08 novembro 2013

oximoros urnológicos

Toda propaganda é enganosa, as com legendas e políticas, mais ainda. Essa é uma época surda para as idéias lógicas e pensadas, não somos afeitos ao pensamento estatístico, como bem diz-nos a economia comportamental que, como bem sabemos, não fala, nem pensa, agora vale o novo slogan que mudou para país rico é país sem pobreza, um oximoro ou pior do que isso... Vivemos dias de auto-imagem e auto-exposição onde o poeta vai ao fundo do poço, simbólico e abstrato, que seja, para colher a razão, o foco  ou motivação para uma vida sem graça ou fé, apenas uma peça boiando em oxítonas e outras dopaminas, mais uma configuração lúgubre e sem ritmo de uma vida entre papeis. Enquanto isso, na televisão, o governo proclama o fim da miséria e a volta da solidariedade fraternal, um recuo no país de todos, uma volta ao fratricídio retórico, oximoros de nós contra eles, os outros. Alheio a tudo isso, o país não cresce, a indústria perece, ah, os poemas sem pré-sal, uma resiliente inflação persiste, uma ideia forte de vale tudo se sustenta entre convicções tardias, ninguém suporta os valores plurais, ou estás no oximoro ou és o outro, apagado e sem sentido.

01 setembro 2013

a neve no sul, o silêncio das massas e o bizarro governo federal no Brasil

o personagem do mês de agosto foi a chuva e a neve que ela trouxe, não pelo espetáculo em si, que foi relativamente apático, mas sim pelo inusitado. Algo semelhante, um inusitado da mesma forma, é o silêncio das ruas e a recuperação da economia durante o segundo trimestre do fatídico 2013, tudo junto não faz o menor sentido, uma economia sem perspectivas claras, com ameaças veladas e concretas à estabilidade institucional, agressões ao patrimônio e administrada por um governo  bizarro, com políticas bizarras e com uma vocação para o excesso intervencionista e para o jogo de cena, acreditar que, num cenário desses, tudo vai bem a ponto de recuperarmos um ciclo de expansão e tudo isso com aumento de popularidade da presidente Dilma e de seus ministros, é um absurdo lógico, ou uma forma reveladora da precariedade da ciência triste, a economia, em todos os modelos com alguma racionalidade não é crível que os agentes estão, agora, nesse exato momento, apostando suas fichas no exito de um, cada vez mais real, segundo mandato dessa estratégia de poder. Sinceramente, vai nevar em todos os agostos daqui a'té 2018 e o nível das chuvas vai continuar crescendo e, assim, apostando nessa sequência episódica, podemos também crer que o nosso desenvolvimentismo conseguirá evitar uma grave crise no meio de um eventual segundo mandato da atual presidente.

04 agosto 2013

outro termo

 "os piores lugares para se viver", segundo o texto da sutil reportagem diz um pouco sobre a nossa forma desrespeitosa e irresponsável de lidar com os nossos achaques, em tom de denuncia o mesmo texto, vincula ou tenta vincular, a pobreza e o baixo Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDH-M) ao nível de corrupção praticados pelos prefeitos das referidas municipalidades. 
Em palavras poucas, alguns comentários:
  1. o famoso índice não consegue mensurar o humano do título, é apenas uma medida que combina, sem uma ponderação adequada, ou melhor, com uma ponderação arbitrária, alguns aspectos de indicadores de renda, saúde e educação
  2. todos os indicadores usados são incapazes de fazer qualquer referência satisfatória ao humano e, o mais grave, são métricas que avaliam meios e que jamais olham ou conseguem avaliar fins, a vida e a existência dos humanos do título.
  3. a criminosa reportagem enfatiza acusações baseadas em processos e condenações, até ai, tudo bem, mas querer correlaciona-las ao fato gerador do baixo desempenho no IDH_M obtido por essas comunidades é um salto grande demais. 
  4. O modelo de Estado e a forma que os recursos públicos são usados, muito provavelmente, constituem um fator gerador de maior impacto para essa realidade 
  5.  a crítica ao modelo de Estado no Brasil demandaria da imprensa uma pesquisa mais séria e uma crítica de todo o modelo que praticamos por décadas
  6. essa pauta, contudo, está completamente fora dos propósitos de nossa impressa que é sensível a apelos populistas e a discursos fáceis,
  7. o famoso IDH-M acabou servindo apenas como forma de articulistas chapa-brancas usarem estatísticas que nada medem para justificar e defender o status quo, nada edificante e tudo com a sem cerimônia de sempre e contra qualquer racionalidade.
  8. no fundo deveríamos olhar para os dados sem a emoção de torcidas de futebol e deveríamos pensar sobre onde erramos.
  9. precisamos de uma auto-crítica sem o maniqueísmo fácil de quem apenas articula ideias engajadas, a esquerda e a direita,
  10. outro termo e outro tempo, são necessários, porém....

