inflação e a restauração de aluma credibilidade econômica fundamental para retomar crescimento e prosperidade, um horror.

14 dezembro 2014

Externalidades invisíveis

"Quem cheira pó não prejudica os circunstantes"(Drauzio Varella, na fsp de 13/12/14) é um raciocínio torto, mesmo sendo empregado para apoiar  uma causa nobre, o combate ao uso do cigarro em ambientes públicos. O Varella sempre se posiciona bem, mas nesse caso esqueceu de observar que o eventual cheiro em público da cocaína teria/têm efeitos deletérios graves, mesmo que não visíveis na forma de fumaça e se constitui, portanto, um péssimo argumento lógico e/ou  retórico. Aliás, boa parte da externalidades negativas provocadas por indústrias poluidoras são invisíveis e os seus efeitos negativos são de médio e longo prazo, tornando a regulação e a forma de orquestrar a produção socialmente ótima das mesmas um quebra-cabeça complexo e de difícil equalização e quase impossível de se obter consenso satisfatório para o meio-ambiente. Enfim, uma boa causa pode induzir um articulista a apoiar uma externalidade negativa ainda mais grave...

23 novembro 2014

coisas que não faríamos

a lista é grande e nem mesmo existe, já falamos sobre ela em outra ocasião, mas é importante falarmos novamente, pelo menos de um aspecto ou sobre um ponto da lista inexistente. Sim, não aceitaríamos receber um milhão e meio de reais por uma consultoria, sem chances. Olhando na casa das possibilidades, gênios da humanidade, recebem, depois de uma longa carreira, uma premiação inferior ao milhão depois de descontados os impostos e só depois de uma longa e excessivamente competitiva disputa.
Na melhor das hipóteses uma grande descoberta tecnológica, um belo roteiro para o cinema, um novo fármaco capaz de curar de uma doença popular e até então incurável, poderiam entrar para lista de remuneração aceitáveis para tal consultoria, em todos os demais casos e, principalmente, nos casos alegados, não aceitaria, seria um escárnio, uma afronta a inteligência humana, uma ignóbil confissão de falcatrua e de negócios torpes...

16 novembro 2014

Não sabemos, mas vai piorar...

sempre começamos dessa forma, um pensamento recorrente, não sei, mesmo assim, alguns segundos depois deixamos escapar uma enxurrada de respostas e de conteúdos todos tentando articular o que não é possível saber. 

Nesse momento mesmo, ficamos imaginando o que vem de ser o segundo mandato da senhora presidente. Particularmente, não acredito em descontinuidades ou em quebras institucionais, não apoio as ideias de ruptura do mandato, a não ser que algo muito grave apareça, o que não parece ser o caso, mantenho minha convicção que o caminho da oposição é outro. 

Em tempo, porém, o que será o segundo mandato da presidente na economia? Esse exercício é ficcional, podemos apenas desenvolver crenças sobre o que virá pela frente. E o roteiro para construir crenças é ideológico em um sentido especifico, imagina-se o que o outro é ou pensa e deduz-se, "bayesianamente" a crença, Qualquer outra possibilidade é tão temerária e arriscada, quanto.
Dito isso, vamos aos palpites:

  1. o modelo nacional-desenvolvimentista será aprofundado e a economia vai continuar patinando com riscos sérios de agravamento da instabilidade macroeconômica. Reluto em acreditar que alguém que defende conceitos e proposições econômicas tão intervencionistas e que defende um projeto ainda da velha esquerda, vá mudar o seu próprio rumo por conta de sopapos do abstrato jogo de mercado. Seguiremos sendo o que fomos, com duas pioras...
  2. a primeira piora que aqui também é o segundo palpite: a medida que crise da Petrobras se agudizar e ameaçar o planalto o governo e o pt vão apostar numa reforma política por instinto de sobrevivência, isso vai ajudar a afundar ainda mais os investimentos e vai agravar o quadro já frágil da economia.
  3. a segunda piora, depois de ganhar uma reeleição no sufoco, a presidente e seu partido, vão tentar legitimar a regulamentação da mídia como forma de cumprir promessas de campanha. 

Isso também afugenta investimentos e coloca em risco o estatuto da liberdade de expressão, mas pelo dna e pela convicção desse dna e como forma de aglutinar a esquerda, o governo vai cometer os dois agravantes ou pioras, simultaneamente.

15 novembro 2014

o pior que somos nós...

inflação, não só do limão, baixo crescimento, alta do dólar e prisões em série de executivos de empreiteiras e de ex-diretores da Petrobras...difícil ficar insensível ao noticiário do dia, 14/11/2014. Porém, o que mais choca é a reação dos que seguem politicamente os responsáveis por esse episódico quadro de horrores, quase todos, tentam incriminar os outros, tentam respingar culpa na oposição ou, simplesmente, se omitem, e silenciam, logo eles, que sempre foram atentos aos apontamentos morais, ao denuncismo e à defesa dos bons modos republicanos.

Triste observar mais uma inversão completa de valores, nenhuma reflexão, nenhuma cautela, nenhuma parada técnica para uma autocrítica em relação ao miserável estado das artes que chegamos, uma colossal corrupção endógena. Tentam, apenas, atenuar, burocrática ou juridicamente, a situação dos verdadeiros culpados, e tudo em nome de questões ideológicas mesquinhas.

