no artigo de domingo da fsp o Samuel Pessôa explora o que ele considera as duas agendas em debate no país pré-eleições, uma a da consolidação do que ele chama de um "Estado de Bem-estar social padrão europeu continental no Brasil" a outra, equivocada e superada, a implantação do que ele define como "Estado nacional-desenvolvimentista no Brasil". Pessôa apenas cita o primeiro ponto e depois dedica-se ao diagnóstico da segunda agenda, pontos fracos principalmente.
Na realidade, precisaríamos desenvolver argumentos para consolidar a primeira agenda. o que, inexplicavelmente, não é/foi o foco das nossas discussões no período pós plano real. Entender porque isso se deu dessa forma não é tarefa fácil, particularmente, creio que é fruto da nossa incapacidade de pensar para além dos maniqueísmo dicotômico, neoliberalismo x estatismo, sem nada entre as duas concepções.
O paradoxo dessa trajetória de debate é que ao negar as reformas do real e ao simplifica-los com o epiteto neoliberal o partido dos trabalhadores se afasta de uma agenda social democrata legitima e da possibilidade de construir a primeira agenda. Acontece, porém, que ao defender as conquistas do plano real através das importantes reformas pró mercados, o partido da social democracia brasileira também se afasta do projeto de consolidação do estado de bem-estar social porque esquece ou pouco privilegia o social na agenda de futuro do Brasil.
Resumindo, temos o partido dos trabalhadores defendendo uma agenda social com métodos e modelos de economia populista e intervencionista e que contemporiza com experiencias socialistas bizarras na América Latina. Por sua vez, o partido da social democracia brasileira se afasta da agenda social para se dedicar a temas como eficiência de gestão, autonomia do banco central, boas regras de governança e bom ambiente de negócios, fundamentais, é lógico, porém incompletos. O ideal seria uma combinação dos dois focos e abandono dos modelos de ambiente da guerra fria. Até aqui, a cegueira ideológica do partido dos trabalhadores com sua insistência no modelo nacional-desenvolvimentista tem inviabilizado.
Como resultado bruto, esse quadro de cultura tem nos empurrado para um baixo crescimento econômico, inflação elevada, artificialmente na casa dos 6% a.a, populismo creditício, arranjo fiscal insustentável e baixa produtividade em geral, tudo sustentado por um programa de transferência de rendas que, até aqui, tem dado sustentação e continuidade ao projeto anacrônico do partido dos trabalhadores. A conta tem sido paga pela população de baixa renda que sofre com acesso a serviços públicos precários em transporte, saneamento, educação e saúde o que nos afasta ainda mais do pacto de bem-estar social da constituinte de 1988 e que pode nos colocar numa armadilha de pobreza endógena. Estamos criando um espaço propicio a aventuras populistas radicais do passado de desprezo pela democracia , etc...