25 julho 2013

o papado do papa

assim, dessa forma, meio jocosa, meio infantil, meio sem sentido, poderíamos iniciar a crítica à espetaculosa e absolutamente ridícula visita do papa Francisco ( cardeal Bergoglio, só para o registro) ao Brasil, melhor, ao Rio de Janeiro do Cabral e ao `santuário` de Aparecida em São Paulo...uma semana de platitudes, de lugares comuns e de clichês carregados de equívocos da velha igreja, muitos cansativos e alguns enganosos e de uma mistificação de falsos dilemas morais e valores. Uma superficial crítica ao consumismo, ao dinheiro e ao mercado, uma perigosa volta ao passado da teologia da libertação sem, ainda, o contexto socialista ou comunista, uma igreja dos escândalos sexuais e financeiros que continua ostentando poder e o mesmo consumo, mas que tenta disfarçar tudo dentro ou por um farsesco fiat idea ou com um papa móvel trazido, etc, etc, etc. as incoerências são tantas que não merecem o registro, diáfano que seja...
salta aos olhos, no entanto, o outro escândalo, a nossa incapacidade para organizar coisas simples e a forma degradante como ainda expomos as nossas fraquezas mais básicas, ruas sem transito, transporte público sem energia, lama no palco da maior concentração prevista, autoridades que não se cumprimentam, a nada republicana ou transparente relação do comitê organizador local com os recursos públicos, a insegurança pública geral e as imagens e falas que a imprensa reproduz e espalha...difícil dizer o que causa mais desconforto nesse mar de lama.

14 julho 2013

Compreende?

os poetas sempre são mais lúcidos e perspicazes, sempre.


"O Brasil é um país que precisa de pessimismo, compreende, de muito pessimismo. O otimismo destrói o Brasil em qualquer atividade." (João Cabral de Melo Neto, fsp de 14/07/2013, p. I7, referindo-se a um palpite sobre a copa na Espanha de 1982)

"Assumem-se como uma instituição social em si mesmos, mas não querem substituir as oficiais ( e sim convoca-las a repensar o emperramento das respectivas juntas)" (Carlos Ayres Britto, fsp de 14/07/2013, p. I6, um palpite sobre as manifestações durante a copa das confederações do Brasil de 2013

vivo a transição e tenho propostas simples:

Para os políticos do Congresso:


  1. devolução de todos os apartamentos funcionais
  2. não se utilizar de verba de representação, voos da FAB e motoristas
  3. não nomear ninguém para assessoria parlamentar
  4. reduzir os próprios salários em 30% de forma unilateral
  5. renunciar ao mandato sempre que votar contra a orientação da maioria do partido
  6. andar mais de transporte público, bicicleta e a pé
  7. continuar estudando e melhorando a qualificação geral
  8. Criar o hábito de prestar mais conta a sociedade sobre suas posições no campo das ideias



Para o governo e área econômica


  1. exonerar toda a equipe econômica, presidentes do Bacen e BNDEs, trocar os ministros da fazenda e planejamento
  2. reduzir o número dos ministérios a não mais do que 20
  3. trocar toda a gestão da petrobrás
  4. independizar e permitir autonomia real para todas as agëncias reguladoras
  5. ouvir mais do que falar
  6. nunca conversar com Bresser, Belluzo ou Delfim, melhor mesmo, negar publicamente as suas teses
  7. acabar com a contabilidade criativa, assumir o passivo e adotar medidas de longo prazo para colocar as contas públicas e a política fiscal nos eixos
  8. não brincar com o câmbio e adotar uma postura mais dura com os parceiros populistas do Mercosul
  9. abrir a economia para uma parceria mais consistente e duradora com EUA e UE
  10. trocar o ministro das Relações internacionais
  11. sorri mais, principalmente durante os pronunciamentos em rede nacional...


04 julho 2013

Incapacidades gerais do bardo

perguntas do bardo, o solitário desconhecedor das virtudes morais universais:

  1. se não é possível a comparação interpessoal das utilidades como é possível atribuir pesos para educação, saúde ou outra qualquer forma de gastos orçamentários do poder público?
  2. no maximin do Rawls não há uso de probabilidades, pergunto, o um, da certeza, não é probabilidade e de igual teor, não é também, a formulação lá na posição original, igualmente subjetiva?
  3. se necessitamos introduzir na posição original o famoso véu da ignorância (injustificável como o Harsanyi de 1975 não usou esse raciocínio), não estaríamos pois, no campo das incertezas, subjetivas ou não, e então, como evitar a utilidade esperada lá do Von Neumann e Morgenstern, melhor, como não usar as preferencias pelo risco, ou não são elas, as tais atitudes em relação ao risco, humanas e como tal, deveriam ser consideradas, pergunto-me, seria ético deixa-las de fora de qualquer quadrado mágico ou maximin???
  4. tendo dois filhos, um doente crônico e outro saudável e com um certo desempenho outstanding em matemática pura, deveriam, nessas circunstâncias, os recursos da família de classe média-média serem alocados para: um tratamento novo caríssimo de baixa probabilidade de sucesso do filho A ou para custear estudos avançados do matemático da geração B de manifestantes nas ruas da capital?

paro por aqui, sem saídas e absolutamente iletrado, reconheço a minha incapacidade para tratar desses e de outros temas, com uma humilhante sensação de incapacidade geral irrestrita.

30 junho 2013

a transição, que venha logo...