Se continuarmos assim, não teremos mais chances de construir um arranjo de país digno e justo, teremos falido como projeto de sociedade ou de justiça. Ou revisamos essa estrutura agora ou ficaremos indefinidamente presos à velhacaria, ao oportunismo, ao salve-se quem puder, a uma armadilha que acentua nossas desigualdades e que aumenta o que há de pior em nossa economia. Ao perdermos a possibilidade do discernimento moral,  vamos para o pior que somos nós...

02 novembro 2014

a primeira semana

ando sem tempo para recolher impressões, logo após a confirmação dos resultados quase bati verbalmente e apanhei de amigos petistas, uma surra verbal que foi resolvida com jack daniels, tucunaré e cerveja tijuca, uma longa noite, ao final, dormimos todos no mesmo quarto de hotel, uma falsa festa, só a dor da derrota era real.
A derrota foi apertada, é verdade, mas nem por isso, menos cruel. Ganhou o açoite e o ataque a reputações, pouco ou nada discutimos em idéias e um bom político, jovem e de prestigio e bem acima da nossa média foi massacrado por uma campanha sem precedentes em baixarias, transformamos as redes sociais em precariedade humana explicita, será difícil reconstruir o diálogo depois desse episódio.
Continuaremos por mais quatro anos sendo conduzidos por uma senhora sem habilidade política, com uma visão estreita de economia e com um voluntarismo para práticas danosas de gestão que beira o teatro do absurdo. Venceu, porém, a democracia e a soberana vontade da maioria, que ela, a eleita re-eleita, tenha a sorte e a sabedoria que lhe faltou no primeiro mandato e que consiga recompor a economia para que voltemos a prosperar e que esqueça de vez a volta da inflação, daqui a 4 anos nos encontraremos novamente, não com ela, mas com os resultados dessa segunda experiência, até lá serei o opositor de sempre, porém mais maduro devido à quarta derrota seguida, essa ultima a mais difícil em todos os sentidos.

22 setembro 2014

a dicotomia do atraso

no artigo de domingo da fsp o Samuel Pessôa explora o que ele considera as duas agendas em debate no país pré-eleições, uma a da consolidação do que ele chama de um "Estado de Bem-estar social padrão europeu continental no Brasil" a outra, equivocada e superada, a implantação do que ele define como "Estado nacional-desenvolvimentista no Brasil". Pessôa apenas cita o primeiro ponto e depois dedica-se ao diagnóstico da segunda agenda, pontos fracos principalmente. 

Na realidade, precisaríamos desenvolver argumentos para consolidar a primeira agenda. o que, inexplicavelmente, não é/foi o foco das nossas discussões no período pós plano real. Entender porque isso se deu dessa forma não é tarefa fácil, particularmente, creio que é fruto da nossa incapacidade de pensar para além dos maniqueísmo dicotômico, neoliberalismo x estatismo, sem nada entre as duas concepções. 

O paradoxo dessa trajetória de debate é que ao negar as reformas do real e ao simplifica-los com o epiteto neoliberal o partido dos trabalhadores se afasta de uma agenda social democrata legitima e da possibilidade de construir a primeira agenda. Acontece, porém, que ao defender as conquistas do plano real através das importantes reformas pró mercados, o partido da social democracia brasileira também se afasta do projeto de consolidação do estado de bem-estar social porque esquece ou pouco privilegia o social na agenda de futuro do Brasil. 

Resumindo, temos o partido dos trabalhadores defendendo uma agenda social com métodos e modelos de economia populista e intervencionista e que contemporiza com experiencias socialistas bizarras na América Latina. Por sua vez, o partido da social democracia brasileira se afasta da agenda social para se dedicar a temas como eficiência de gestão, autonomia do banco central, boas regras de governança e bom ambiente de negócios, fundamentais, é lógico, porém incompletos. O ideal seria uma combinação dos dois focos e abandono dos modelos de ambiente da guerra fria. Até  aqui, a cegueira ideológica do partido dos trabalhadores com sua insistência no modelo nacional-desenvolvimentista tem inviabilizado. 

Como resultado bruto, esse quadro de cultura tem nos empurrado para um baixo crescimento econômico, inflação elevada, artificialmente na casa dos 6% a.a, populismo creditício, arranjo fiscal insustentável e baixa produtividade em geral, tudo sustentado por um programa de transferência de rendas que, até aqui, tem dado sustentação e continuidade ao projeto anacrônico do partido dos trabalhadores. A conta tem sido paga pela população de baixa renda que sofre com acesso a serviços públicos precários em transporte, saneamento, educação e saúde o que nos afasta ainda mais do pacto de bem-estar social da constituinte  de 1988 e que pode nos colocar numa armadilha de pobreza endógena. Estamos criando um espaço propicio a aventuras populistas radicais do passado de desprezo pela democracia , etc... 

