30 junho 2013

a transição, que venha logo...

"Nossas sociedades improvisadas, de transição, não amortecem os choques."(V. S. Naipaul, 1987, p. 9)


hoje o Samuel Pessoa num artigo para folha destaca que não será fácil atender os manifestos e suas demandas, como, de resto, não será nada fácil a transição para o novo modelo, estilo ou forma de conduzir os negócios de estado. essa é uma aposta, porque todos sabemos quão precária é a convicção de quem deveria cuidar desses negócios de forma justa e eficiente. caso tenhamos razão, os velhos e surrados motes da esquerda e da direita, e essa divisão mesmo, como a conhecemos, serão todos, banidos, anacrônicos e sem sentido. temos um novo grupo de uma nova geração, mais aberta para o mundo e mais bem informada, essa onda não veio das uterinas bases sindicais e/ou partidárias nos moldes antigos, é outra gente, outra pauta e outras dúvidas e certezas, o novo chegou, agora é torcer para que a transição seja rápida e exitosa e sem sobressaltos, caberia também, falar dos derrotados, ambos já citados, por sinal, mas algo que fica claro desde logo, o desenvolvimentismo mais uma vez construiu uma sociedade ruim, pior, e mais desunida e insustentável e ainda deixou uma conta a ser paga por essa geração que está chegando, exatamente como sucede ser sempre que abraçamos teses excessivamente estatizantes  e intervencionistas, temos que substituir o protagonismo de estado pelo protagonismo dos valores humanos pura e plenamente.

23 junho 2013

a semana sem face, o sarapatel...

"quem não lê acredita só no mensageiro"(Janaina Paschoal, prof. de direito da USP, na fsp)

o duplo sentido é sem razão, passamos por dias difíceis, sem razão ou com razão demais, sem lideranças óbvias resolvemos protestar e manifestar insatisfação contra tudo ou contra quase tudo, a direita diz que é a favor, a esquerda diz que foi a primeira a propor o passe livre e outras coisitas mais,  ambas, sem razão ou com muita razão, levaram multidões às ruas, vimos cartazes de todos os tons, alguns em forma de poesia concreta: "são paulo/são pedras/são podas/são putos", outros com alusões mais cruas a nossas decantadas mazelas, até a independência do banco central foi reivindicada, quem diria, vimos sim, vimos pedras e balas de borracha, saques e depredação, cavalarias e brigadas, muitas...vimos também a belicosidade ideológica de parte a parte, um horror, assistimos uma titubeante presidenta em cadeia nacional, que, salvo engano, não piorou as coisas e trouxe, em sentido figurado, os médicos estrangeiros para desviar o foco, mas que...numa semana crua e nua, interromperam o trabalho no meio da tarde, fecharam a faculdade de ciências econômicas, a farmácia e até a igreja matriz, em todos os pontos recolheram o lixão para evitar depredação. Mesmo nos piores pesadelos não tínhamos uma vaga noção do que víamos, ou veremos...O brasil não entende o brasil, como na música, somos apáticos na percepção do quanto somos pobres, desiguais, injustos e no quanto vendemos, nos últimos anos e a todo o mundo, a ilusão de termos nos tornado os melhores do mundo, olha a crise do capitalismo na europa, nos eua, olha....quando eramos o que somos, pobres e desiguais, vivemos as nossas castas e criamos novas, lá no planalto central temos o DAS a gratificação por bons serviços prestados ao patrão de plantão e aqui, na paroquia, temos soldos não revelados e um estado de bem-estar social para os filiados, enquanto isso, negligenciamos o atendimento ao público, serviço público inexiste em razão, que esperem na fila e sem pronto atendimento, a qualidade dos contra-cheques dista léguas da qualidade dos serviços públicos, entre nós o que importa e importa muito é a linha de pobreza de setenta reais, um pouco menos, afinal, tiramos 28 milhões da pobreza extrema da nossa falta de imaginação, somos o que somos, uma urdidura desintegrada, retrograda, conservadora e injusta...