"Nossas sociedades improvisadas, de transição, não amortecem os choques."(V. S. Naipaul, 1987, p. 9)


hoje o Samuel Pessoa num artigo para folha destaca que não será fácil atender os manifestos e suas demandas, como, de resto, não será nada fácil a transição para o novo modelo, estilo ou forma de conduzir os negócios de estado. essa é uma aposta, porque todos sabemos quão precária é a convicção de quem deveria cuidar desses negócios de forma justa e eficiente. caso tenhamos razão, os velhos e surrados motes da esquerda e da direita, e essa divisão mesmo, como a conhecemos, serão todos, banidos, anacrônicos e sem sentido. temos um novo grupo de uma nova geração, mais aberta para o mundo e mais bem informada, essa onda não veio das uterinas bases sindicais e/ou partidárias nos moldes antigos, é outra gente, outra pauta e outras dúvidas e certezas, o novo chegou, agora é torcer para que a transição seja rápida e exitosa e sem sobressaltos, caberia também, falar dos derrotados, ambos já citados, por sinal, mas algo que fica claro desde logo, o desenvolvimentismo mais uma vez construiu uma sociedade ruim, pior, e mais desunida e insustentável e ainda deixou uma conta a ser paga por essa geração que está chegando, exatamente como sucede ser sempre que abraçamos teses excessivamente estatizantes  e intervencionistas, temos que substituir o protagonismo de estado pelo protagonismo dos valores humanos pura e plenamente.

23 junho 2013

a semana sem face, o sarapatel...

"quem não lê acredita só no mensageiro"(Janaina Paschoal, prof. de direito da USP, na fsp)

o duplo sentido é sem razão, passamos por dias difíceis, sem razão ou com razão demais, sem lideranças óbvias resolvemos protestar e manifestar insatisfação contra tudo ou contra quase tudo, a direita diz que é a favor, a esquerda diz que foi a primeira a propor o passe livre e outras coisitas mais,  ambas, sem razão ou com muita razão, levaram multidões às ruas, vimos cartazes de todos os tons, alguns em forma de poesia concreta: "são paulo/são pedras/são podas/são putos", outros com alusões mais cruas a nossas decantadas mazelas, até a independência do banco central foi reivindicada, quem diria, vimos sim, vimos pedras e balas de borracha, saques e depredação, cavalarias e brigadas, muitas...vimos também a belicosidade ideológica de parte a parte, um horror, assistimos uma titubeante presidenta em cadeia nacional, que, salvo engano, não piorou as coisas e trouxe, em sentido figurado, os médicos estrangeiros para desviar o foco, mas que...numa semana crua e nua, interromperam o trabalho no meio da tarde, fecharam a faculdade de ciências econômicas, a farmácia e até a igreja matriz, em todos os pontos recolheram o lixão para evitar depredação. Mesmo nos piores pesadelos não tínhamos uma vaga noção do que víamos, ou veremos...O brasil não entende o brasil, como na música, somos apáticos na percepção do quanto somos pobres, desiguais, injustos e no quanto vendemos, nos últimos anos e a todo o mundo, a ilusão de termos nos tornado os melhores do mundo, olha a crise do capitalismo na europa, nos eua, olha....quando eramos o que somos, pobres e desiguais, vivemos as nossas castas e criamos novas, lá no planalto central temos o DAS a gratificação por bons serviços prestados ao patrão de plantão e aqui, na paroquia, temos soldos não revelados e um estado de bem-estar social para os filiados, enquanto isso, negligenciamos o atendimento ao público, serviço público inexiste em razão, que esperem na fila e sem pronto atendimento, a qualidade dos contra-cheques dista léguas da qualidade dos serviços públicos, entre nós o que importa e importa muito é a linha de pobreza de setenta reais, um pouco menos, afinal, tiramos 28 milhões da pobreza extrema da nossa falta de imaginação, somos o que somos, uma urdidura desintegrada, retrograda, conservadora e injusta...

16 junho 2013

a falta de mobilização nas cores, o direito de discordar.

não ter opinião nos dias que seguem é uma imperdoável agressão, particularmente gosto de manifestações e no mais das vezes gosto de manifestações pacificas, sempre, diria...contudo, no jogo das versões temos cenas explicitas de parte a parte, o enfoque da mídia e das redes sociais atende ao capricho idiossincrático do proponente, um e outro são apontados e devidamente rotulados, os vândalos dilapidadores do patrimônio público contra os truculentos policiais opressivos, um e outro, diria o bardo da malhada, estão certos e errados ao mesmo tempo, sempre podemos enfocar o vidro quebrado ou o sangue escorrendo na face dos manifestantes, o bloqueio das ruas e as pedras, os cassetetes e os sprays de pimenta, as balas de borracha nem um pouco inofensivas, diria, aos que tentam ideologizar tamanha massa de evidências compartilhadas, em ambas margens, temos equívocos profundos, em ambos, tanto na vil fala do ministro da justiça, como na defesa, não menos indigna, da corporação....em todos os caso, indigno-me, porque quem mais sofre é o direito livre e autentico de mostrar descontentamento sem ser agredido ou agredir...Temo que essa é só a forma mais doce de algo que tende a tomar proporções de batalha épica que quase sempre leva a rupturas institucionais importantes e que carrega em seu bojo equilíbrios de baixo nível num jogo onde as regras são impostas pelo mais forte  e que sempre leva ao enfraquecimento da liberdade e da democracia, portanto.
Em minha ingenuidade pacifista, proponho uma saída para minorar o impasse das versões, todos os envolvidos, de ambos os lados, desarmados, a polícia abandona armas, cassetetes, escudos e cavalaria, bombas e gás, balas e borrachas, os manifestantes abandonam as pedras, os artefatos da fantasia e, rostos a vista, usam apenas palavras de ordem, porém, ambos, carregam filmadoras abertas que a tudo e a todos gravam e filmam, som aberto e sem a necessidade dos melhores ângulos, a imprensa idem, serve de ministério público para a pugna, ambos de mãos dadas, sem violências, uns protestam, outros cuidam para que os protestos sejam ouvidos e vociferados em alto e bom som, ambos preservando o direito de ir vir a quem concorda e a quem, indiferente ou não, discorda e todos apenas registram em alta definição o ato civilizatório...sonho ou não, serei sempre defensor das manifestações de respeito mútuo, mesmo quando o que nos move é o direito inalienável e sagrado de discordar em todo canto e lugar.