20 setembro 2014

Os jornais da terra do bardo

“O banheiro não é uma biblioteca.”(Dráuzio Varela, na fsp)
Os dados brutos não têm problema, a questão foi na hora de calcular o numerinho que compõe a amostra...”(Roberto Olinto, diretor do IBGE, no Globo)
“É tempo suficiente para Dilma “encher seu lago Paranoá de votos” na base do medo das pessoas. (Fernando Rodrigues, na fsp)
No primeiro artigo lido do dia um breve tratado sobre hemorroidas e os cuidados com a leitura no banheiro. No segundo uma trapalhada ainda maior, depois de várias controvérsias na sua história recente, a pesquisa nacional por amostra de domicílios (PNAD) que indexa 90% ou mais dos artigos acadêmicos em ciências sociais aplicadas no Brasil, aparece rasurada e desacreditada, por um erro nos arredondamentos e uma inversão no sinal da primeira deriva para a trajetória temporal do indicador de distribuição de renda que, abruptamente, passou de em crescimento para, novamente, em queda. 

Por fim, o outro sinal, a pesquisa eleitoral do datafolha, tudo junto e alinhado, aponta queda ou estagnação da candidata Marina que até então era a única com chances reais de bater o status quo,  e indica ampliação dos outros dois candidatos, Aécio, subida sólida e reversão de expectativas e para a presidente sugere que a sua densidade eleitoral teria retomado indicadores na casa dos 37% das intenções de votos no primeiro turno e que empataria tecnicamente no segundo turno.

Tudo junto, dia inglório, uma sinalização de que a tática do terror teria, mais uma vez, vencido e conquistado votos para preservar um país de equívocos em todas as áreas, até mesmo entre e nos indicadores sociais, agora totalmente desacreditados.


Um dia de sol e temperaturas agradáveis, uma brisa primaveril e uma luz já distinta, que alegra sem eufemismos. Uma luz de bem com a vida e com as realizações humanas, só os jornais que destoam, evocam o obscuro continuísmo de uma senhora sem traquejo e com um forte pendor para equívocos grosseiros, uma pena.

14 setembro 2014

os erros da coroa

difícil dizer o que é mais grave no programa partidário da presidente, mas a peça sobre a independência do banco central é o catalisador maior de todas as banalidades, maniqueísmos e atrocidades cometidas em nome de erros, muitos erros. Supor que independência formal do bacen para regular e buscar a preservação do poder aquisitivo da moeda e a credibilidade e integridade do sistema financeiro significa entregar aos banqueiros o poder supremo sobre o regulador é uma falácia acompanhada de equívocos econômicos grotescos, má fé e um ódio e desprezo pelo razoável, no mínimo.

Agências de regulação nunca são independentes do fato de ter de prestar contas e de exercer decisões com transparência e acurácia, apenas, em se tratando de política monetária e de cuidados com o sistema financeiro, é crucial que o banco central não seja manipulado, capturado e usado pelo governo de plantão. Os riscos dessa captura são inúmeros e reais, desde a leniência com a inflação para acomodar interesses não republicanos até o a corrupção ativa via chantagens e benesses para bancos em troca de favores e outras prebendas não republicanas igualmente.

o argumento, ainda outro, a favor da independência regulatória que exige sim prestar contas à sociedade e ao congresso, aos representantes do povo, é de outra monta, a construção de critérios objetivos e de metas claras de combate a inflação exige credibilidade do país e do bacen e isso, essa credibilidade é essencial para o crescimento de longo prazo, não há investimentos bons em sociedades onde o bacen segue o discurso populista de plantão e que não busca incessantemente a estabilidade da moeda e das regras que norteiam o sistema financeiro. 

Esses pontos acima são tão elementares hoje em dia e largamente compreendidos por governos de diferentes matizes ideológicos, que, ao cometer aquela peça propagandística o governo da presidente jogou por terra qualquer possibilidade de imprimir legitimidade futura ao estado de negócios na república Brasil, não a teremos com esse governo e, principalmente, com esse discurso.

24 agosto 2014

a trama imperfeita e cega

muitos comentaram o resultado da copa do mundo, afinal, conseguimos realizar o evento múltiplo e as piores previsões não ocorreram, não tivemos apagões em geral, os aeroportos não ficaram congestionados e todos os jogos transcorreram normalmente, até a segurança foi adequada...

...duas hipóteses explicariam aquele feito, a mais óbvia e chapa branca, apontaria o sucesso do planejamento e da condução da coisa toda pelo governo, etc, algo absolutamente insustentável. Outra linha, no entanto, sustentaria que  fomos o que fomos, porque todo o processo, desde as obras até as concessões de impostos e mudanças na legislação foram duramente questionadas pela oposição, pela imprensa internacional e, timidamente, pela imprensa nacional...

....fenômeno semelhante, o papel da oposição para evitar grandes desvios de rotas e grandes tragédias em eventos em geral e na economia, em particular, é fundamental e, certamente, ajuda a explicar o sucesso de sociedades com longa tradição de respeito e inspiração democráticas. Ao se opor e ao criticar acabamos provocando ajustes tanto do lado da oferta como do lado da demanda,  que nos empurram, a todos, para um equilíbrio mais razoável onde tudo funciona melhor, um equilíbrio mais próximo de um bom ajuste, ainda que imperfeito e cheio de pontos cegos. 

