01 fevereiro 2006

arquivomorto

a decomposição da caixa é tarefa de dias ou meses, há uma pré-seleção que é mental e outra que é física, corpórea, exige tirocínio, paciência e um sentido qualquer de razão de ser. Papéis nao faltam nesse mundo das caixas, começam por povoar a prórpria noção das caixas de arquivo, são, em essência, a caixa e seus segredos, uma para cada assunto, para cada situação posicional, para cada verbete, cantorias, vasta alusão a textos seminais, pastas de papéis que teciam a composição do dia, horários pré-definidos mas nunca alcançados, intangíveis, há também os papéis do tempo, aquela caixa esquece o bilhete sem sentido, a resenha incongruente, a versão preliminar de coisa nenhuma, a outra, mais recente, ainda guarda a esperança de uma visita solar, de um afago da lembrança, caixas como queríamos, seletivas, inócuas na sua capacidade de dar vida ao que não conseguiu sair do projeto, do promissor projeto de vida, mas que virou texto esquecido na caixa de arquivo da esquerda para a direita, quatrocentas, datadas, percorrem décadas, uma época de sonhos e outra mais sombria, época da sensatez e da razão, épocas dos riscos de menos e da aversão aos deuses, menos, quem diria, cabia, na caixa debaixo da mesa, que menosprezava a silente dor na perna que varicelava, doloridamente tardia, a caixa ainda sabe que será descoberta por algum reencontro, por uma vontade de recomeço que sempre assola os viventes nas pequenas coisas perdidas, ou na descuidada vontade de rever as possibilidades na linha imaginária que não conseguimos prender, virulenta, às vezes, a caixa provoca a ira, a mediúnica vontade de gritar, passado, enfim, revigorado....

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