09 junho 2013

"Tem ser humano em toda casa..."

sábado fomos a Restinga para mais uma pesquisa de campo: aplicar questionários, ouvir um pouco da história do lugar e tentar, de alguma forma, dá voz aos esquecidos. A cada visita a angústia com o destino de nossa gente, [o nosso aqui diz-se da nossa igualdade humana e a total assimetria de oportunidades que nos atinge desde o primeiro minuto de vida e por toda a vida], dessa vez, ocupações irregulares, melhor, ocupações do espaço urbano não alcançadas pelos tais bens públicos, esgotos com dejetos do banheiro e da pia, sic, passam na porta das casas, abertos, escancarados, na rua sem pavimentação, estreita, de terra e mato o que propicia a criação de uma canaleta de lama que invade casas de madeira sem piso...tudo a exatos 17km das escadarias da Borges, praticamente em linha reta, descemos do ônibus na praça teatro em frente ao fórum, um dia para não esquecer, 25 jovens nos acompanhavam...Em cada canto e a cada entrevista, a ausência do Estado de assistência social, a maioria beneficiários do Bolsa Família, mas sem escolas, esgotos, abastecimento de água tratada, sem alvenaria nas casas, sem vida econômica, só recebem, segundo relatos das mulheres da paz que nos receberam e nos conduziram, a visita de vereadores na época das eleições e depois são abandonados, descalças as crianças pisam na lama com a naturalidade com que esquecemos que o déficit público no Brasil comete crimes contra os desassistidos, contra aquela gente nossa que em tudo foram esquecidos, menos na concessão do midiático bolsa família, que "não serve para nada" disse-me uma senhora no meio da entrevista no meio de um dos esgotos que nos vigiava e nos denunciava, a nós os desiguais...

21 maio 2013

o governo, os miseráveis e a roda da fortuna.

no sábado e domingo fomos surpreendidos por uma inusitada corrida aos bancos dos correntistas, melhor dizer, beneficiários do bolsa família, uma imagem difícil e emblemática, um boato de que o programa iria acabar leva milhares às agências da Caixa Econômica Federal e, ato contínuo, o governo, em acordo lá com seus padrões éticos e morais, liberou saques fora do programado, o valor, aqui é o que menos importa, foi feito. Várias dúvidas ocorrem ao vivente que sabe que ainda não viu tudo. Em breves palavras, estamos presos a esse programa, nenhum político e nenhum governo vai ousar revisar a estratégia de combate a pobreza e seremos reféns do sucesso ou do fracasso de tal programa. Tecnicamente, chegamos no ponto de não retorno, a dádiva dada é tão importante para os recebentes que eles simplesmente entram em pânico se um boato espalha a ideia de uma data provável do fim. Alguém deveria ter chamado o presidente do IPEA para explicar o que falhou na pesquisa que aponta a não dependência dos beneficiários em relação ao programa. Contudo, a minha agonia, não existe outra palavra mais apropriada, diz respeito aos fracassos todos de nossa sociedade, como podemos criar um arranjo no qual o Bolsa família é algo tão fundamental para tantos? Como uma população que é desrespeitada em todas as horas de todos os dias nos seus direitos mais elementares pode correr para a caixa por causa de um boato em relação ao fim de um beneficio de no máximo R$ 200,00 mensais? Essa mesma população que é humilhada nos postos de saúde, hospitais, nas salas de aula para seus filhos, no transporte público, na forma desigual e assimétrica das previdências privadas e públicas, nos privilégios dos de toga, dos políticos e dos funcionários públicos??? Como entender o desatino de um mundo com poderes de barganha tão assimetricamente covardes, onde a indignação só aparece na forma de boato em torno de uma assistência insignificantemente mínima? Não tenho mais dúvidas, criamos uma armadilha de desigualdades insuportável e uma casta inferior pronta para atender aos desejos de políticos e partidos que estão no poder, o irônico, é que os nossos intelectuais e líderes vangloriam-se de tamanha façanha...uma triste página onde constatamos o nosso profundo fracasso como sociedade e arranjo institucional.