Essa é a sorte dos governos democráticos de plantão, poder corrigir rumos na política econômica no calor do debate com os opositores, não enxergar essa trama, de certa forma, endógena, é uma fonte constante de fracassos de sociedades com viés autoritário ou populista, uma tragédia comum, aliás....

03 agosto 2014

O jogo da renegociação de dívidas

Um exemplo no capítulo 6 de Barron (2013), sobre jogos cooperativos, ilustra o que pode ter ocorrido na negociação da divida Argentina.
Um devedor não consegue pagar todos os credores e quer fazer um acordo sobre o % da divida que será realmente paga para cada credor. A composição da dívida total seria de R$ 125.000,00, assim dividida por credor:
Credor A – R$ 50.000,00
Credor B – R$ 65.000,00
Credor C- R$ 10.000,00
Acontece que o devedor só dispõe de um montante de R$ 100,000,00 para realizar os pagamentos. Numa tentativa de acordo rápido o devedor se propõe a pagar 80% da divida de cada credor, conforme o quadro resumo abaixo. E deposita antecipadamente o montante disponível para caracterizar o pagamento e forçar um acordo rápido.
Quadro Resumo: proposta ingênua
Divida
Valor
Percentual
proposta
%Credor
Credor A
50.000
40
40.000
80
Credor B
65.000
52
52.000
80
Credor C
10.000
8
8000
80
Total
125.000
100
100.000





Os credores não aceitariam o acordo proposto por motivos óbvios, eles podem se unir e conseguir uma acordo melhor. Acontece que eles podem atuar em conjunto e tentar obter um percentual maior dos recursos que foi emprestado. 

Um raciocínio não elementar pode levar cada credor a imaginar o pior cenário o que evidenciaria o que eles poderiam ganhar nesse caso especifico. O pior cenário para um dos credores seria a situação em que os outros dois entram num acordo mútuo e conseguem receber o pagamento integral das suas parcelas ficando para o primeiro o que sobra dos recursos depositados pelo devedor, nesse caso teríamos: “os outros recebem pagamento integral de suas dividas e eu não recebo o que sobra.”

Veja isso é fácil de calcular. O Credor (A) receberia R$ 25.000,00; [ B e C receberiam integral].  Nessa mesma lógica Credor B receberia  R$ 40.000,00 e o Credor C não conseguiria receber nada.
Outro aspecto dessa visão pessimista seria fica com a sobra depois que o outro recebese integral, agora teríamos um acordo dois a dois para dividir a sobra o que daria, por exemplo, R$35.000,00 para ser dividido entre A e C e assim por diante. Por fim, todos os três poderiam formar  uma coalizão grande e receber o montante total e promover uma divisão entre eles..

Esses números permitem encontrar o valor (de Shapley) que seria justo entregar para cada  credor dado o seu real poder de negociação de cada jogador. Mesmo omitindo-se detalhes e a formula para esses cálculos chegaríamos ao quadro resumo seguinte:
Quadro Resumo: proposta ingênua e proposta com Barganha real
Divida
Valor
Percentual
proposta
%Credor
Valor Shapley
%Credor
diferença
Credor A
50.000
40
40.000
80
39.170
78,34
-1,66
Credor B
65.000
52
52.000
80
54.170
83,33846
3,338462
Credor C
10.000
8
8000
80
6.670
66,7
-13,3
Total
125.000
100
100.000

100.010



Veja que agora o menor credor receberia  apenas 66,7% do montante de recursos que emprestou o que seria 13,3% menor do que lhe foi oferecido na proposta original. Ou seja, com a possibilidade de forma coalizões o maior Credor (B) receberia uma parcela bem maior de pagamentos e os outros receberiam relativamente menos de acordo com o poder de barganha relativo que possuem na coalizão de todos em acordo.


Portanto, a Argentina teria um ponto nesse imbróglio porque, talvez, a presença do juiz americano para arbitrar a renegociação da divida altere o poder de barganha a favor dos credores menores o que, além de negar  Shapley, não parece  justo em um sentido não só econômico.

30 julho 2014

Esqueçam a desigualdade

combatam a miséria, teria dito, um prestigioso pesquisador empírico sobre distribuição de rendas no começo dos 1990, [lembrar de encontrar  a referência completa e citação específica], esse discurso, continua o analista, teria convencido o todo poderoso Lula logo no inicio de seu mandato, desse roteiro teria nascido o fome zero e depois a explosão do bolsa família  e todos os conhecidos desdobramentos, re-eleição do próprio e depois a verticalização de postes, o midas transformaria Dilma, um sem paradeiros, mesmo sem entender nada do setor enérgico, em presidente eleita e com reais chances de ser reeleita depois de um desastroso governo. 
Em tempos de bigornas a vida dá voltas, melhor, a vida sempre surpreende, agora, passados todas as crises e o rumoroso e inefetivo fracasso da economia de mercado no império e na comunidade econômica européia, o discurso mudou completamente, seria o aumento da desigualdade e a desigualdade em si, o fenômeno a ser combatido e o discurso voltar-se-ia para o combate à desigualdade, isso, pasmem, porque a desigualdade nos EUA atingiu a perigosa casa dos 0,37 de Gini, lembrem que, no mesmo período, ou por todo o período, nosso Gini nunca ficou abaixo dos 0,52, estupendo. Somos o país mais desigual ou quase do mundo e só agora, porque um francês que morou e publicou nos EUA e que escreveu em francês uma peça quilométrica com teses sobre a inevitabilidade da desigualdade americana alcançar níveis brasileiros por conta da suposta inevitabilidade do r (retorno do capital) seguir maior maior do que o g(taxa de crescimento). O oportunismo humano não tem escrúpulos, agora, sabemos o erro de toda a política social anterior, e ainda precisamos crescer, uma rigorosa análise exigiria um mea-culpa, muitos pedidos de desculpas ou inevitabilidade de uma derrota convincente, daquelas para mudar a história. Nosso comportamento ideológico padrão, no entanto, nos colocará no mesmo lugar e o mais provável, nos tornaremos mais desiguais, mais pobres e sem moeda, enquanto isso, o famoso francês será desmentido  em suas casas, a francesa e a americana.

