particularmente não publicaria o resultado da pesquisa sem o certificado do comitê de ética da instituição. Sim, pesquisas tem limites éticos que devem ser respeitados e todo cuidado tem que ser despendido para evitar equívocos morais graves. Uma vez publicada sem referências éticas claras, nada resta da pesquisa e a melhor atitude é ignora-la.
Outro aspecto que esse triste episódio da polêmica em torno dos números da pesquisa sobre a visão média brasileira em relação ao estupro e o machismo [é difícil até mesmo definir o objeto e o propósito da tal pesquisa] é a forma de divulgação de resultados da pesquisa por parte do pesquisador e da instituição a que pertence. Em qualquer nível a pesquisa deve ser submetida a uma banca de avaliadores e/ou parecerista e deve ser divulgada em revistas indexadas com fator de impacto relevante e que trata com isenção a avaliação do conteúdo, metodologia, adequabilidade do texto e das interpretações dos mesmos. Ao perder a possibilidade desse filtro e publicar direto para a imprensa ou via editores locais subordinados, perdemos uma massa crítica importante para evitar grandes erros e gafes.
Creio que o IPEA deveria reforçar esses mecanismos e só deixar sair para a grande imprensa, trabalhos aceitos em revistas qualificadas e que obedeçam estritamente posturas de isenção e que sigam cuidados pertinentes para garantir originalidade e qualidade e correção dos resultados apontados e, cujo o corpo editorial toma cuidados para que os pareceristas não conheçam os autores e a origem dos trabalhos que estão avaliando.
Dito isso, acrescento trechos da opinião de três economistas que respeito muito:
“O problema do IPEA não foi a fumaça de hoje, mas as
evidências de um incêndio que já consome a instituição há muito tempo. (Diga-se
de passagem o IPEA tem um corpo técnico íntegro e excelente). O problema é
institucional e a questão de hoje não é se o IPEA foi forçado ou não a mudar as
estatísticas "para salvar" o Brasil de uma vergonha nacional e
internacional sem precedentes. O problema é que sua imagem já esteja tão
abalada a ponto de que as pessoas discutam essa possibilidade (o que nunca saberemos).”(Comim,
Flávio)
“Eu já admirava o Rafael Osório pela seriedade, produção e capacidade
técnica. Agora eu o respeito ainda mais pela dignidade com que lidou com a
situação. Procurou o erro, encontrou, assumiu, pediu desculpas e se puniu. Quem
dos seus críticos teria dado todos esses passos?”(Monastério, Leonardo)
“Um conhecedor profundo do tema não deveria ter
desconfiado da informação que 65% dos brasileiros acreditam que mulheres com
pouca roupa merecem ser atacadas? Uma vez que aparecesse a desconfiança a
reação natural não seria checar novamente as tabulações? Não era de se esperar
que os colegas tivessem estranhado o resultado? Neste caso o correto a fazer
não seria voltar para os dados? Por que nada disso aconteceu e o erro passou
desapercebido?”(Ellery, Roberto)
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