12 maio 2013

a ilha sem saídas reais

visitamos a ilha dos marinheiros com um objetivo definido, entrevistar o maior número possível de moradores para uma reportagem sobre políticas sociais, programa de transferência de rendas e linhas de pobreza, aspectos de justiça distributiva, qualidade de vida e bem-estar social e uma tentativa honesta, nem sempre exitosa, de calçar o sapato dos ilhéus e tentar olhar o mundo da perspectiva deles... a chegada deu-se, como sempre ocorre comigo, sob um clima misto de sensações e emoções  algo na linha aventura pela descoberta, responsabilidades compartilhada e receio de que algo saia da linha, em todos os casos, envolvimento.
a primeira observação geral, casas em ruas paralelas em linha reta sem nenhum calçamento ou   infra-estrutura, todas de madeira e vulneráveis ao frio, a chuva e ao poderoso rio Guaíba,  mas "a água é boa" , segundo as palavras de um morador que me protegeu de um cavalo de carregar papeis que parecia querer participar da pesquisa pois bastava eu começar a entrevista e ele se aproximava olhando de esguelha, mas com uma cara de gente boa...
entrevistei poucos, no beco 17, a linha mais dura em possibilidades humanas perdidas, no final da rua, uma senhora separava o lixo em um galpão,  mãos calosas, olhar duro e expressões fortes, sempre respondia não antecipado por um forte movimento de cabeça, alta, séria, indígena, "eu sou meio bugra"disse ela procurando os olhos com timidez, e sofrida, quase não conversamos, e ela só esboçou um sorriso quando apertamos as mãos e eu pedi desculpas por invadir o seu local de trabalho...
as perguntas que não vou reproduzir, não são suficientes, mesmo que, eventualmente, consigam dá voz a quem foi esquecido, embaixo da ponte, na ilha, quando da época da construção da ponte suspensa que leva ao sul do Estado, Pelotas e adjacências,  desde aquela época, poucos cuidados e muitos sofrimentos, aflições e uma vida em absoluta restrição sem um sorriso fácil...o que fazer quando se depara com esse mundo escondido diante de umas paisagens mais belas da tua cidade de viver? Certamente, o olhar das coisas abre o jogo das especulações  uma das entrevistadoras, jovem ainda, comentou de passagem, "as casas não são iguais e algumas são muito ajeitadas e a renda familiar é maior, mesmo assim..." respondi meio surpreso e sem convicções profundas, li em algum lugar que as capacitações do Sen são indivíduos especificas e, por isso, devemos entrevistar indivíduos...
depois no ônibus de volta, comecei a pensar sobre toda a manhã,  chegamos às 8h30 e voltamos cinco horas depois, uma insatisfação geral  e o olhar contaminado por minha formação  sempre procurava a vida econômica da ilha, um bar, duas bodegas e dois centros de coleta seletiva de lixo, um público e um privado, nada mais...sempre achamos que temos as soluções e tentamos atender os indivíduos,  mas, nesse caso, fiquei o tempo todo com a sensação de que a abordagem centrada no bolsa família e no orçamento participativo, ambos citados pela líder comunitária que nos recebeu, eramos 17, entre alunos e três professores, foi e é um grande equivoco porque ela não propicia uma vida econômica livre, independente e exitosa para os que por lá vivem, mesmo não tendo a minima ideia do que fazer, a impressão da manhã de sábado na ilha, cada cena, gesto e paisagem fazem parte da minha experiência e da minha, nossa, eterna limitação na abordagem das pessoas e de seus graves problemas, somos muito limitados e estreitos no desenho de políticas sociais, estamos errando o pior erro e caminhando para  o lugar nenhum, deixamos a ilha, mais uma, abandonada e sem saídas reais...

07 maio 2013

OMC, a cadeira tardia

muitos comentários sobre a conquista de uma cadeira de líder da OMC por um jovem diplomata brasileiro, em termos, o Patriota destaca a vitória dos emergentes, uma professora da FGV -SP fala em renovação e ressurgimento via ampliação do espaço decisório e da geografia decisória...em termos, relativizo tudo, afinal, se o grande bloco se formar no pós-crise, a omc será renovada em suas atribuições e alcance ou abrangência, até lá continuaremos sofrendo da síndrome de vira-latas que se regala com conquistas importantes, mas tardias e absolutamente datadas, no caso, mais uma nostalgia de uma conquista que nunca fizemos por onde merecer, ter ou ser, vale o mesmo ou pior para a participação no grupo permanente do conselho de segurança da onu, por isso, por essa conquista nostálgica, rompemos ou atenuamos laços com parceiros comerciais importantes e visitamos toda a Africa para explorara-la e recrudescer seu isolamento e dificuldades econômicas, uma lástima...

28 abril 2013

cartas de amor e ódio

lá na folha, o jornal velho, leio que serão lançadas, em edição comemorativa, as cartas de Graciliano Ramos e que nelas veremos um Graça mais simpático, ameno e menos taciturno, tudo para quebrar a imagem antiga de  autodepreciativo, amargo e casmurro do autor de Angustia. Livro esse, que ousei dá de presente a uma amiga porque cairia no vestibular da época em Minas, no que recebi de volta, um lacônico "já imaginei que seria essa a tua opção", em tempos, pelo livro dado, mais uma evidência da minha auto-angustia. Algo como saber a cura para asma sem saber respirar. Nada nessas cartas do autor de São Bernardo deveria servir de base para nada, 125 cartas, um pouco mais, um pouco menos, selecionadas a dedo para comprovar ou negar uma tese, é pouco, é quase uma má fé, não é sério ou informativo em algum sentido válido. No entanto, pomos nossas fichas, de leituras e crenças, nessas constatações de especialistas, nessas esperanças vãs, não ousamos usar o cérebro que pensa e que é lento e grande consumidor de energias, nos enganamos com as evidências nenhuma, na esperança de não sermos como o Graça, casmurros de tanto pensar, exaustos e esquálidos e de eterno mal humor por nada entender ou saber, mentem todas as estúpidas cartas de amor, diria o Pessoa, mentem mais ainda se são poucas e escolhidas ao doce sabor das intenções. Verdades nenhuma escondem, apenas, talvez, inconfidências que nos alegram porque são quase verdades alheias, não nossas. Infelizmente, vale o mesmo para as opiniões sobre quase tudo, desde o libertarismo inconsequente da casa sem impostos ao estatismo da minha casa minha vida, ou os juros baixos do banco do brasil, do Brasil, eu disse, enganam e mentem como todas as cartas de amor e ódio, são peças publicitárias, peças de campanha para atrair adeptos e seguidores, todas incrivelmente lenientes e inconsequentes no seu ódio à verdade, qualquer uma...