27 julho 2014

não vamos bem e não é só no futebol

perdemos como nunca, perderemos, se continuarmos nessa sequência de estágios sem controle ótimo, também em outros campos, o social e o econômico, se continuarmos com essa teimosia dos condutores da coisa pública. Excessos a parte, o governo deveria mudar o rumo, abandonar os projetos de briga com o mercado, seja lá o que isso signifique, e deveria adotar uma postura outra, menos intervenção no Bacen, menos maquiagem de contas públicas, menos bndes e, principalmente, mais liberdade econômica. Esse desenvolvimentismo de manual da década dos 1950 não serve para o mundo que vivemos. Ao certo mesmo, nem sabemos se já serviu um dia. Não é possível manter a economia girando em empregos pequenos e com baixa produtividade geral e apostando no direcionismo e no gasto público sem freios...blá, blá, blá. 
essa ladainha já foi repetida inúmeras vezes e todos estamos cansados de repeti-la e de ouvi-la. O diagnóstico é cansativo, como é cansativo e desgastante, sem redundâncias, comprar briga com o partido no poder, eles tem muita culpa, são culpados, mas todos somos e, portanto, o diálogo é necessário, e se alguém vai fazer a transição para um país melhor, a equação vai ter que incluir os que estão no poder por 12 anos seguidos, essa é a novidade, eles estão  cegos e errados, mas não é o ódio que vai faze-los enxergar que o país precisa de outra bossa de outra forma de atuação para superar o estágio um de inclusão social e prosperidade. Depois da estabilidade macroeconômica e do ajuste geral, deveria vir a virtude das políticas públicas e uma maciça dose de racionalidade econômica. Estamos fazendo exatamente o contrário, estamos jogando fora o pouco de racionalidade, credibilidade e previsibilidade que conquistamos com o Real por um projeto que não faz sentido em lugar algum, está na hora de conversarmos mais sobre ideias, boas ideias, e  de abandonarmos as trincheiras, isso é necessário para que consigamos evitar outro vexame, outra goleada, essa, a do fracasso econômico, bem mais dolorosa e que tem como vítimas maiores os mais necessitados e pobres na nossa desigual e espúria distribuição de rendas....

19 julho 2014

"por algum motivo insondável"

a leitura, só ela, impede o curso normal das palavras escritas pelo mesmo motivo do título, roubado do Daniel Galera logo na primeira página, pelo mesmo motivo, interrompo a leitura para escrever, pelo mesmo mote, sem saber o porque, eis o tom, o disperso tom, não saberemos nunca, mas ler, escrever, ler novamente, assim, no imperativo, somos, seremos, fomos, até agora mais lendo do que escrevendo, vivemos. Seres insondáveis, então, percorrem o arcabouço criativo, o uso despretensioso de palavras, a trama, a urdidura da mesma, a imensidão polar ou desértica dos fios condutores da vida, qualquer uma, seguem o insondável caminho, o 'path dependence' para alguns, parta outros, o "evolucionário ajuste a restrições insondáveis, como de resto, a hora última e o movimento das cifras nos "etudes de Chopin" ou no e do próprio Galera, que nasceu em São Paulo, mas veio viver em Porto Alegre, como o insondável ser que escreve sem propósitos, apenas para despejar a carga, arriar a burra, no pergaminho digital que nunca se apaga, o registro, ponto.

29 junho 2014

copa sem brilho....

a copa do mundo de futebol no Brasil é um fiasco ou é um sucesso estupendo, não há meio-termo, a única novidade é a adesão de boa parte da esquerda - a que se encontra no poder, lógico -  à nobre arte do futebol que passou do "ópio das massas" para o reino das oportunidades de mostrar um Brasil melhor ao mundo. tecnicamente, sem extremos, temos uma copa igual às demais, em tudo, a única diferença, talvez, seja a percepção dos fiascos todos com um olhar mais próximo de quem é da sede ou do lugar que organiza a tal festa. Dito isso, temos:

  • um futebol ruim no geral, times visivelmente pouco preparados, e jogadores sem condições físicas para uma competição de férias...
  • a seleção brasileira só existe na boca da mídia, ajunta gente jovem e disposta, mas sem nenhum brilho e que tenta ganhar na correria, nenhuma jogada brilhante ou articulada, apenas correria e voluntarismos...
  • as surpresas da copa: Costa Rica, Argélia, Colômbia, Chile, etc. gravitam entre o sofrível e o mediano absoluto, não são times de escol e só enganam os adoradores de adjetivos sem conteúdo
  • os favoritos Argentina e Holanda, ainda não fizeram uma partida com o brilho típico de verdadeiros campeões, são comuns e correm bastante, mas não vieram preparados para participar de um torneio importante.
  • a única que destoa desse quadro todo até aqui é a Alemanha, resta saber se irá suportar o calor e a mesmice chata que essa copa tem sido...
  • a França, bem, melhor não encontrá-los antes da final
  • Os outros aspectos todos foram silenciados pelo nosso patriotismo de ocasião e pelo paternalismo da imprensa internacional que se comporta, até aqui, como visitantes educados que fingem não perceber ou ver o  que não funciona e por quê...

10 junho 2014

inacabados

somos, melhor dizer, seremos, um país de inacabados, não gostamos de prazos, de hora marcada, nas obras sempre seguimos a estética da aparência, o gramado é mais importante do que as cadeiras ou do que os hidráulicos para os banheiros, descuidamos da segurança, da rampa de acesso para os que estão em dificuldades, no fazer a obra a acessibilidade é o detalhe que não precisamos fazer ou acabar, em tudo, temos o gramado, contudo. Em dias de vésperas sempre estamos com muito por fazer, mas já temos o  principal da festa ou para a festa, a monumental fachada, o porto sem guidastes para os toneis ou rampas para o atracamento, sem profundidade ou calado, lá estão projeto encalhado, papel inacabado, no papel, apenas, mas a vistosa embarcação ou plataforma com a foto do político, do gestor bajulador e seus séquitos, adorna prontamente acabado o breviário e o programa da apresentação enganadora. Teremos chão batido ao redor,  e não encontramos a lista dos operários da monumental obra que voltam pra casa no ônibus ou na linha de transporte inacabada do trem de superfície da cidade subterrânea. 
Ao chegar o dia, damos o pontapé inicial na grande obra, gargalhamos e fazemos discursos grandiosos sem nenhuma alusão ao que está por fazer, o inacabado que tanto aprovamos e cumprimos e somos, assim como a vida digna, inacabada, inconclusa, inválida....

31 maio 2014

o herói sem nome

o narrador não tem nome e é em torno das suas lembranças e dos seus doces e madalenas que relembramos viva e inteligentemente o fio condutor dos tempos, idas e vindas, e nos perdemos ou nos achamos com a mesma facilidade e a eterna sem sabedoria, uma linha tênue de encontros e desencontros, conquistas tão efêmeras quanto as derrotas, viagens sem mais valias, sem o significado algum de ser, apenas. uma vida, muitas vidas e a fuga de bach, de altos e baixos, em fuga, suma fuga, uma acentuada partita, uma não, várias, uma sofisticada apreciação do vácuo ou do moto contínuo, melhor ser sem nome o tempo perdido e a procura, ganhamos apenas por nos permitir conhecer o herói sem nome...

01 maio 2014

o Brasil é um país injusto

a retórica funciona, mas o olhar atento, seria mais cauteloso. Países não são justos ou injustos, são construtos apenas para indicar arranjo político histórico ou outra coisa qualquer, mas não decidem, escolhem, não tomam decisões enfim. Uma maneira mais honesta de abordar as nossas injustiças seria falarmos das nossas regras, das nossas instituições ou do que aceitamos como dado sem controvérsias e que acabam promovendo desigualdades de oportunidades reais e promovem inclusões precárias, insatisfatórias, portanto. Alguém já fez essa lista das nossas injustiças, mas talvez possamos lista-las, como vemos, ou melhor, como nos acorre:
1. Ensino público gratuito para crianças
2. Sistema Único de Saúde
3. Universidades públicas federais
4. Postos públicos de saúde
5. Previdência pública
6. Programas de transferências de renda
7. ICMs
8. Subsídios do BB, CEF e BNDEs
9. Infra-estrutura pública em geral: esgotos, estradas, portos, rodoviárias, aeroportos, etc
10. Hospitais públicos e pronto-socorros
11. Congresso Nacional....

o público ai não é ideológico no sentido mais rasteiro, é apenas uma triste constatação, o que deveria equilibrar as nossas dificuldades e atenuar as nossas desigualdades acabou colocando-nos numa armadilha de desigualdade e prendendo-nos num equilíbrio de injustiças perpétuas. O Brasil do título, poderia ser o Estado.