16 junho 2013

a falta de mobilização nas cores, o direito de discordar.

não ter opinião nos dias que seguem é uma imperdoável agressão, particularmente gosto de manifestações e no mais das vezes gosto de manifestações pacificas, sempre, diria...contudo, no jogo das versões temos cenas explicitas de parte a parte, o enfoque da mídia e das redes sociais atende ao capricho idiossincrático do proponente, um e outro são apontados e devidamente rotulados, os vândalos dilapidadores do patrimônio público contra os truculentos policiais opressivos, um e outro, diria o bardo da malhada, estão certos e errados ao mesmo tempo, sempre podemos enfocar o vidro quebrado ou o sangue escorrendo na face dos manifestantes, o bloqueio das ruas e as pedras, os cassetetes e os sprays de pimenta, as balas de borracha nem um pouco inofensivas, diria, aos que tentam ideologizar tamanha massa de evidências compartilhadas, em ambas margens, temos equívocos profundos, em ambos, tanto na vil fala do ministro da justiça, como na defesa, não menos indigna, da corporação....em todos os caso, indigno-me, porque quem mais sofre é o direito livre e autentico de mostrar descontentamento sem ser agredido ou agredir...Temo que essa é só a forma mais doce de algo que tende a tomar proporções de batalha épica que quase sempre leva a rupturas institucionais importantes e que carrega em seu bojo equilíbrios de baixo nível num jogo onde as regras são impostas pelo mais forte  e que sempre leva ao enfraquecimento da liberdade e da democracia, portanto.
Em minha ingenuidade pacifista, proponho uma saída para minorar o impasse das versões, todos os envolvidos, de ambos os lados, desarmados, a polícia abandona armas, cassetetes, escudos e cavalaria, bombas e gás, balas e borrachas, os manifestantes abandonam as pedras, os artefatos da fantasia e, rostos a vista, usam apenas palavras de ordem, porém, ambos, carregam filmadoras abertas que a tudo e a todos gravam e filmam, som aberto e sem a necessidade dos melhores ângulos, a imprensa idem, serve de ministério público para a pugna, ambos de mãos dadas, sem violências, uns protestam, outros cuidam para que os protestos sejam ouvidos e vociferados em alto e bom som, ambos preservando o direito de ir vir a quem concorda e a quem, indiferente ou não, discorda e todos apenas registram em alta definição o ato civilizatório...sonho ou não, serei sempre defensor das manifestações de respeito mútuo, mesmo quando o que nos move é o direito inalienável e sagrado de discordar em todo canto e lugar.

09 junho 2013

"Tem ser humano em toda casa..."

sábado fomos a Restinga para mais uma pesquisa de campo: aplicar questionários, ouvir um pouco da história do lugar e tentar, de alguma forma, dá voz aos esquecidos. A cada visita a angústia com o destino de nossa gente, [o nosso aqui diz-se da nossa igualdade humana e a total assimetria de oportunidades que nos atinge desde o primeiro minuto de vida e por toda a vida], dessa vez, ocupações irregulares, melhor, ocupações do espaço urbano não alcançadas pelos tais bens públicos, esgotos com dejetos do banheiro e da pia, sic, passam na porta das casas, abertos, escancarados, na rua sem pavimentação, estreita, de terra e mato o que propicia a criação de uma canaleta de lama que invade casas de madeira sem piso...tudo a exatos 17km das escadarias da Borges, praticamente em linha reta, descemos do ônibus na praça teatro em frente ao fórum, um dia para não esquecer, 25 jovens nos acompanhavam...Em cada canto e a cada entrevista, a ausência do Estado de assistência social, a maioria beneficiários do Bolsa Família, mas sem escolas, esgotos, abastecimento de água tratada, sem alvenaria nas casas, sem vida econômica, só recebem, segundo relatos das mulheres da paz que nos receberam e nos conduziram, a visita de vereadores na época das eleições e depois são abandonados, descalças as crianças pisam na lama com a naturalidade com que esquecemos que o déficit público no Brasil comete crimes contra os desassistidos, contra aquela gente nossa que em tudo foram esquecidos, menos na concessão do midiático bolsa família, que "não serve para nada" disse-me uma senhora no meio da entrevista no meio de um dos esgotos que nos vigiava e nos denunciava, a nós os desiguais...