21 abril 2013

jovenismo patriota e o oportunismo acadêmico

 "Vejo a natureza como uma estrutura magnífica que podemos compreender apenas imperfeitamente e que deveria inspirar em qualquer pessoa com capacidade de reflexão um sentimento de humildade" (Einstein, lá na coluna do Gleiser da fsp) 

o epigrafe fala por si mesmo, mas lembrei, ou melhor, ele, o epigrafe, me fez lembrar da controvérsia da semana, o erro no uso da base de dados e na aplicação das fórmulas do excel e, por consequência, nas estimativas econométricas da correlação entre crescimento e dívida pública e do suposto ponto de inflexão, na casa dos 90% do PIB, quando toda a maionese desandaria, Rinhart & Rogof, (veja um bom resumo aqui), versus os estudantes de doutorado Herdon, Ash e Polin, que perceberam o erro na condução dos cálculos. Sem entrar em detalhes, assustou-me as reações, que se seguiram ao episódio,  na minha TL, lógico, dois caminhos clássicos e, ambos, equivocados, completamente equivocados:
  1. não precisamos da econometria de Harvard(sic) e da estatística sofisticada, muito menos precisamos de evidências ou de algoritmos para analisar uma massa de dados gigantesca e  microdados do censo, podemos, nós os estupendos alunos de doutorado, chegar a conclusões ainda mais inteligentes, usando apenas excel e matemática elementar...(essa é minha leitura de um meme que circulou nas redes sociais, que, infelizmente, não consigo transpor para cá). Não preciso explicar o equivoco ignorante que essa forma de reação inspira, uma mistura de achismo com ideologia radical, nada mais, aliás,  isso é treva.
  2. a outra reação é a ainda mais estapafúrdia,  como os autores do erro defendiam austeridade fiscal para combater a crise do euro e eles estão errados nos cálculos do seu famoso artigo, logo, podemos concluir, apressam-se os mesmos do item anterior, que a hipótese de usar austeridade como combate a crise foi, e está, completamente refutada, e, por conseguinte, a teoria oposta, que defende políticas pró-cíclicas de estilo keynesiana de multiplicador elementar e linear, está correta e deve ser seguida como deseja toda a heterodoxia global. 

non sequitur clássico esses dois raciocínios são a fina flor da sandice ou da má fé e levaram analistas importantes e até alguns laureados a perderem o meu respeito e admiração, temos aqui, alinhados, oportunismo e cinismos combinados ao `jovenismo`essa tríade  explica a patotada, ou patriotada da semana, (expressão que, no caso brasileiro, assume ares de irresponsabilidade democrática), em cima de um erro assumido pelos próprios autores.

14 abril 2013

O cachorro sem dono...

o aeromóvel chegou, sim, Porto Alegre terá um, melhor, terá dois, o primeiro lá está, trinta anos e nunca saiu do lugar, esse novo, sairá, servirá para atravessar duas pistas largas do aeroporto até a estação do metrô de superfície, um ridículo a mais, uma sem sabedoria sem fim, uma paisagem de ficção no meio do Salgado Filho, o aeroporto. Atende ao projeto de maquiagem da cidade para a copa, um muro a mais de desatinos a revelar as opções que fazemos em nome da Copa do mundo de futebol e do bolsa família, algo sui generis, somos a classe C que ainda observa extasiados a aviões pousando e decolando e que ainda caminhamos nos parques povoados de cachorros sem donos que fazem suas necessidades nos nossos pés, mas temos o aeromóvel, a classe c e o bolsa família, 900 metros, um pouco mais, a distância que a peça irá transpor para levar os turistas e os jornalistas, a mesma distância que precorro, ou tenho que percorrer, para pegar um ônibus de linha ás seis da manhã, um pouco mais, um pouco menos, poucos dias ou vezes, é verdade, vou por uma rua quase deserta, pelo meio da rua, para evitar ou tentar evitar os cachorros sem donos, na minha fantasia de medo, lobos e matilhas com um ou dois alfas a perseguir seres magros e de olhos verdes, todos lobos, dentes de lobo no meu destino, sem donos, os cachorros gastam os impostos em aeromóveis, mesmo sabendo que os cachorros vagueiam pela cidade a cata de trabalhadores da educação pública, de qualidade e gratuita só no jargão clichê dos intelectuais do b, porque, a julgar pelos ônibus lentos e que percorrem muitos quilômetros antes de chegar a santa casa, somos os verdadeiros  cães sem dono, mas a cidade orgulha-se de ter um aeromóvel, o bolsa família e a classe c, todos educados e muito politizados...

09 abril 2013

os senhores dos anéis, os outros...