10 abril 2014

pesquisa desacreditada

a pesquisa nacional por amostragem de domicilio (pnad) será interrompida, sabe-se lá porque, em todos episódios de suspensão da aula ou de pesquisas e da geração de dados impessoais, perdemos todos. As mudanças metodológicas quando não são bem explicadas cumprem o mesmo desserviço ao todo e a cada um...
na mesma semana duas situações de sombra e obscurantismo sobre a atividade de pesquisa em órgãos públicos de pesquisa no Brasil. Mesmo que seja apenas uma coincidência, o que nem de longe parece ser o caso, essas interrupções e atropelos são danosas para a credibilidade e para a reputação da pesquisa e do país em geral. Não precisava ser assim e não deveria assim ser, algo vai mal, algo na condução das coisas perdeu o sentido e o foco e andamos sem luz própria e sem rumo. 
meu voto já foi aberto, mas não custa reforçar, estamos necessitando de mudanças profundas e de alternâncias, deixar passar  o novo ou o não o mesmo e trocar os que assinam como donos do poder. Não se trata de ideologia, diga-se, é incompetência e falta de liderança, apenas. Vamos torcer para que passe logo e depressa...

05 abril 2014

sobre a divulgação de pesquisas científicas...

particularmente não publicaria o resultado da pesquisa sem o certificado do comitê de ética da instituição. Sim, pesquisas tem limites éticos que devem ser respeitados e todo cuidado tem que ser despendido para evitar equívocos morais graves. Uma vez publicada sem referências éticas claras, nada resta da pesquisa e a melhor atitude é ignora-la. 
Outro aspecto que esse triste episódio da polêmica em torno dos números da pesquisa sobre a visão média brasileira em relação ao estupro e o machismo [é difícil até mesmo definir o objeto e o propósito da tal pesquisa] é a forma de divulgação de resultados da pesquisa por parte do pesquisador e da instituição a que pertence. Em qualquer nível a pesquisa deve ser submetida a uma banca de avaliadores e/ou parecerista e deve ser divulgada em revistas indexadas com fator de impacto relevante e que trata com isenção a avaliação do conteúdo, metodologia, adequabilidade do texto e das interpretações dos mesmos. Ao perder a possibilidade desse filtro e publicar direto para a imprensa ou via editores locais subordinados, perdemos uma massa crítica importante para evitar grandes erros e gafes. 
Creio que o IPEA deveria reforçar esses mecanismos e só deixar sair para a grande imprensa, trabalhos aceitos em revistas qualificadas e que obedeçam estritamente posturas de isenção e que sigam cuidados pertinentes para garantir originalidade e qualidade e correção dos resultados apontados e, cujo o corpo editorial toma cuidados para que os pareceristas não conheçam os autores e a origem dos trabalhos que estão avaliando.
Dito isso, acrescento trechos da opinião de três economistas que respeito muito:

“O problema do IPEA não foi a fumaça de hoje, mas as evidências de um incêndio que já consome a instituição há muito tempo. (Diga-se de passagem o IPEA tem um corpo técnico íntegro e excelente). O problema é institucional e a questão de hoje não é se o IPEA foi forçado ou não a mudar as estatísticas "para salvar" o Brasil de uma vergonha nacional e internacional sem precedentes. O problema é que sua imagem já esteja tão abalada a ponto de que as pessoas discutam essa possibilidade (o que nunca saberemos).”(Comim, Flávio)

“Eu já admirava o Rafael Osório pela seriedade, produção e capacidade técnica. Agora eu o respeito ainda mais pela dignidade com que lidou com a situação. Procurou o erro, encontrou, assumiu, pediu desculpas e se puniu. Quem dos seus críticos teria dado todos esses passos?”(Monastério, Leonardo)


Um conhecedor profundo do tema não deveria ter desconfiado da informação que 65% dos brasileiros acreditam que mulheres com pouca roupa merecem ser atacadas? Uma vez que aparecesse a desconfiança a reação natural não seria checar novamente as tabulações? Não era de se esperar que os colegas tivessem estranhado o resultado? Neste caso o correto a fazer não seria voltar para os dados? Por que nada disso aconteceu e o erro passou desapercebido?”(Ellery, Roberto)

03 abril 2014

orquestra de memes

o debate político no Brasil segue um caminho estranho e absolutamente arriscado, banalizamos opiniões e abusamos de descuidos com aspectos morais elementares. Há uma desonestidade crescente na internet em relação ao uso das informações e há um grande desprezo pela busca da verdade e do bom senso. Difícil não crer nas teses conspiratórias que apontam a existência de uma orquestração e um orquestrador nisso tudo. A proliferação dos memes com frases escolhidas a dedo para atacar a oposição e o uso, nesses mesmo memes, de reportagens e capas de jornais antigas para diminuir as criticas que a oposição vem fazendo aos descalabros na Petrobras e, de resto, à condução da economia pelo atual governo, são um sinal inquietante de algo podre no ambiente político atual. Agrava esse quadro a rápida disseminação desses panfletos pelos sectários de plantão, o que não parece atender ao espontaneísmo ou ao acaso. Dias duros virão, na esteira dessa falta de rigor e dessa patrulha moderna, perdemos todos, e, principalmente, perdemos o que a democracia tem de melhor que é o debate franco de ideias entre situação e oposição, o debate entre visões de mundo alternativas.

23 março 2014

um por exemplo como analogia, o fiasco.

leio com execrado pudor a fsp, um vicio, diga-se, sempre aborreço-me e nunca desisto, contínuo. Meus amigos dizem que minha implicância conspiratória sempre identifica alusões enviesadas ou algo do gênero. Mesmo assim, insisto, lendo e percebendo, no texto abaixo o autor reproduz a sua analogia para explicar a mão escondida de Albert Hirschman, ou os tais efeitos colaterais da ação do Estado e, bingo!!!