Hoje fomos surpreendidos com a noticia da comitiva de economistas que fez visita, a convite, à nossa presidenta, o ex-ministro Delfim Neto, o ex-presidente do Palmeiras, Beluzzo e o ex-secretário da Fazenda do Governador Mario Covas, Nakano. A minha primeira reação foi de tristeza e agonia, o tema a ser tratado era inflação no Governo do PT e da Dilma, bem, qualquer analise equilibrada e honesta da história recente do país apontaria a irresponsabilidade e a temeridade de convidar esses três senhores para qualquer conversa sobre esse e outros temas econômicos, principalmente se o convite parte de alguém que precisa tomar decisões e precisa de conselhos válidos. Contudo, depois, mais resignado e cansado, passei a reconhecer a importância da visita histórica, a retórica dos três, melhor, dois dois primeiros, é capaz de convencer qualquer um de que estamos no melhor dos mundos e de que temos que aprofundar o corte de juros, o incentivo ao crédito  e à demanda interna e que os gastos públicos crescentes devem liderar a retomada dos investimentos para a reeleição já em primeiro turno. A Hidrobrás é apenas o começo de uma quebra de paradigmas pró e re-estatizante, afinal, o mundo precisa de um capitalismo brasileiro de Estado para voltar a crescer, segundo esses grandes economistas de inestimáveis serviços prestados ao país. Imagino as gargalhadas e as piadas em relação aos economistas que pensam diferente e as, impagáveis, intervenções do ministro da Fazenda, uma inteligência vital e fundamental para o novo desenvolvimentismo que vai mudar a vida da classe média, da classe C e dos que abandonaram  a estupenda linha de pobreza na casa dos R$ 70,00. Quanta felicidade num encontro só, quanta sagacidade orgânica e citações eloquentes, duas ou três frases espirituosas do e sobre Keynes, uma breve, mas também eloquente alusão a novíssima biografia de Marx e uma recomendação para ler também a biografia do Chávez,  tudo entre canapés, tapetes vermelhos, só os pés descalços da anfitriã, bolorentos e sobre a mesa de tampo de vidro transparente, destoavam do tom erudito do encontro dos  sábios da República velha. Amanhã acordaremos mais ricos, menos vulneráveis e solenemente felizes, caminharemos para a glória do povo incluído e ungido pelos melhores ventos da suprema sabedoria nostálgica e de rapinas. Afinal é um luxo podermos contar com um conselho de notáveis tão expressivo e articulado, uma glória.  

17 março 2013

coalizão de resultados

"Não acredito que seja possível esse país ser dirigido sem essa visão de compartilhamento e de coalizão."(presidente Dilma, aqui) este parecia ser um sinal inequívoco de amadurecimento político, o partido da presidente, que sempre criticou as alianças da oposição, finalmente assumiria, publicamente, que estava errado o tempo todo e  que a avaliação geral de que seria possível governar sem alianças importantes com partidos de centro-direita e centro-esquerda era, portanto, apenas um discurso juvenil, adolescente e irresponsável. 
Contudo, nem isso podemos comemorar, passados dez anos no poder, as expectativas de mudanças e do novo na pratica politica brasileira foram completamente frustradas com mais esse ato, ministros inexpressivos, pastas esvaziadas e uma posse sem discursos, não há ilusão aqui,  alem de um projeto desenvolvimentista do século passado para o país, que tem um caráter nítido de retrocesso e de estagnação econômica e de desprezo por virtudes econômicas importantes, o partido da presidente reproduz as mesmas praticas fisiológicas de troca de favores e de usar o espaço e os imensos recursos e poder econômicos da governabilidade apenas para sustentar e manter um projeto de poder, nada mais, sem glórias e sem pudores, uma vergonha. Uma descrição objetiva e inteligente dessa estratégia foi apresentada pelo Josias de Souza, em seu blog para folha,  porém, no final do seu raciocino, tudo parece se justificar pelo passado dos opositores o que acaba revelando mais um sintoma de nossa atual apatia política, um certo acomodamento e paciência da imprensa com os equívocos do planalto, muitos...

02 março 2013

efeito psicológico

a expressão do título é uma especie de jargão de ocasião do tipo que nada diz, tudo esconde. O uso mais recente desse clichê de botequim, foi cometido pelo articulista do jornal folha de São Paulo ao discorrer sobre os efeitos danosos do baixo crescimento da economia em 2012 e ao comentar a suposta afirmação dos assessores da presidência  "tem,[o baixo crescimento de 0,9%] segundo assessores presidenciais, "efeito psicológico" negativo para as expectativas, além de dar munição à oposição."(aqui). O equivoco do articulista é a alusão a expectativas movidas por efeitos psicológicos positivos ou negativos, aliás, nem mesmo análises sob incertezas são movidas por tais efeitos, ao olhar para o futuro não o fazemos movidos por achaques da psique ou coisas desse teor,  agentes racionais ou quase, olham para o enredo e tecem previsões e expectativas a partir de coisas reais, não é o desempenho do PIB em si que derruba expectativas, mas sim, a constatação real de que a politica econômica e os discursos, decisões e opções tomadas pelos lideres do governo ai incluso a líder máxima forjada pelo presidente anterior, não inspiram confiança de que caminhamos para um arranjo de negócios, confiável, acreditável, crível e factível para retornos e sucessos...o resultado do PIB apenas confirma o que já antecipávamos em expectativas, baixas expectativas que mudam sim o comportamento estratégico dos agentes econômicos em relação à correr riscos e investir no presente. O conserto desse nó só ocorrerá se o governo trocar o discurso e toda a equipe econômica, mesmo que o articulista da folha jamais entenda o que se passa...

01 março 2013

teorema comum da não existência

a analise mais comum, hoje em dia, afirma que não temos oposição, essa acusação ou constatação é estranha, porque ela, sistematicamente, destrói a oposição  e, como é de se supor, fortalece a situação  Temos uma paradoxa, a autocentralidade do circulo vicioso, uma critica que não existe esvazia a critica que existe, ou o contrário, preso nessa árdua quadra, os denunciadores dos erros do governo são eclipsados, pois são a oposição, e, em todo caso, não existem. Nesse cenário,  o resultado da próxima eleição está definido, nenhuma novidade, a reeleição é o mais provável e isso não implica algo significativo em qualquer sentido de valores humanos importantes, essa previsão é apenas um desdobramento lógico das armadilhas postas, um circulo que se fecha. Os grandes equívocos que estão sendo cometidos na condução da politica econômica e social não serão capazes de gerar um desastre econômico visível no curto prazo e que torne viável uma alternativa ao atual projeto de poder. Ao que resta, cabe apontar os equívocos e as mudanças necessárias...

20 fevereiro 2013

o verdadeiro discurso da página virada

em discurso para o público cativo, a presidente Dilma disse que a miséria no Brasil é página virada...sinceramente, com todos os predicados das ressalvas e com a mínima condescendência ao palanque e ao discurso de políticos voltados para o poder, vocacionados para a gana de mais poder, não consigo, com todas as vênias,  aceitar tamanha ignorância e tamanho descaso para com as gentes e para com a noção mais elementar da verdade e justiça  O discurso correto deveria percorrer uma linha mais honesta e sincera e  assumir uma vulnerabilidade que todos já sabemos: "senhoras e senhores, hoje o Estado brasileiro vem a público assumir a sua total incapacidade para combater a pobreza e para aliviar a dor da miséria absoluta, fracassamos, nossas políticas de transferência de renda, além de inócuas, apagaram a indignação  calaram a voz dos articulistas e conformaram os intelectuais que agora só olham para o controle da imprensa, a nova bandeira da vanguarda. Nos últimos dez anos abafamos a oposição e conseguimos doutrinar os jovens, sem voz, sem a boa luta, os pobres, os agraciados por nossa parca assistência,  são humilhados nos hospitais, nos postos de saúde  seus filhos são enganados em escolas públicas sem vida ou qualidade, seus pais vão para o trabalho em ônibus superlotados e velhos, moram em casas de taipa e sem teto, em ruas de esgotos e lama, usurpados nos direitos mais elementares, mas já não existem nem mesmo como estatísticas, estão agora  acima da linha de pobreza de renda, obsequiosos, geram as nossas glórias nos jornais, nas urnas, na imprensa internacional e nos centros de pesquisa da pós graduação no Brasil . Subjugados, os pobres e miseráveis,  já não existem, são página virada..."

15 fevereiro 2013

João Godoy

a economia do sambódromo já merece uma analise qualquer, seja para mostrar que há um estado paralelo e que tudo funciona de forma estranha, uma vila apertada de casebres no corredor mínimo de acesso, uma falta completa de estrutura, seguranças estranhos, com vestimentas também estranhas, lembram policiais de outro pais, banheiros que não funcionam. "Água só no Ceará" gritava o chefe da limpeza na porta do banheiro do setor dois, um mal cheiro insuportável, sem papel, sem detergente e sem água, apenas uma imensa luva verde na mão direita do benfeitor. No estacionamento em frente carros de marcas e tamanhos que mais lembravam a chegada de comitivas de presidentes de país muito rico, um contraste estranho, na passarela do samba, algo semelhante, carros de limpeza motorizados limpam a pista do samba, mas nos degraus das arquibancadas e da passarela da vida real que dá acesso a avenida ou ao metrô  uma sujeira sem fim que lembra um lugar abandonado e sem vida, mesmo sabendo que diariamente por lá, pela passarela real, passam milhares daqueles habitantes da vila vizinha, a maioria excluídos de acesso ao trabalho na famosa passarela. O autor dessa peca arquitetônica devia saber o que estava fazendo, afinal, expor o contraste é uma forma de revolta.  O engano aqui foi ter esquecido o mercado e suas propriedades e ter cometido o equivoco de entregar uma festa popular para a `liga` e seus estranhos seguranças e para um  estado corrupto e seus comparsas, e para oligopólios de marcas influentes, uma festa de tentadora exclusão. Na porta uma placa anunciava que era proibida a entrada de armas de fogo. Nesse ambiente surreal, a pergunta que mais ouvi durante as quase duas horas de espera por amigos: o senhor quer vender o ingresso? O que confirmava o que já desconfiava, não pertenço a esse mundo, assim como o João Godoy, sim fui confundido com ele no lado de fora, insistentemente.

11 janeiro 2013

notivagos retóricus

ludimila, a rainha do deboche, assina a pugna, em termos ditos, fica o que vai, mais não dispomos, porque o que soa é da memória involuntária, aquela que resgata a mancha obscura que jazia lá, no também obscuro passado, esse mesmo. Eis a marcha da memória perdida, como diz o outro ao falar sobre vate das madalenas. Em tempos bicudos como os que se apresentam, tudo se justifica em cavalar retórica frouxa, mesmo que tudo tenha causa e rima apropriadas e impublicáveis, a um só tempo, incompetentes é o que somos, senão, vejamos:
  1. baixo crescimento e todos os sons dos setenta, o setentão
  2. inflação dando o ar da desgraça
  3. corrupção, uma praga corporativa do estadão e do partidão
  4. tudo bem, isso aqui também é um chavão, um clichê sulamericano,
  5.  rasgar a constituição com o apoio dos camaradas, perfilados.
  6. antes de antes era o contrário.
  7. apagão, uma massada, como diria o bardo pessoa
  8. mensalão do dirceu, que nem de olivio, o genuíno, seria
  9. depois vem o pibão macunaímico da ludimila, uma depravada, só ela?