"O economista [Albert Hirschman] apontava para o conjunto de consequências imprevisíveis de uma ação do governo. Por exemplo: um programa de transferência de renda tem como propósito tirar pessoas da situação de pobreza extrema. A mão escondida é o efeito colateral: o comércio ganha força, a economia gira, novos negócios são abertos, mais impostos são arrecadados."(Felipe Gutierrez) 

Essa analogia que se apresenta como "por exemplo" é extraída ao pé da letra da propaganda oficial do governo sobre o Bolsa Familia no Nordeste brasileiro. Além de equivocada, é insuportável se e quando aplicada a Hirschman. Um fiasco.

20 março 2014

a outra América, amém

quase concordo com o articulista da fsp, coisa rara, nesses dias, dos que lá escrevem, discordo dos críticos de cinema, por arte, sempre estão errados, melhor, quase sempre. O de hoje, o do outro quase, o da concordância, está certo ao lamentar a incapacidade propositiva das oposições, o plural aqui é um exagero retórico, lógico, na pequena peça, lá, ele argumenta que todos os problemas econômicos reais são imperceptíveis e que toda a alarmante falta de luz será apagada pela falta d'água em São Paulo. Até aqui parece que estamos bem, não mais, não menos, temos isso como assentado, mas não é certo ou legitimo o papel do próprio articulista. Sutil, é verdade, porém, claro é que o opinador segue a pauta da situação e acaba ajudando a ex-presidente e atual candidata, Dilma, a infeliz.

a armadilha a qual, sem crase, estamos presos é de baixíssimo nível, um equilíbrio péssimo, enfim. Todos articulistas aceitam a pauta que o pt define e ao comenta-las, seja para elogia-las, seja para "aconselhar as oposições" acabam fortalecendo a tese dominante, aquela que propicia o equilíbrio ruim, e é simples a tese, aquela, mesmo intervencionista e ineficiente a gestão pública e a sua politica econômica siamesa: gastos públicos irresponsáveis e ineficientes, controle disfarçado de preços, uso de estatais para, protecionismo e política social assistencialista. Essas duas, gestão das coisas e da economia, a triste, acabam aliando, via discurso e ameaças veladas á "mídia  golpista" a esquerda velha, não a centro-esquerda, assim, dessa forma, tudo o que se opuser a ela, é reacionário e neoliberal, portanto. Algo nessas condições de fritura, uma alternativa que seja, já nasce em estado gasoso e sem sabor.  O pleito se aproxima e com ele a longa noite, a da transição aos solavancos e o papel mais nobre das grandes democracias, o de evitar impasses institucionais graves e profundos, continua um sonho distante para os povos da outra América, amém.

27 fevereiro 2014

não é quadrilha, é carnaval

hoje, 27/02/2014, o Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu os condenados pelo mensalão do crime de formação de quadrilha, tudo junto, nada muda, as condenações por corrupção ativa, desvio de dinheiro público e as demais implicações não mudam, mas o festival de loas e de revanches, algumas veladas, outras explicitas, contra as decisões do STF em relação ao mensalão e contra o julgamento em si, são inúmeras e atendem por uma única motivação: poupar o partido dos trabalhadores e ao ex-presidente, ex-tudo, Lula da pecha e do vexame de ter mensalido, além, é claro, da tentativa de livrar os comparsas que, estoicamente, é bem verdade, estão calados e tudo suportam. O único que roeu a corda foi o irmão vivo dos Pizollatos, algo insipido e de nojo agudo, a fuga, diga-se.
Em nada surpreende essa reação e a forma toda, troca de ministros, pressão na véspera e a esperteza toda dos Barrosos, o mais educado e empolado, uma fala mansa de `até parece`, uma beatitude de dá dó. O ministro engomadinho nem emite sinais de vergonha e segue, no seu uso cerimonioso, o discurso de palavras bonitas para atacar o ministro Barbosa, o inimigo público do partido, que, de origem menos abastada, parece cru e direto diante do "processo civilizatório" que o Barroso, ministro, acusa-o de atacar. 
É o Brasil de sempre, assimétrico, cruel em suas desigualdades, onde o simples é tosco e vitima de ataques duros dos poderosos e onde o empolado de fala mansa é o herói bem pago da turba. Nossas diferenças são de berço e remontam ao império, ao Brasil colônia. Triste ver que, o Lula, o único que pareceu furar o bloqueio e se impor como líder das massas, hoje é apenas o poderoso que tudo faz para proteger os seus companheiros, descaradamente e com as luzes de todos os postes que ele ajudou a "plantar" na vida pública brasileira. 
Triste república da falsa mobilidade social e das mazelas de grife e de ministros engomadinhos de toga passada a ferro. Rompeu-se o único lacre da decência, o supremo 6 a 5 colocou por terra uma construção admirável de democracia e um sonho de um país mais justo e decente, honesto mesmo. O país ainda tem dono e eles são educados e irmanados com o planalto, uníssono. Ao outro, os Barbosas de ser, cabe a obediência servil ou o achincalhe. Não é quadrilha, afinal.